O mundo Sufi...


                         Mundo Sufi - Farid Ud-Din Attar



O mundo de acordo com um Sufi

Um sufi despertou certa noite e disse para si:
"O mundo me parece uma arca na qual somos colocados e onde,
fechada a tampa, nos entregamos a toda a sorte de loucuras.
Quando a morte ergue a tampa,
o que conseguiu asas alça vôo para a eternidade,
mas o que não as conquistou continua na arca, presa de mil tribulações.
Certifica-te, pois, de que o pássaro da ambição adquire asas de aspiração
e dá a teu coração e à tua razão o êxtase da alma.
Antes que se abra a tampa da arca, converte-se num pássaro do Espírito,
pronto a estender as asas."

- Farid Ud-Din Attar

Farid Ud-Din Attar
 (em: A conferência dos pássaros)

                                                    

Farid ud-Din Attar


No começo dos séculos Deus usou as montanhas como pregos para fixar a terra; depois lavou-lhe a face com as águas dos oceanos. Colocou a terra sobre o dorso de um touro; o touro sobre um peixe, e o peixe está no ar. Mas sobre o que repousa o ar? Sobre nada. Mas nada é nada, e tudo isso é nada. Admira, pois, a obra desse Rei, ainda que ele mesmo não a considere mais do que puro nada. Visto que existe unicamente a essência Dele, certamente não há nada fora ela. Seu trono está sobre a água, e o mundo está no ar; mas deixa água e ar, pois tudo é Deus: o Trono celeste e o mundo não são mais que um talismã. Deus é tudo, e as coisas têm somente um valor nominal. Saiba que o mundo visível e o mundo invisível são Ele mesmo. Não há nada além Dele, e o que é, é Ele. Porém, ai! Ninguém tem a possibilidade de vê-Lo. Os olhos são cegos, ainda que o mundo esteja iluminado por um sol brilhante. Se chegas a percebê-lo, perdes o juízo; se o vires completamente, perdes a ti mesmo. Coisa admirável !


  Anedota de um contemplativo 

                                                            Farid Ud-din Att ar

Um louco, um idiota de Deus, andava nu quando outros homens andavam vestidos. E ele pediu:
“Ó Deus, dai-me um belo traje, e ficarei contente como os outros homens”.
Respondeu-lhe uma voz vinda do mundo invisível:
“Dei-te um sol quente; senta-te e deleita-te nele”.
“Por que me castigas?”, volveu o louco. “Uma roupa melhor não seria preferível ao sol?”
Tornou a voz:
“Espera dez dias com paciência, que, logo depois, te darei outra vestimenta”.
O sol crestou-o durante oito dias; findo esse período, apareceu um pobre e deu-lhe uma roupa que tinha um milhar de remendos. 
O louco disse a Deus:
“Ó vós, que tendes conhecimento das coisas ocultas, por que me destes esta vestimenta remendada? Queimastes, acaso, todas as vossas vestes e precisastes remendar esta velha? Costurastes, um ao outro, um milhar de trajes. Com quem aprendestes tal arte?”
Não é fácil ter tratos com a corte de Deus. O homem precisa tornar-se como o pó da estrada para chegar até lá. Depois de longa luta, imagina ter atingido a meta, quando, na verdade, ainda está longe dela.

Reflexão




A LUA E O SOL

Disse um dia a lua: "Por amor ao sol, inundarei o mundo de luz".
Responderam-lhe: "Se és sincera, haverás de evoluir noite e dia,
Até que estejas em conjunção com ele; então, perder-te-ás nele e te farás invisível.
Te consumirás no ardor de seus raios e te humilharás diante de sua elevação;
Logo, saindo de seus raios, tua beleza maravilhará as criaturas; com o olhar fixo em teu rosto, indicar-te-ão com o dedo".
Qual é, então, esse mistério? A lua, após perder-se no sol, reaparece fora de seus raios;
Errante aceita a aniquilação, despreocupada de si mesma, se oferece à vista do globo terrestre, que sempre se apega a seu próprio Eu.
Tem se consumido para o sol, tem encontrado o amado após a separação.
A lua cheia da décima quarta noite, apesar de todo o seu esplendor, não se compara ao menor dos crentes.
A lua cheia ostenta a sua beleza, e como é vaidosa, ninguém a busca.
Mas quando, na fase crescente, a lua está bem fina, todos põem-se a buscá-la, com um sorriso nos lábios.
Permanecer aprisionado ao próprio Eu é perpetuar a própria desgraça.
 
