As Duas Jóias
Narra antiga lenda árabe, que um rabino, religioso dedicado, vivia muito feliz com sua família, esposa admirável e dois filhos queridos. Certa vez, por imperativos da religião, o rabino empreendeu longa viagem, ausentando-se do lar por vários dias. No período em que estava ausente, um grave acidente provocou a morte dos dois filhos amados. A mãe sentiu o coração dilacerado de dor. No entanto, por ser uma mulher forte, sustentada pela fé e pela confiança em Deus, suportou o choque com bravura. Mas uma preocupação lhe vinha a mente: como dar ao esposo a triste notícia ? Sabendo que ele tinha o coração fraco, temia que não suportasse tamanha comoção. Lembrou-se de fazer uma prece. Rogou a Deus auxílio para resolver a difícil questão. Alguns dias depois, num final de tarde, o rabino retornou ao lar. Abraçou longamente a esposa e perguntou pelos filhos... Ela pediu para que não se preocupasse. Que tomasse o seu banho, e logo depois ela lhe falaria dos moços. Alguns minutos depois estavam ambos sentados a mesa. Ela lhe perguntou sobre a viagem, e logo ele perguntou novamente pelos filhos. A esposa, numa atitude um tanto embaraçada, respondeu ao marido: - Deixe os filhos. Primeiro quero que me ajude a resolver um problema que considero grave. O marido, já um pouco preocupado perguntou: - O que aconteceu ? Notei você abatida ! Fale e resolveremos isso juntos, com a ajuda de Deus. - Enquanto você esteve ausente, um amigo nosso visitou-me e deixou duas jóias de valor incalculável, para que as guardasse. São jóias muito preciosas. Jamais vi algo tão belo e o problema é esse. Ele vem buscá-las e eu não estou disposta a devolvê-las, pois já me afeiçoei a elas. O que você me diz ? - Ora mulher! Não estou entendendo o seu comportamento. Você nunca cultivou vaidades. Por que isso agora ? - É que nunca havia visto jóias assim! São maravilhosas! - Podem até ser, mas não lhe pertencem. Terá que devolvê-las. - Mas eu não consigo aceitar a idéia de perdê-las! E o rabino respondeu com firmeza: Ninguém perde o que não possui. Retê-las equivaleria a roubo. - Vamos devolvê-las, eu a ajudarei. Faremos isso juntos, hoje mesmo. - Pois bem, meu querido, seja feita a sua vontade. O tesouro será devolvido. Na verdade isso já foi feito. As jóias preciosas eram nossos filhos. - Deus os confiou a nossa guarda, e durante a sua viagem veio buscá-los. Eles se foram... O rabino compreendeu a mensagem. Abraçou a esposa, e juntos derramaram muitas lágrimas. http://auxilioemocional.blogspot.com.br/ Flor de Lótus
Do livro-Lendas do Celeste Império-Chiang Sing:
Tudo começou porque o imperador Wu Ti, da Dinastia Han,
que não conhecia a geografia dos outros países, ou mesmo da própria China, mandou que seu ministro de relações exteriores viajasse por todo o Celeste Império, até encontrar o berço do Rio Amarelo. E foi assim que o ministro Chang Ch’ien embarcou num veleiro de sândalo e velas de seda, e saiu viajando de norte a sul, procurando satisfazer a curiosidade do seu soberano. E o ministro viajou durante quinze anos. Visitou muitos países, e trouxe inúmeras preciosidades que ninguém conhecia na China. Nestas andanças foi capturado pelos hunos, uma tribo bárbara que vivia no norte da China, e somente três anos depois conseguiu fugir da prisão. Com a ajuda dos deuses, conseguiu outro barco, não tão bonito como o outro, mas sólido e firme. Os camponeses, que reconheceram nele o enviado do rei, encheram-lhe o barco de arroz, de soja e frutas secas. E o ministro Chang continuou viajando, sem contudo encontrar a nascente do Rio Amarelo. Finalmente ele decidiu que a única coisa a fazer era viajar rumo ao noroeste. E foi subindo o rio, foi subindo, sem nada encontrar. Era um rio longo que banhava toda a China. E durante muitos meses o ministro Chang velejou, cumprindo as ordens do seu rei, enquanto meditava nas quatro nobres Verdades. O tempo rolou como o torno de um oleiro. E o Ministro pensava na sua solidão: “Sem algum tipo de amor, o homem murcha como uma uva numa videira seca”. Mas ele acreditava na união do ser humano com o Grande Todo, e esperava pacientemente encontrar a nascente do Rio Amarelo. Enquanto viajava, o Ministro continuava imerso nas suas meditações. Era uma mente brilhante, alcançando as últimas fronteiras do pensamento. Certa noite, ancorou o barco na beira do rio e adormeceu. Foi então que começou uma grande tempestade. Seu barco foi sacudido violentamente pelos ventos, e o Ministro Chang ficou sem saber o que fazer. — Cada um de nós é um instante do Eterno — murmurou ele — e se eu tiver que morrer agora, que os deuses me estendam suas mãos benditas e me levem ao Mosteiro da Radiosa Harmonia, muito além das grandes nuvens... E foi então que os ventos diminuíram e a tempestade passou completamente. Era a sétima noite do sétimo mês do ano da Serpente de Fogo. E ele pensou, “estas datas chinesas, intocadas pelo tempo, hão de permanecer, mesmo depois que se acabem todas as dinastias. Simplesmente porque elas são plenas de infinitude”... A noite acabou e veio um sol luminoso como um gongo de ouro, iluminando tudo. O Ministro Chang, era um homem forte, esguio como um bambu novo; tinha desperdiçado quarenta primaveras, mas no íntimo sentia-se muito jovem. Naquela manhã radiosa, ele esticou-se todo num gostoso espreguiçar. Depois, lentamente, começou a fazer em si mesmo a antiga massagem chinesa chamada Tui Na. Amarrou o barco numa árvore perto da margem do rio. Abriu a arca de sândalo que continha suas roupas e trocou a túnica de seda vermelha, toda molhada, por um confortável conjunto de algodão azul que comprara de um camponês na aldeia da Andorinha Migrante. Estava calçando os sapatos de lã com sola de couro de búfalo, quando ouviu uma doce voz feminina que em algum lugar ali perto cantava:
Nasci antes que nenhuma forma
corpórea se manifestasse. Do seio das nebulosas vi brotar a criação multiforme. Pensei formas que foram depois humanizadas.