(Farid ud-Din Attar, O Livro Divino)

O amoroso Rouxinol foi o primeiro a adiantar-se, quase fora de si de paixão. Cada uma das mil notas do seu cantar extravasava emoção; e cada qual encerrava 
um mundo de segredos. Quando ele cantava esses mistérios, os pássaros silenciavam.
      "Conheço os segredos do amor", disse. "Repito a noite inteira meus cantos amorosos. Não haverá um Davi infeliz para quem eu possa cantar os salmos ansiosos 
de amor? Por minha causa emite a flauta seus meigos queixumes e o alaúde, seus lamentos. Crio um tumulto entre as rosas e no coração dos amantes. Ensino sempre mistérios 
novos e, a cada instante, repito novos cantos de tristeza. Quando o amor me subjuga o coração, meu canto é como o suspiroso mar. Quem me ouve deixa de lado a razão, 
ainda que figure entre os sábios. Quando me separo de minha querida Rosa fico desolado, deixo de cantar e não conto a ninguém meus segredos. Meus segredos não são 
conhecidos de todos; só a Rosa os conhece com certeza. Estou tão enamorado dela que não penso sequer na minha existência; pois só penso na Rosa e no coral das suas 
pétalas. A jornada em demanda do Simurgh está acima das minhas forças; o amor da Rosa basta ao Rouxinol. É para mim que ela floresce com suas cem pétalas; que mais, 
portanto, posso desejar? A Rosa que hoje se enflora está cheia de desejo e sorri para mim com alegria. Quando mostra o rosto sob o véu, sei que o mostra para mim. 
Como pode, pois, privar-se o Rouxinol, nem que seja por uma só noite, do amor de sua feiticeira?"

(Extraído do livro "A Linguagem dos Pássaros,escrito por Farid ud-Din Attar.)

 O SÁBIO DE GORGÁN E A GATA
Havia um grande sábio que vivia em Gorgán. Tinha em sua casa uma gata que o queria muito. Estava sempre junto a ele, e se não, se acocorava no tapete de oração. Ia livremente à cozinha, pois sabiam que nunca tocava em nada, contentando-se com o que lhe davam.
Pois bem, um dia ao entardecer, foi à cozinha e roubou um pedaço de carne da panela. O servo do sábio se deu conta do ocorrido e lhe bateu. A gata, magoada, colocou-se em um canto demonstrando seu descontentamento. O sábio perguntou pela gata a seu servo, que contou-lhe o que aconteceu. Então, chamou a gata e disse-lhe: "Por que fizeste isso?"
A gata foi-se e retornou por tres vezes, trazendo seus gatinhos recem nascidos. Colocou-os aos pés do sábio, e triste refugiou-se em uma árvore, abrindo os olhos bem grandes e guardando silêncio.
O sábio dirigiu-se aos que o rodeavam, dizendo-lhes:
"O delito desta gata é perdoável, pois não cometeu-o pensando em si mesma. Sua conduta não tem nada de surpreendente, pois o amor materno é algo prodigioso. Enquanto não se tem filhos, não se pode compreender essa solicitude."
Logo, disse ao servo: "Este pobre animal, privado da palavra, certamente sofreu muito. Peça-lhe perdão, e sua ira desaparecerá".
Coisa que o servo fez, mas sem êxito. O sábio, por sua vez, falou-lhe, rogando-lhe que descesse da árvore. Em seguida, a gata desceu e acocorou-se a seus pés.
"Todos os assistentes deram razão ao pobre animal e aderiram a gratidão daquele doce ser.
Ainda que tenhas laços para encher cem mundos, nunca igualar-se-ão ao de um único filho. O único acima desse apego pelo filho é Allah, o Puro, o Incomparável".
 
(Farid ud-Din Attar, O Livro Divino)

A Fênix 
A Fênix é um pássaro admirável e lindo que vive no Hindustão. Não tem 
companheiro, vive só. Seu bico, muito comprido e liso, é todo furado, como a flauta, e tem 
quase cem furos. Cada furo produz um som, e em cada som há um segredo especial. Às 
vezes, ela cria música através dos furos, e ao ouvir as  notas que ela emite, meigas e 
plangentes, pássaros e peixes se agitam e os mais ferozes animais caem em êxtase; depois, 
todos se calam. De uma feita, um filósofo visitou o pássaro e aprendeu com ele a ciência da 
música. A Fênix vive cerca de mil anos e  sabe exatamente o dia em que vai morrer. 
Chegada a hora da  morte, reúne à sua volta grande quantidade de folhas de palmeira e, 
desvairada entre as folhas, desfere gritos merencóreos. Pelos furos do bico, emite notas 
variadas, e a música lhe sai do fundo do coração. Suas lamentações expressam a tristeza da 
morte, e ela treme qual uma folha. Ao som  da sua trombeta, os pássaros e animais se 
aproximam para assistir ao espetáculo, desnorteados, e muitos morrem por lhes faltarem as 
forças. Enquanto ainda respira,  a Fênix bate as asas e eriça as penas, e, com isso, produz 
fogo. O fogo se espalha pelas copas das palmeiras, e tanto as frondes quanto o pássaro são 
reduzidos a carvões acesos e, logo, a cinzas. Mas depois que a derradeira chama tremeluz e 
se extingue, uma nova e pequena Fênix surge das cinzas. 
Nunca sucedeu a ninguém renascer após a morte? Ainda que vivesses tanto quanto a 
Fênix, morrerias quando se enchesse a medida da tua existência. Os seus mil anos de vida 
estão cheios de lamentações, e ela permanece só, sem companheiro nem filhos, e sem 
contato com ninguém. Quando chega o fim, atira as próprias cinzas ao vento, de modo que 
se possa saber que ninguém escapa da morte, seja qual for o artifício que empregar. 
Aprende, pois, com o milagre da Fênix. A morte é um tirano, mas precisamos tê-la sempre 
em mente. E, conquanto tenhamos muito que aguentar, isso é nada comparado ao morrer.

Jesus e o cântaro de água 
Jesus bebeu da água de um límpido regato, cujo gosto era mais agradável que o do 
orvalho da rosa. Um dos seus companheiros encheu um cântaro com a mesma água, e eles 
se puseram de novo a caminho. Mais adiante, sentindo sede, Jesus tomou um gole da água 
do cântaro, mas ela lhe soube mal; detendo-se, espantado, rezou: 
“Ó Deus, a água do regato e a água do cântaro são a mesma. Dizei-me por que uma é 
mais doce do que o mel e a outra é tão amarga”. 
Falando, então, disse o cântaro a Jesus: 
“Estou muito velho e já fui modelado mais de mil vezes debaixo do firmamento das 
nove cúpulas — às vezes como vaso, às vezes como cântaro, às vezes como jarro. Fosse 
qual fosse a forma que assumia, eu sempre tinha comigo o travo da morte. Sou feito de 
modo que a água que carrego compartilha sempre desse amargor”. 
Ó homem imprudente! Procura entender o sentido do cântaro. Forceja por desvendar 
o mistério antes que a vida te seja arrebatada. Se, enquanto vivo, não lograres encontrar-te, 
conhecer-te, como compreenderás o segredo da tua existência ao morrer? Participas da vida 
do homem e, no entanto, não passas de um pseudo-homem. 
Sócrates e seus discípulos 
Quando Sócrates se achava prestes a morrer, disse-lhe um dos discípulos: 
“Mestre, depois que vos tivermos lavado e amortalhado, onde desejais ser 
enterrado?’ 
Sócrates respondeu: 
“Se me encontrares, querido discípulo, enterra-me onde quiseres, e boa noite! Se em 
minha longa vida não consegui encontrar-me, como me encontrareis depois que eu estiver 
morto? Vivi de tal maneira que, neste momento, só sei que o menor dos fios de cabelo do 
conhecimento de mim mesmo não é evidente”. 








Esforce-se para descobrir o mistério
antes que a vida lhe seja tirada.
.
Se enquanto estiver vivo
você falhar em encontrar a si mesmo,
em conhecer a si mesmo,
.
como será capaz de entender o segredo de sua existência
quando tiver morrido?