Quando no início dos tempos
os deuses destruíram a ponte do arco-íris por onde os Filhos dos Imortais desciam em busca das filhas dos homens, contemplei as estrelas caírem como chuva, sobre este planeta obscuro...
Sou mais velha que o Tempo e
mais jovem que as alvoradas. Respiro o hálito de todos os mundos e sinto-me eterna como o Grande Ser, emanação suprema!
— É uma canção cósmica! — murmurou o Ministro, admirado.
— Quem será que está cantando assim? Levantou-se e foi andando pelas margens do rio. Viu pessegueiros floridos muito bonitos. Não viu nenhum animal, exceto um grande número de andorinhas, que voavam pouco acima das águas do rio. Afinal, no alto de uma colina, Chang viu um jovem pastor, apoiado num cajado de sete nós. Perto dele, pastando tranqüilamente, estava um bando de búfalos. O jovem pastor parecia alheio a tudo e olhava em direção das Cinco Montanhas Sagradas. Chang olhou também e viu uma mulher vestida com uma resplandecente túnica rosada. Diante dela havia um tear onde ela tecia fios de seda colorida. O Ministro voltou para o barco, atravessou o rio e foi andando em direção à mulher. À medida que se aproximava, viu que ela era muito jovem. Tinha um corpo elegante como um talo de um lótus e um rosto meigo e delicado, de pele fina e branca como a flor da amendoeira. Ela parecia indiferente a tudo. Enquanto fiava, com seus dedos ágeis e finos como brotos de bambu esculpidos no marfim, ela cantou brevemente com voz doce e calma:
Tristeza minha luminosa e cálida,
tristeza minha, neste dia quieto, cinturado de névoa e de pranto. Façamos versos já que tu vieste com esta doçura de cantar chorando.
E nesta alta solidão delgada,
vê como ferve o mel da primavera naquele velho caldeirão dos astros. Tenho os olhos inchados de esperança, para chorar um grande amor distante, tristeza minha luminosa e cálida, doce visitante desta hora plena, inquieta amiga dos meus jovens anos, quem te chamou aqui no meu refúgio?
Por que voltas agora, em minha vida,
como uma pomba de cristal sem rumo? Tristeza minha luminosa e cálida, tristeza minha neste dia quieto...
O Ministro Chang não conseguiu controlar seu entusiasmo!
— Conheço todas as Casas de Chá de muitas cidades chinesas,
mas não existe lá cantora nenhuma que cante como você!
A jovem o examinou, e ficou satisfeita com a agradável
aparência do Ministro Chang.
— Qual é a sua idade e o que veio fazer aqui?
— Desperdicei quarenta anos da minha vida — disse
Chang — e estou aqui em busca das nascentes do Rio Amarelo,
a mando do Imperador Wu Ti. E quantas são as suas próprias
primaveras?
— Tenho quinze anos — falou a jovem. E meu nome é Flor
de Lótus.
Ele inclinou-se profundamente numa respeitosa saudação,
e ela respondeu: “Wan Pu”, Dez Mil Felicidades.
Podia dizer-me onde estou, e onde posso encontrar a próxima
cidade? Perdi meu caminho por causa da tempestade.
Ela sorriu e respondeu:
— Se eu lhe dissesse o senhor não acreditaria, mas não
posso dizer-
lhe. Mas leve esta minha lançadeira, e volte pelo
mesmo caminho de onde veio. Os senhores do vento vão ajudá-lo
a chegar à capital da China. Quando chegar no palácio do rei,
mostre esta minha lançadeira ao astrônomo da corte. Ele é um
sábio que conhece o segredo das estrelas. Conte-
lhe exatamente
o dia e a hora em que recebeu este meu presente, e talvez ele
possa lhe explicar quem sou eu...
Muito admirado, o Ministro Chang agradeceu e fez o que
ela disse. Navegou rio abaixo, com os ventos enfunando as velas
e conduzindo o barco na direção de Pequim, muito mais depressa
do que ele esperava. Assim que chegou no palácio da Cidade
Proibida, mesmo antes de procurar o rei, foi até a Torre de Jade,
onde morava o astrônomo da corte.
Contou-lhe tudo e mostrou-lhe a lançadeira de ouro. O velho
astrônomo Lang Su, gritou excitado:
— Ah! Vossa honorável pessoa foi aquela estrela errante
que eu observei no céu, no sétimo dia do sétimo mês!
— Estrela errante? — perguntou Chang Ch’ien admirado.
Como posso eu ser uma estrela?
— Eu lhe contarei toda a história — respondeu o astrônomo
emocionado. — Alguns anos atrás, a Celeste Fiandeira, que
é a filha mais nova do Imperador do Céu, apaixonou-se por um
jovem pastor de búfalos, e era tanto o amor que sentiam um pelo
outro, que o Imperador do Céu deixou que eles se casassem.
Eles ficaram muito felizes. Mas tão felizes que esqueceram
seus deveres; o pastor deixou que os búfalos se perdessem e
a formosa Celeste Fiandeira esqueceu de tecer as maravilhosas
roupas dos deuses. O Imperador do Céu ficou tão zangado
quando soube disso, que separou os dois apaixonados. Colocou
o pastor no outro lado da Via Láctea, o grande rio que corre
pelo meio do céu. E desde então os dois esposos podiam se ver
através
do rio, mas não podiam se encontrar nunca. Exceto na
sétima noite do sétimo mês. Somente nesta noite o rei permitia
que os dois se amassem no jogo da lua e dos ventos.
— Mas como eles podem se encontrar com aquele grosso
rio entre eles? — indagou Chang Ch’ien.
— Nesta noite mágica, todas as andorinhas da China voam
para o céu, em direção do rio da Via Láctea. E com suas asas delicadas
formam uma ponte por cima do rio. Através desta ponte
alada, a jovem Flor de Lótus, a Celeste Fiandeira, vai encontrar
seu marido. É por causa disso que ninguém vê nenhuma andorinha
na terra, na sétima noite do sétimo mês.