Tal beleza visitou-nos esta noite,
ela fez o mundo todo ser iluminado por sua face.
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Não há necessidade de velas nem do luar,
nem da luz de Vênus nos céus esta noite.
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Em nosso encontro sua face brilha
e o sol envergonhado esconde-se esta noite.
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Tal felicidade emana desse anoitecer!
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Vênus e Júpiter estão em conjunção.
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Tamanha alegria, não há inimigos em nossa festa!
Encontrar os amigos é a recompensa hoje à noite.
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Não deixe essa bem-aventurança ser acordada
pelo cruel amanhecer,
pois estou íntimo de um amigo muito gentil esta noite.
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Ninguém pode se colocar entre você e eu agora,
pois nossa solidão está oculta pela noite.
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Trovador, toque suas músicas apaixonadas;
toque a música do louvor para os amantes esta noite.
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Toda a história está estampada pela dor de Attar;
nas doces canções dos trovadores esta noite.
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O aluno perguntou a seu mestre:
“Por que Adão foi expulso do Éden?”
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“Seu coração foi enrijecido por imagens,
uma centena de amarras que enlameiam a terra
acorrentaram Adão ao ciclo da morte após o nascimento.
Vivendo para algo diferente de Deus,
Ele ficou cego para esta equação,
e sendo assim,
foi conduzido para fora do paraíso.
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Sua alma foi amarrotada
junto com a capa de seu corpo mortal.
Adão, a mais nobre das criaturas de Deus, caiu com culpa,
como uma mariposa chamuscada pela chama de uma vela
na história que ensinou a vergonha para a humanidade.
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Como Adão não entregou seu coração ao apego a Deus,
não havia lugar para ele no paraíso,
onde o único amigo É Deus.
Adão não se curvou à Sua vontade.”


As ondas de sua brisa reavivam a respiração de Jesus;
o brilho de sua face revela a visão de Moisés.
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Vá para o jardim beber o orvalho ao amanhecer.
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A brisa dá notícias das flores ao rouxinol.
As aspirações espirituais anulam os anseios físicos.
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Deseje o Amado; rejeite o maná e os desânimos.
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Se apenas você emergisse de trás dos véus
e queimasse o manto da pretensão e desse a luz à Verdade!
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Meu coração demanda o toque dos seus cachos,
mas com o coração em cada fio de cabelo, necessito de quê?
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Sou abstinente há trinta anos,
mas irei tornar-me vendedor de vinhos
para que você reflita o seu esplendor em minha taça.
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Se meu Amado arrancasse os véus
a galeria de Mani seria maravilhosamente adornada.
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Se meu Amado erguesse os véus
você veria apenas os puros na taberna.
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Nos fossos do inferno, Attar ficaria em débito com você
se você resplandecesse a sua glória no Céu.

Como a Essência Dele permeia todo o mundo,
nada na criação é, salvo Ele apenas.
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Sobre as águas Ele fixou Seu Trono,
suspendeu esta Terra no espaço estrelado,
ainda assim o que são os mares e o que é o ar?
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Se tudo É Deus,
o céu e a terra são apenas um talismã para velar a Divindade.
Pois se o céu e a Terra não fossem permeados por Ele
seriam apenas nomes.
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Saiba, portanto, que tanto este mundo visível
quanto aquele que é invisível são o próprio Deus.
Nada é, exceto Deus:
e tudo o que é, é Deus.
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E ainda, infelizmente, por quão poucos Ele é visto,
cegos são os olhos dos homens,
embora tudo brilhe de maneira resplandecente
e o mundo seja iluminado pela luz da Divindade.
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Ó Você, a quem os homens não percebem,
embora dignifique-se a tornar-se deles conhecido;
Você é toda Criação,
a tudo contemplamos, exceto Você.
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A alma dentro do corpo fica escondida,
E Você oculta a Si mesmo dentro da alma,
Ó alma na alma!
Mistério que se esconde no mistério!
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Antes de tudo Você era e é mais do que tudo!
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Enquanto não morrermos para nós mesmos,
e nos identificarmos com alguém ou alguma coisa,
jamais seremos livres.
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O caminho espiritual
não é para aqueles enredados na vida exterior.
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Esforce-se para descobrir o mistério
antes que a vida lhe seja tirada.
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Se enquanto estiver vivo
você falhar em encontrar a si mesmo,
em conhecer a si mesmo,
.
como será capaz de entender o segredo de sua existência
quando tiver morrido?