— É verdade — concordou o Ministro, pensativo.
— Este ano, na sétima noite do sétimo mês — continuou o
com minhas lentes de cristal radiosas, para observar o encontro
do pastor e da Celeste Fiandeira, quando apareceu entre as duas
estrelas, que nós, aqui na terra, chamamos de Vega e Altair, uma
outra estrela, pequenina e brilhante. Pelo que vossa nobre e honorável
pessoa me disse, o senhor deve ter sido aquela estrela.
— Mas, se assim foi — retrucou Chang Ch’ien — então eu
estava navegando o rio da Via Láctea, e o Rio Amarelo nasce
neste rio do céu!
— Sim. — respondeu o astrônomo — Muitos sábios sempre
acreditaram que a Via Láctea flui do céu para a terra e se
transforma no Rio Amarelo, o nosso querido rio Yang Tsé. No
céu ele é claro e brilhante; na terra ele é amarelo, por causa da
terra amarela da China. Mas é o mesmo rio.
O Ministro saiu do Terraço da Lua e foi à procura do Im
perador Wu Ti, na Sala das Audiências Cristalinas. Contou ao
soberano toda a sua aventura e deu-lhe de presente a lançadeira
de ouro, como prova de que sua história era verdadeira.
O Imperador ficou maravilhado.
— Até que enfim — exclamou — encontramos a nascente
do Rio Amarelo! E agora sabemos que é impossível viajar através
dele, da Terra até o Céu.
E o Ministro, que era um filósofo, retrucou:
— Sim, Majestade. Na vida nada existe de fantástico. Tudo
o que adquire um caráter prodigioso descansa sobre uma base
concreta e perfeitamente determinada. É maravilhoso pensar
neste amor imortal de Flor de Lótus e do pastor de búfalos,
porque o amor é a mais bela fragilidade da mente... — concluiu
soltando um longo suspiro.
Do livro-Lendas do Celeste Império-Chiang Sing:
O Samurai e o Guerreiro
Perto de Tóquio vivia um grande mestre Samurai, já idoso, que se dedicava a ensinar os jovens. Corria a lenda que ainda era capaz de derrotar qualquer adversário.
Certa tarde um guerreiro conhecido por total falta de escrúpulos apareceu. Era famoso por utilizar a técnica da provocação: esperava que seu adversário fizesse o primeiro movimento e, dotado de uma inteligência privilegiada para perceber os erros cometidos, contra-atacava com velocidade fulminante. Esse jovem jamais perdera uma luta. E conhecendo a reputação do Samurai, estava ali para o derrotar e aumentar a sua fama. Apesar de muitos serem contra, o velho mestre aceitou o desafio e foi para a praça da cidade, onde o jovem começou a insultá-lo. Chutou algumas pedras em sua direção, gritou insultos e falou inverdades, ofendendo inclusive seus ancestrais. Durante horas, fez tudo para provocá-lo, mais o mestre permaneceu impassível. No final da tarde, já exausto e humilhado, o impetuoso guerreiro retirou-se desapontado pelo fato de o mestre aceitar tantos insultos e provocações. - Como o senhor pode suportar tanta indignidade? Por que não usou a espada? - Perguntaram os discípulos. -Se alguém chega até você com um presente e você não o aceita, a quem pertence o presente? – Perguntou o Samurai. -A quem tentou entregá-lo, responderam os discípulos. -O mesmo vale para a inveja, a raiva e os insultos - disse o mestre. Quando não aceitamos, continuam pertencendo a quem os carrega consigo.
( Conto oriental milenar )
Autor: Desconhecido
O gracejo de um sábio em relação a um palácio
Um rei construiu um palácio que lhe custou cem mil dinares.
Adornado por fora de torres e cúpulas douradas,
era por dentro um paraíso, gracas aos móveis e tapetes.
Concluída a construção, o rei convidou homens
de todos os países para visitá-lo.
Os convidados chegaram carregados de presentes,
e o rei os fez sentarem-se ao seu lado.
Em seguida rogou-lhes:
"Dizei o que achais do meu palácio.
Esqueceu-se, acaso,
de alguma coisa cuja falta lhe desfigua a beleza?"
Todos protestaram que nunca existira na terra
um palácio igual e que nunca se veria outro semelhante.
Isto é, todos menos um,
um sábio,
que se levantou e disse...
"Existe senhor, uma pequena rachadura
que, para mim, constitui um defeito.
Não fora esse defeito
e o próprio paraíso vos traria presentes do mundo invisível."
"Não vejo defeito nenhum",
volveu o rei, colérico.
"És um ignorante e só queres fazer-te importante."
"Não, orgulhoso rei", revidou o sábio,
"A fresta a que me refiro é a mesma
pela qual passará Azrael, o anjo da morte.
Prouvera a Deus que pudésseis fechá-la,
pois, do contrário, para que prestam o teu palácio magnífico,
a tua coroa e teu trono?
Quando a morte chegar,
eles não passarão de um punhado de pó.
Nada subsiste,
e é isso que estraga a beleza da vossa morada.
Nenhuma arte poderá tornar estável o instável.
Ah! Não deposites vossas esperanças num palácio!
Não deixeis caracolar o corcel do vosso orgulho.
Se ninguém se atreve a falar com franqueza ao rei
e lembrar-lhe suas faltas,
isso é uma grande infelicidade."
(Farid Ud-Din Attar
O Sábio e o Pássaro
Conta-se que certa vez, um homem muito maldoso resolveu pregar uma peça em um mestre, famoso por sua sabedoria.