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O mundo inteiro é um mercado para o Amor,
nada que exista permanece remoto do amor.
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A Sabedoria Eterna fez todas as coisas no Amor.
Do amor todas elas dependem,
ao Amor todas retornam.
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A terra, o céu, o sol, a lua, as estrelas –
o centro de suas órbitas encontra-se no Amor.
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Pelo amor todos estão perplexos,
estupefatos, intoxicados pelo vinho do amor.
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De cada um, o amor exige um silêncio místico.
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O que todos procuram mais sinceramente?
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É o amor.
Amor é o assunto de seus pensamentos mais íntimos.
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Já não existe 'você' e 'eu' no amor,
pois o ser morreu no Amado.
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Agora tirarei o véu do Amor
e no Templo interno de minha alma:
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Eis o Amigo, o Amor incomparável.
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Quem descobrir o segredo dos dois mundos
saberá que o segredo de ambos é o amor.
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Hatim al-Asamm disse:
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"Escolhi quatro coisas para saber
e descartei todas as outras coisas do conhecimento.
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A primeira é a seguinte:
Eu sei que meu pão de cada dia é dado a mim
e não será aumentado nem diminuído,
dessa forma eu parei de tentar aumentá-lo.
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A segunda é:
eu sei que tenho com Deus uma dívida
que ninguém mais pode pagar por mim,
assim, estou ocupado em pagá-la.
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A terceira:
eu sei que há alguém me perseguindo
.
- a morte –
.
da qual não posso escapar,
assim, tenho me preparado para encontrá-la.
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E a quarta:
eu sei que Deus está me observando,
por isso tenho vergonha de fazer o que eu não deveria".
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Estamos ocupados com a luxúria das coisas.
Seu grande número e suas múltiplas faces trazem-nos
a confusão a que chamamos conhecimento.
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Diga: Deus criou o mundo, ligou a noite ao dia,
fez as montanhas para dar-lhe peso,
os mares para lavar sua face,
as criaturas vivas com apelos
ansiando por um lugar neste mistério
que flutua no espaço infinito.
.
Deus colocou a Terra no lombo de um touro,
O touro sobre um peixe
dançando em um feixe de luz prateada
tão fino quanto o ar; o qual, por sua vez repousa sobre nada,
sem nada que o nada possa compartilhar.
.
Todas as coisas são apenas máscaras
nos sinais e chamados de Deus,
são símbolos que nos ensinam que Deus é tudo.






















Nós os Filhos da Terra







A terra de nosso supremo lar
É uma terra de flores sem espinhos:
Não se permitem ali as atras florestas do medo
Nem se semeia jamais a Dor.

O riacho do amor corre ali sem cessar,
A criação é um deslumbramento
E visões celestiais consolam a terra
Enquanto torrentes imemoriais alegram os olhos.

Ali toda oração é auto-suficiente,
Ninguém regateia dádivas,
A vida é feita de verdade,
E desconhece a máscara da ilusão.

Proscrito está o egoísmo,
E vedados os pensamentos personalizados,
Senhor algum governa, servo algum obedece,
Sombra alguma empana a Divina Luz.

Não é um arroubo poético
Esse mundo de amor e êxtase
Que, no fundo de cada coração,
Espera apenas ser descoberto.

Poema sufi - Dilip Kumar Roy - Peregrinos das estrelas







                                             Nós, os filhos da Terra 

 

Nós, os filhos da Terra, 
viajantes siderais, 
herdeiros da eternidade, 
ciganos estelares,
unidos à centelha divinal em nossos corações, 
erguemos as mãos em saudações ao Supremo Alquimista, 
ao incomparável Arquiteto, 
ao insuperável Poeta, 
repousando nossa mente meditativa em Ti. 

Celebramos a existência sem limitações, 
cantamos a alegria transbordante que nos contagia.
Louvamos o silêncio e a palavra,
respeitamos a ordem cósmica e a lei planetária, 
e pleiteamos nosso lugar no concerto das galáxias. 

O Bem representa nossa nutrição diária, 
o mal é apenas passageiro. 
O Amor terrestre é nosso precioso tesouro; 
a guerra é apenas temporária. 

Em nós coexistem o lobo e o cordeiro, 
Brahma e Shiva, 
a força e a renúncia. 

Somos um amálgama obtruso e excelso,
reflexos de um mistério inescrutável.

Nossos olhos cintilam como um raio 
ou expressam ternura e devoção. 
Terrestres momentâneos, 
dirigimo-nos a Ti, 
agradecendo por nossa respiração,
nossos filhos, 
nosso alimento 
e espaço vital. 

Somos peregrinos errantes a vagar pelo tempo, 
mas nossa jornada solitária conduz a Ti,
Presença distante a velar por todos nós. 

 texto hindu: Os mestres da Terra 
 Sérgio de Souza Carvalho


A Terra é um minúsculo ponto, 
distante 6.4 bilhões de quilômetros, 
no meio de um raio solar,
 circulado em azul.