Preparou uma armadilha infalível, como somente os maus podem conceber. Tomou de um pássaro e o segurou nas mãos, imaginando que iria até o idoso e experiente mestre, formulando-lhe a seguinte pergunta: "mestre, o passarinho que trago nas mãos está vivo ou morto?" Naturalmente, se o mestre respondesse que estava vivo, ele o esmagaria em sua mão, mostrando o pequeno cadáver. Se a resposta fosse que o pássaro estava morto, ele abriria as mãos, libertando-o e permitindo que voasse, ganhando as alturas. Qualquer que fosse a resposta, ele incorreria em erro aos olhos de todos que assistissem a cena. Assim pensou. Assim fez. Quando vários discípulos se encontravam ao redor do venerando senhor, ele se aproximou e formulou a pergunta fatal. O sábio olhou profundamente o homem em seus olhos. Parecia desejar examinar o mais escondido de sua alma, depois respondeu, calmo e seguro: "o destino desse pássaro, meu filho, está em suas mãos." A história pode nos sugerir vários aspectos. Podemos analisar a maldade humana, que não vacila em esmagar inocentes para alcançar os seus objetivos. Podemos meditar na excelência da sabedoria, que se sobrepõe a qualquer ardil dos desonestos. Mas podemos sobretudo falar a respeito da destinação humana, ainda tão mal compreendida. Normalmente, tudo se atribui a Deus, à Sua vontade: as doenças, a miséria, a ignorância, a desgraça... Ora, se Deus é de infinito amor e bondade, conforme nos revelou Jesus, como conceber que Ele seja o promotor do infortúnio? A vida nos é dada por Deus mas a qualidade de vida é fruto das ações humanas. Se o mal impera, é porque os bons se omitem, de forma tímida, permitindo o avanço acintoso daquele. A mão que liberta o homem da desgraça é a do seu semelhante, o mais próximo que se lhe situe. Assim, o destino de nossa sociedade é o somatório de nossas ações. Filhos de Deus, criados à Sua imagem e semelhança, exercitemos a vontade, moldando nossa destinação gloriosa, bem como influenciemos positivamente as vidas dos que nos cercam. Você sabia? Que é nosso dever fazer algo de bom pelo semelhante? Que para uma sociedade sadia é indispensável a solidariedade? E que solidariedade significa prestar ao semelhante todo o cuidado que gostaríamos de receber dele, caso fôssemos nós os necessitados? Equipe de Redação do Momento Reformador - 03/98 - O Sábio e o Pássaro. AMIZADE Depois de muito caminhar, esse homem se deu conta de que ele, seu cavalo e seu cão haviam morrido num acidente. Às vezes os mortos levam tempo para se dar conta de sua nova condição... A caminhada era muito longa, morro acima, o sol era forte e eles ficaram suados e com muita sede. Precisavam desesperadamente de água. Numa curva do caminho, avistaram um portão magnífico, todo de mármore, que conduzia a uma praça calçada com blocos de ouro, no centro da qual havia uma fonte de onde jorrava água cristalina. O caminhante dirigiu-se ao homem que numa guarita, guardava a entrada. - Bom dia, ele disse. - Bom dia, respondeu o homem. - Que lugar é este, tão lindo ele perguntou. - Isto aqui é o céu, foi a resposta. - Que bom que nós chegamos ao céu, estamos com muita sede, disse o homem. - O senhor pode entrar e beber água à vontade, disse o guarda, indicando-lhe a fonte. - Meu cavalo e meu cachorro também estão com sede. - Lamento muito, disse o guarda. - Aqui não se permite a entrada de animais. O homem ficou muito desapontado porque sua sede era grande. Mas ele não beberia deixando seus amigos com sede. Assim, prosseguiu seu caminho. Depois de muito caminharem morro acima, com sede e cansaço multiplicados, ele chegou a um sítio, cuja entrada era marcada por uma porteira velha semi aberta. A porteira se abria para um caminho de terra, com árvores dos dois lados que lhe faziam sombra. À sombra de uma das árvores, um homem estava deitado, cabeça coberta com um chapéu, parecia que estava dormindo. - Bom dia, disse o caminhante. - Bom dia, disse o homem. - Estamos com muita sede, eu, meu cavalo e meu cachorro. - Há uma fonte naquelas pedras, disse o homem e indicando o lugar. Podem beber a vontade. O homem, o cavalo e o cachorro foram até a fonte e mataram a sede. - Muito obrigado, ele disse ao sair. - Voltem quando quiserem, respondeu o homem. - A propósito, disse o caminhante, qual é o nome deste lugar? - Céu, respondeu o homem. - Céu ? Mas o homem na guarita ao lado do portão de mármore disse que lá era o céu! - Aquilo não é o céu, aquilo é o inferno. O caminhante ficou perplexo. - Mas então, disse ele, essa informação falsa deve causar grandes confusões. - De forma alguma, respondeu o homem. Na verdade, eles nos fazem um grande favor. Porque lá ficam aqueles que são capazes de abandonar seus melhores amigos.. . |
Árvore dos Problemas
um carpinteiro para ajudar a arrumar
algumas coisas na sua fazenda.
O primeiro dia do carpinteiro
foi bem difícil.
O pneu do seu carro furou.
A serra elétrica quebrou.
Cortou o dedo.
E ao final do dia,
o seu carro não funcionou.
O homem que contratou o carpinteiro
ofereceu uma carona para casa.
Durante o caminho,
o carpinteiro não falou nada.
Quando chegaram a sua casa,
o carpinteiro
convidou o homem para entrar
Quando os dois homens estavam se encaminhando para a porta da frente,
o carpinteiro parou
junto a uma pequena árvore
e gentilmente tocou
as pontas dos galhos com as duas mãos.
Depois de abrir a porta da sua casa,
o carpinteiro transformou-se.
e beijou a sua esposa.
Um pouco mais tarde,
o carpinteiro acompanhou
a sua visita até o carro.
Assim que eles passaram pela árvore,
o homem perguntou:
- Porque você tocou na planta
antes de entrar em casa ?
- Ah! esta é a minha
Árvore dos Problemas
- Eu sei que não posso evitar ter problemas
no meu trabalho,
mas estes problemas não devem
chegar até os meus filhos e minha esposa.
- Então, toda noite,
eu deixo os meus problemas
nesta Árvore quando chego em casa,
e os pego no dia seguinte.
- E você quer saber de uma coisa
- Toda manhã, quando eu volto
para buscar os meus problemas,
eles não são nem metade
do que eu me lembro
de ter deixado na noite anterior.
A Beleza e a feiúra
Um dia, a Beleza e a Feiura encontraram-se numa praia. E disseram uma à outra:
- Banhemo-nos no mar.
Então, tiraram as roupas e puseram-se a nadar nas águas. Após algum tempo, a Feiura voltou à praia, vestiu-se com os trajes da Beleza, e foi-se embora.
E a Beleza também voltou do mar, mas não encontrou suas roupas. Por vergonha de ficar nua, vestiu a roupa da Feiura e seguiu seu caminho.
Desde esse dia, alguns homens e mulheres enganam-se, tomando uma pela outra.
Contudo, alguns tinham visto o rosto da Beleza e a reconhecem,
apesar de suas vestes.
E alguns conhecem a face da Feiura mas as roupas da beleza não a ocultam a seus olhos..
A LENDA DO PEIXINHO VERMELHO
"No centro de formoso jardim, havia um grande lago, adornado de ladrilhos azul- turquesa.
Alimentado por diminuto canal de pedra, escoava suas águas, do outro lado, através de grade muito estreita.
Nesse reduto acolhedor, vivia toda uma comunidade de peixes, a se refestelarem, nédios e satisfeitos, em complicadas locas, frescas e sombrias. Elegeram um dos concidadãos de barbatanas para os encargos de rei, e ali viviam, plenamente despreocupados, entre a gula e a preguiça.
Junto deles, porém, havia um peixinho vermelho, menosprezado de todos.
Não conseguia pescar a mais leve larva, nem refugiar-se nos nichos barrentos. Os outros, vorazes e gordalhudos, arrebatavam para si todas as formas larvárias e ocupavam, displicentes, todos os lugares consagrados ao descanso.
O peixinho vermelho que nadasse e sofresse.
Por isso mesmo era visto, em correria constante, perseguido pela canícula ou atormentado de fome.
Não encontrando pouso no vastíssimo domicílio, o pobrezinho não dispunha de tempo para muito lazer e começou a estudar com bastante interesse.
Fez o inventário de todos os ladrilhos que enfeitavam as bordas do poço, arrolou todos os buracos nele existentes e sabia, com precisão, onde se reuniria maior massa de lama por ocasião de aguaceiros.
Depois de muito tempo, à custa de longas perquirições, encontrou a grade do escoadouro.
À frente da imprevista oportunidade de aventura benéfica, refletiu consigo:
- "Não será melhor pesquisar a vida e conhecer outros rumos?"
Optou pela mudança.
Apesar de macérrimo, pela abstenção completa de qualquer conforto, perdeu várias escamas, com grande sofrimento, a fim de atravessar a passagem estreitíssima.
Pronunciando votos renovadores, avançou, otimista, pelo rego d'água, encantado com as novas paisagens, ricas de flores e sol que o defrontavam, e seguiu, embriagado de esperança...
Em breve, alcançou grande rio e fez inúmeros conhecimentos.
Encontrou peixes de muitas famílias diferentes, que com ele simpatizaram, instruindo-o quanto aos percalços da marcha e descortinando-lhe mais fácil roteiro.
Embevecido, contemplou nas margens homens e animais, embarcações e pontes, palácios e veículos, cabanas e arvoredo.
Habituado com o pouco, vivia com extrema simplicidade, jamais perdendo a leveza e a agilidade naturais.
Conseguiu, desse modo, atingir o oceano, ébrio de novidade e sedento de estudo.
De início, porém, fascinado pela paixão de observar, aproximou-se de uma baleia para quem toda a água do lago em que vivera não seria mais que diminuta ração; impressionado com o espetáculo, abeirou-se dela mais que devia e foi tragado com os elementos que lhe constituíam a primeira refeição diária.
Em apuros, o peixinho aflito orou ao Deus dos Peixes, rogando proteção no bojo do monstro e, não obstante as trevas em que pedia salvamento, sua prece foi ouvida, porque o valente cetáceo começou a soluçar e vomitou, restituindo-o às correntes marinhas.
O pequeno viajante, agradecido e feliz, procurou companhias simpáticas e aprendeu a evitar os perigos e tentações.
Plenamente transformado em suas concepções do mundo, passou a reparar as infinitas riquezas da vida. Encontrou plantas luminosas, animais estranhos, estrelas móveis e flores diferentes no seio das águas. Sobretudo, descobriu a existência de muitos peixinhos, estudiosos e delgados tanto quanto ele, junto dos quais se sentia maravilhosamente feliz.
Vivia, agora, sorridente e calmo, no Palácio de Coral que elegera, com centenas de amigos, para residência ditosa, quando, ao se referir ao seu começo laborioso, veio a saber que somente no mar as criaturas aquáticas dispunham de mais sólida garantia, de vez que, quando o estio se fizesse mais arrasador, as águas de outra altitude, continuariam a correr para o oceano.
O peixinho pensou, pensou... e sentindo imensa compaixão daqueles com quem convivera na infância, deliberou consagrar-se à obra do progresso e salvação deles.
Não seria justo regressar e anunciar-lhes a verdade? não seria nobre ampará-los, prestando-lhes a tempo valiosas informações?
Não hesitou.
Fortalecido pela generosidade de irmãos benfeitores que com ele viviam no Palácio de Coral, empreendeu comprida viagem de volta.
Tornou ao rio, do rio dirigiu-se aos regatos e dos regatos se encaminhou para os canaizinhos que o conduziram ao primitivo lar.
Esbelto e satisfeito como sempre, pela vida de estudo e serviço a que se devotava, varou a grade e procurou, ansiosamente, os velhos companheiros. Estimulado pela proeza de amor que efetuava, supôs que o seu regresso causasse surpresa e entusiasmo gerais. Certo, a coletividade inteira lhe celebraria o feito, mas depressa verificou que ninguém se mexia.
Todos os peixes continuavam pesados e ociosos, repimpados nos mesmos ninhos lodacentos, protegidos por flores de lótus, de onde saíam apenas para disputar larvas, moscas ou minhocas desprezíveis.
Gritou que voltara a casa, mas não houve quem lhe prestasse atenção, porquanto ninguém, ali, havia dado pela ausência dele.
Ridicularizado, procurou, então, o rei de guelras enormes e comunicou-lhe a reveladora aventura. O soberano, algo entorpecido pela mania de grandeza, reuniu o povo e permitiu que o mensageiro se explicasse.