Olhem de novo para esse ponto. Isso é a nossa casa, isso somos nós. Nele, todos a quem ama, todos a quem conhece, qualquer um dos que escutamos falar, cada ser humano que existiu, viveu a sua vida aqui. O agregado da nossa alegria e nosso sofrimento, milhares de religiões autênticas, ideologias e doutrinas econômicas, cada caçador e colheitador, cada herói e covarde, cada criador e destruidor de civilização, cada rei e camponês, cada casal de namorados, cada mãe e pai, criança cheia de esperança, inventor e explorador, cada mestre de ética, cada político corrupto, cada superestrela, cada líder supremo, cada santo e pecador na história da nossa espécie viveu aí, num grão de pó suspenso num raio de sol.
A Terra é um cenário muito pequeno numa vasta arena cósmica. Pensai nos rios de sangue derramados por todos aqueles generais e imperadores, para que, na sua glória e triunfo, vieram eles ser amos momentâneos duma fração desse ponto. Pensai nas crueldades sem fim infligidas pelos moradores dum canto deste pixel aos quase indistinguíveis moradores dalgum outro canto, quão frequentes as suas incompreensões, quão ávidos de se matar uns aos outros, quão veementes os seus ódios.
As nossas exageradas atitudes, a nossa suposta auto-importância, a ilusão de termos qualquer posição de privilégio no Universo, são reptadas por este pontinho de luz frouxa. O nosso planeta é um grão solitário na grande e envolvente escuridão cósmica. Na nossa obscuridade, em toda esta vastidão, não há indícios de que vá chegar ajuda de algures para nos salvar de nós próprios.
A Terra é o único mundo conhecido, até hoje, que alberga a vida. Não há mais algum, pelo menos no próximo futuro, onde a nossa espécie puder emigrar. Visitar, pôde. Assentar-se, ainda não. Gostarmos ou não, por enquanto, a Terra é onde temos de ficar.
Tem-se falado da astronomia como uma experiência criadora de firmeza e humildade. Não há, talvez, melhor demonstração das tolas e vãs soberbas humanas do que esta distante imagem do nosso miúdo mundo. Para mim, acentua a nossa responsabilidade para nos portar mais amavelmente uns para com os outros, e para protegermos e acarinharmos o ponto azul pálido, o único lar que tenhamos conhecido.







Carl Sagan


A Viagem do Sonho - Jalaludin Rumi


Jalaludin Rumi - A viagem do sonho

 

A viagem do sonho

Com a oração da noite,
quando o sol declina e se esconde,
fecha-se a via dos sentidos
e abre-se o caminho ao não-visto.

O anjo do sono conduz então os espíritos
como o pastor o seu rebanho.
Para além do espaço, em pradarias transcendentes,
que cidades, que jardins ele nos mostra!

Quando o sono nos rouba a imagem do mundo,
o espírito contempla mil formas e maravilhas.
É como se habitasse desde sempre essas paragens,
já não recorda a vida na terra,
nem sente casaço ou tristeza.

O coração liberta-se por inteiro
do peso do mundo, de toda opressão,
e já nem percebe os cuidados que lhe sao dedicados

(Jalal ud-Din RUMI.
 Tradução: José Jorge de Carvalho -
Poemas místicos: Divan de Shams de Tabriz.
 Editora Attar)



Leituras 1 - Masnavi - Jalaludin Rumi

Leituras que gostaria de compartilhar e deixar guardado em uma estante online!
Espero que gostem.

Nº1 - Masnavi - Jalaludin Rumi


Este livro extraordinário, que tem sido chamado "o Alcorão em persa”, é um dos mais importantes textos fundadores da Tradição Sufi.
O estudo deste livro revela a altura que o ser humano pode alcançar em sua busca por um lugar no Grande Desenho do Universo.
A cada leitura, camadas mais e mais profundas de significação tornam-se manifestas, e mais o buscador é encorajado a desenvolver níveis de compreensão ainda mais profundos.
Recomendo o estudo deste livro para todos aqueles cujos sentimentos os dirigem para o caminho do desenvolvimento moral e espiritual.
Deve ser lido com atenção e disciplina.



Sayed Omar Naqshband


 Masnavi em formato do Word em Português-Brasil, o arquivo está compactado, e conta com os seis volumes, ou seja, o livro completo:

Rumi - Masnavi