O benfeitor desprezado, valendo-se do ensejo, esclareceu, com ênfase, que havia outro mundo líquido, glorioso e sem fim. Aquele poço era uma insignificância que podia desaparecer, de momento para outro. Além do escoadouro próximo desdobravam-se outra vida e outra experiência. Lá fora, corriam regatos ornados de flores, rios caudalosos repletos de seres diferentes e, por fim, o mar, onde a vida aparece cada vez mais rica e mais surpreendente. Descreveu o serviço de tainhas e salmões, de trutas e esqualos. Deu notícias do peixe-lua, do peixe-coelho e do galo-do-mar. Contou que vira o céu repleto de astros sublimes e que descobrira árvores gigantescas, barcos imensos, cidades praieiras, monstros temíveis, jardins submersos, estrelas dos oceanos e ofereceu-se para conduzi-los ao Palácio de Coral, onde viveriam todos, prósperos e tranqüilos. Finalmente os informou de que semelhante felicidade, porém, tinha igualmente seu preço. Deveriam todos emagrecer, convenientemente, abstendo-se de devorar tanta larva e tanto verme nas locas escuras e aprendendo a trabalhar e estudar tanto quanto era necessário à venturosa jornada.
Antes que terminou, gargalhadas estridentes coroaram-lhe a preleção.
Ninguém acreditou nele.
Alguns oradores tomaram a palavra e afirmaram solenes, que o peixinho vermelho delirava que outra vida além do poço era francamente impossível, que aquelas histórias de riachos, rios e oceanos era mera fantasia de cérebro demente e alguns chegaram a declarar que falavam em nome do Deus dos Peixes, que trazia os olhos voltados para eles unicamente.
O soberano da comunidade, para melhor ironizar o peixinho, dirigiu-se em companhia dele até a grade de escoamento e, tentando, de longe, a travessia, exclamou borbulhante:
- "Não vês que não cabe aqui nem uma só de minhas barbatanas? Grande tolo! vai-te daqui! não nos perturbe o bem-estar... Nosso lago é o centro do Universo... Ninguém possui vida igual à nossa!..."
Expulso a golpes de sarcasmo, o peixinho realizou a viagem de retorno e instalou-se, em definitivo, no Palácio de Coral, aguardando o tempo.
Depois de alguns anos, apareceu pavorosa e devastadora seca.
“As águas desceram de nível. E o poço onde viviam os peixes pachorrentos e vaidosos esvaziou-se, compelindo a comunidade inteira a perecer, atolada na lama..."
André Luiz
Do livro Libertação, de Francisco Cândido Xavier
Do livro Libertação, de Francisco Cândido Xavier
OS SÓSIAS DO REI:
Conta-se que Al-Motassim, califa de Bagdá, chamou um dia, o seu prefeito e disse-lhe:
- É verdade, ó prefeito, que vivem nesta cidade e já foram vistos pelos meus amigos, homens extremamente parecidos comigo?
Respondeu o prefeito:
- É verdade, sim, ó Emir dos Crentes! Conheço dois muçulmanos que são como retratos vivos de Vossa Majestade. Um deles exerce a profissão de pasteleiro e outro é fabricante de tapetes. É possível, porém que existam outros sósias de Vossa Majestade sob o céu desta gloriosa Bagdá.
- Pois faço grande empenho em conhecer os meus sósias – declarou o rei. – Convida-os a uma reunião em palácio, pois a todos darei, sem exceção, ricos presentes.
Aquela ordem do monarca foi atendida com a maior solicitude e presteza. O prefeito fez anunciar pelos pátios das mesquitas, bazares e pelos recantos longínquos da grande cidade que todos os homens que se julgassem parecidos com o Califa deveriam comparecer, em dia e hora, certos, ao “divã” das audiências. O poderoso Emir prometia generosas recompensas.
O caso despertou grande curiosidade. Quantos sósias teria, afinal, o rei?
No dia marcado, no suntuoso salão das audiências o poderoso monarca, rodeado de seus vizires, cádis e altos funcionários da corte, receberam os pretendentes que eram, aliás, em número de sete!
Havia, entretanto, uma particularidade que fez sorrir o rei e causou certa impressão de constrangimento aos cortesãos. Dos sete candidatos aos prêmios seis eram parecidíssimos com o monarca: o sétimo, porém, era inteiramente diferente.
Os sósias foram, um a um, recebidos em audiência e chamados para junto do trono. A cada um deles dirigia o rei palavras de estímulo, de bondade e simpatia. E todos partiam radiantes de alegria com vinte dinares de ouro e um belo turbante de seda.
Chegou, finalmente, a vez do último – o tal cuja figura em nada se assemelhava à do rei.
Os vizires e xeiques entreolhavam-se espantados.
O pretenso “sósia”, num andar tranqüilo e firme, aproximou-se da larga escadaria de mármore cor de rosa que conduzia ao trono.
- Meu amigo – disse-lhe o bondoso soberano árabe – sei que há enganos sérios na vida e que não raramente o homem é levado a errar, sem querer, nas coisas mais simples e pueris. O teu comparecimento a este concurso só pode ser explicado por um lamentável equívoco de tua parte. Não quero admitir a hipótese de teres sido inspirado pelo desejo audacioso de zombar de mim. Ora, o meu convite era dirigido exclusivamente àqueles que se julgassem parecidos comigo, e pelo que me é dado observar somos inteiramente dessemelhantes. Repara bem, meu amigo. Sou corpulento, alto e forte; és, ao contrário, franzino, baixo e fraco; tenho os olhos negros e a pele morena; os teus olhos são azulados e a tua pele é clara; o meu rosto é emoldurado por uma pujante barba preta e tu és inteiramente imberbe! A única semelhança, ó muçulmano!, que se pode observar entre nós, é sermos ambos homens, isto é, servos de Allah! E, assim, não terás direito ao mesmo prêmio que foi dado aos outros reis. Receberás um prêmio bem menor. Um dinar de prata... e nada mais!
O homem dos olhos azuis, depois de ouvir, com a maior serenidade, a sentença do califa, inclinou-se respeitosamente e assim falou:
- Agradeço o vosso dinar, ó Comendador dos Crentes! Mas não posso aceitá-lo. Não tenho direito a recompensa alguma. Fui iludido pelas aparências. Quando aqui compareci julguei, realmente, que éramos muito parecidos...
- Parecidos! – estranhou o rei com certo movimento de impaciência. – Por Allah! Estavas então, certo de tua parecença comigo?
- Sim, ó Emir dos Crentes! – confirmou com absoluta firmeza, o desconhecido. – Certíssimo! Julgava que havia entre nós grande parecença. Essa parecença, porém, não era física – pois a semelhança física, que acaso exista entre duas criaturas, o tempo facilmente a destrói e aniquila. Certo estava de que éramos unidos por uma profunda semelhança de sentimento e de espírito, isto é, julguei que as nossas almas fossem como duas almas gêmeas. Sou inteligente e estava convencido de que éreis inteligente também. Sou sincero, generoso e simples, e julguei que éreis, do mesmo modo, simples, sincero, generoso.
- Basta! – interrompeu placidamente o rei. – Se assim pensavas, não houve, asseguro, erro algum de tua parte. Somos, realmente, muito parecidos. É grande a afinidade espiritual que nos aproxima. E posso demonstrar-te facilmente. Sou inteligente, pois compreendi muito bem a profunda lição moral que acabas de me dar; sou generoso, pois receberás de mim uma recompensa vinte vezes maior do que a que esperavas; sou simples e sincero, pois não hesito em reconhecer o meu erro diante de meus amigos e auxiliares.
Fonte: trechos do livro: SELEÇÕES (Os melhores contos)
– Editora Conquista.
Era uma vez um homem que foi ao barbeiro. Enquanto tinha seus cabelos
cortados conversava com o barbeiro. Falava da vida e de Deus.
Daí a pouco, o barbeiro incrédulo não agüentou e falou:
__Deixa disso, meu caro, Deus não existe!
__Porquê?
__Ora, se Deus existisse não haveria tantos doentes, mendigos, pobres, etc...Olhe em volta e veja quanta tristeza. É só andar pelas ruas e enxergar!
__Bem, esta é a sua maneira de pensar , não é?
__Sim, Claro!
Pois bem, o freguês pagou o corte e foi saindo, quando avistou imediatamente um maltrapilho imundo, com longos e feios cabelos, barba desgrenhada, suja, abaixo do pescoço. Não agüentou,
deu meia volta e interpelou o barbeiro:
__Sabe de uma coisa? Não acredito em barbeiros!
__Como?!
__Sim, se existissem barbeiros, não haveria pessoas de cabelos e barbas compridas!
__Ora, existem tais pessoas porque evidentemente não vêm a mim!
__Agora você me respondeu porque existe tanta tristeza em torno de nós...
Uma senhora muito pobre telefonou para um programa cristão de rádio pedindo ajuda. Um bruxo do mal que ouvia o programa resolveu pregar-lhe uma peça. Conseguiu seu endereço, chamou seus secretários e ordenou que fizessem uma compra e levassem para a mulher, com a seguinte orientação:
- Quando ela perguntar quem mandou, respondam que foi o DIABO!!!!!
Ao chegarem na casa, a mulher os recebeu com alegria e foi logo guardando os alimentos. Os secretários do bruxo, conforme a orientação recebida, lhe perguntaram:
- A senhora não quer saber quem lhe enviou estas coisas?
A mulher, na simplicidade da fé, respondeu:
- Não meu filho, não é preciso.... Quando Deus manda, até o diabo obedece....
Autor Desconhecido
LEONARDO DA VINCI - Pintor, Arquiteto, engenheiro, cientista, músico, fabulista e escultor italiano - 1452-1519.
FÁBULA: A BORBOLETA E A CHAMA:
Uma borboleta multicor estava voando na escuridão da noite quando viu, ao longe, uma luz. Imediatamente voou naquela direção e ao se aproximar da chama pôs-se a rodeá-la, olhando-a maravilhada. Como era bonita!
Não satisfeita em admirá-la, a borboleta resolveu fazer o mesmo que fazia com as flores perfumadas. Afastou-se e em seguida voou em direção à chama e passou rente a ela.
Viu-se subitamente caída, estonteada pela luz e muito surpresa por verificar que as pontas de suas asas estavam chamuscadas.
- Que aconteceu comigo? - pensou ela.
Mas não conseguiu entender. Era impossível crer que uma coisa tão bonita quanto a chama pudesse causar-lhe algum mal. E assim, depois de juntar um pouco de forças, sacudiu as asas e levantou vôo novamente.
Rodou em círculo e mais uma vez dirigiu-se para a chama, pretendendo pousar sobre ela. E imediatamente caiu, queimada, no óleo que alimentava a brilhante e pequenina chama.
- Maldita luz - murmurou a borboleta agonizante - pensei que ia encontrar em você a felicidade e em vez disso encontrei a morte. Arrependo-me desse tolo desejo, pois compreendi, tarde demais, para minha infelicidade, o quanto você é perigosa.
- Pobre borboleta - respondeu a chama - eu não sou o Sol, como você tolamente pensou. Sou apenas uma luz. E aqueles que não conseguem aproximar-se de mim com cautela são queimados.
Esta fábula é dedicada àqueles que, como a borboleta, são atraídos pelos prazeres mundanos, ignorando a verdade. Então, quando percebem o que perderam, já é tarde demais. Fonte: Livro: Fábulas e Lendas - Leonardo da Vinci - Editora Salamandra.
A PEDRA E O METAL:
Certo dia o metal começou a bater numa pedra e ela, surpresa e indignada, virou-se e lhe disse:
- Que é isso? Você deve estar me confundindo com alguém, porque não conheço você. Deixe-me em paz, pois nunca fiz mal a ninguém!
A essas palavras a pedra conformou-se e suportou com grande paciência os golpes que o metal lhe inflingia. Finalmente, de repente, fez-se uma faísca que acendeu um fogo maravilhoso, com o poder de fazer coisas fantásticas.
Essa fábula é dedicada àqueles que iniciam seus estudos de má-vontade, apesar dos incentivos para prosseguir. Porém, se forem pacientes e persistentes, obterão resultados magníficos. Fonte: Livro: Fábulas e Lendas - Leonardo da Vinci - Editora Salamandra.
OS SÓSIAS DO REI:
Conta-se que Al-Motassim, califa de Bagdá, chamou um dia, o seu prefeito e disse-lhe:
- É verdade, ó prefeito, que vivem nesta cidade e já foram vistos pelos meus amigos, homens extremamente parecidos comigo?
Respondeu o prefeito:
- É verdade, sim, ó Emir dos Crentes! Conheço dois muçulmanos que são como retratos vivos de Vossa Majestade. Um deles exerce a profissão de pasteleiro e outro é fabricante de tapetes. É possível, porém que existam outros sósias de Vossa Majestade sob o céu desta gloriosa Bagdá.
- Pois faço grande empenho em conhecer os meus sósias – declarou o rei. – Convida-os a uma reunião em palácio, pois a todos darei, sem exceção, ricos presentes.
Aquela ordem do monarca foi atendida com a maior solicitude e presteza. O prefeito fez anunciar pelos pátios das mesquitas, bazares e pelos recantos longínquos da grande cidade que todos os homens que se julgassem parecidos com o Califa deveriam comparecer, em dia e hora, certos, ao “divã” das audiências. O poderoso Emir prometia generosas recompensas.
O caso despertou grande curiosidade. Quantos sósias teria, afinal, o rei?
No dia marcado, no suntuoso salão das audiências o poderoso monarca, rodeado de seus vizires, cádis e altos funcionários da corte, receberam os pretendentes que eram, aliás, em número de sete!
Havia, entretanto, uma particularidade que fez sorrir o rei e causou certa impressão de constrangimento aos cortesãos. Dos sete candidatos aos prêmios seis eram parecidíssimos com o monarca: o sétimo, porém, era inteiramente diferente.
Os sósias foram, um a um, recebidos em audiência e chamados para junto do trono. A cada um deles dirigia o rei palavras de estímulo, de bondade e simpatia. E todos partiam radiantes de alegria com vinte dinares de ouro e um belo turbante de seda.
Chegou, finalmente, a vez do último – o tal cuja figura em nada se assemelhava à do rei.
Os vizires e xeiques entreolhavam-se espantados.
O pretenso “sósia”, num andar tranqüilo e firme, aproximou-se da larga escadaria de mármore cor de rosa que conduzia ao trono.
- Meu amigo – disse-lhe o bondoso soberano árabe – sei que há enganos sérios na vida e que não raramente o homem é levado a errar, sem querer, nas coisas mais simples e pueris. O teu comparecimento a este concurso só pode ser explicado por um lamentável equívoco de tua parte. Não quero admitir a hipótese de teres sido inspirado pelo desejo audacioso de zombar de mim. Ora, o meu convite era dirigido exclusivamente àqueles que se julgassem parecidos comigo, e pelo que me é dado observar somos inteiramente dessemelhantes. Repara bem, meu amigo. Sou corpulento, alto e forte; és, ao contrário, franzino, baixo e fraco; tenho os olhos negros e a pele morena; os teus olhos são azulados e a tua pele é clara; o meu rosto é emoldurado por uma pujante barba preta e tu és inteiramente imberbe! A única semelhança, ó muçulmano!, que se pode observar entre nós, é sermos ambos homens, isto é, servos de Allah! E, assim, não terás direito ao mesmo prêmio que foi dado aos outros reis. Receberás um prêmio bem menor. Um dinar de prata... e nada mais!
O homem dos olhos azuis, depois de ouvir, com a maior serenidade, a sentença do califa, inclinou-se respeitosamente e assim falou:
- Agradeço o vosso dinar, ó Comendador dos Crentes! Mas não posso aceitá-lo. Não tenho direito a recompensa alguma. Fui iludido pelas aparências. Quando aqui compareci julguei, realmente, que éramos muito parecidos...
- Parecidos! – estranhou o rei com certo movimento de impaciência. – Por Allah! Estavas então, certo de tua parecença comigo?
- Sim, ó Emir dos Crentes! – confirmou com absoluta firmeza, o desconhecido. – Certíssimo! Julgava que havia entre nós grande parecença. Essa parecença, porém, não era física – pois a semelhança física, que acaso exista entre duas criaturas, o tempo facilmente a destrói e aniquila. Certo estava de que éramos unidos por uma profunda semelhança de sentimento e de espírito, isto é, julguei que as nossas almas fossem como duas almas gêmeas. Sou inteligente e estava convencido de que éreis inteligente também. Sou sincero, generoso e simples, e julguei que éreis, do mesmo modo, simples, sincero, generoso.
- Basta! – interrompeu placidamente o rei. – Se assim pensavas, não houve, asseguro, erro algum de tua parte. Somos, realmente, muito parecidos. É grande a afinidade espiritual que nos aproxima. E posso demonstrar-te facilmente. Sou inteligente, pois compreendi muito bem a profunda lição moral que acabas de me dar; sou generoso, pois receberás de mim uma recompensa vinte vezes maior do que a que esperavas; sou simples e sincero, pois não hesito em reconhecer o meu erro diante de meus amigos e auxiliares.
Fonte: trechos do livro: SELEÇÕES (Os melhores contos)
– Editora Conquista.
A Fábula do Porco-espinho.
Durante a era glacial, muitos animais morriam por causa do frio.
Os porcos-espinhos, percebendo a situação, resolveram se juntar em grupos, assim se agasalhavam e se protegiam mutuamente, mas os espinhos de cada um feriam os companheiros mais próximos, justamente os que ofereciam mais calor.
Por isso decidiram se afastar uns dos outros e começaram de novo a morrer congelados.
Então precisaram fazer uma escolha: ou desapareciam da Terra ou aceitavam os espinhos dos companheiros.
Com sabedoria, decidiram voltar a ficar juntos.
Aprenderam assim a conviver com as pequenas feridas que a relação com uma pessoa muito próxima podia causar, já que o mais importante era o calor do outro. E assim sobreviveram.
Moral da História
O melhor relacionamento não é aquele que une pessoas perfeitas, mas aquele onde cada um aprende a conviver com os defeitos do outro, e admirar suas qualidades
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