Cecília Meireles





Deixe entrar sem bater, meu caro amigo,
os homens que morrem de frio, 
mais por falta de amor do que por falta de roupas...
Deixe entrar sem bater os que perderam o rumo nos trilhos complicados da existência; talvez achem no céu do seu abraço a estrela de Belém...

Deixe entrar sem bater os que tem fome, mais de carinho do que de pão, e reparta com eles o seu carinho que vale mais... do que o seu dinheiro...

Deixe entrar sem bater os que chegam a pé empoeirados e cansados porque a passagem do destino era cara demais e ninguém lhes pagou nem sequer um bilhete de terceira classe no trem da felicidade...

Deixe entrar sem bater os que nasceram a contragosto porque a pílula falhou... e só foram recebidos porque não havia outro jeito...

Deixe entrar sem bater os enjeitados no princípio: filhos de mães solteiras, os filhos do prazer criminoso e egoísta.

Deixe entrar sem bater os enjeitados no fim: os velhos e velhinhas, que deram tudo de si, que perderam as pétalas da vida em benefício dos outros, seus filhos, e agora são deixados para murchar nos fundos dos asilos...

Deixe entrar como se fossem deles, aqueles que não tiveram tempo de ser criança, porque a vida lhes pôs uma enxada nas mãos quando devia por nelas algum brinquedo... os que nunca tiveram sorrisos em seus lábios porque a lágrima chegava sempre primeiro...

Deixe entrar sem bater todos estes, sem temer que falte espaço, porque num coração com amor sempre cabe mais um e até mais mil...

E depois que tiver a sala do peito lotada de infelizes, aleijados e famintos, você vai ter, amigo, a maior das surpresas, ao ver que a face torturada de tantos se transforma, de repente, no rosto iluminado e sorridente do Mestre Jesus, falando só para você: - 'Meu caro amigo, agora é a sua vez: entre você também.'

Pode entrar sem bater, a casa é sua".
Cecília Meireles
“Tenho um vício terrível” — me confessa Cecília Meireles, com ar de quem acumulou setenta pecados capitais. “Meu vício é gostar de gente. Você acha que isso tem cura? Tenho tal amor pela criatura humana, em profundidade, que deve ser doença.” “Em pequena (eu era uma menina secreta, quieta, olhando muito as coisas, sonhando) tive tremenda emoção quando descobri as cores em estado de pureza, sentada num tapete persa. Caminhava por dentro das cores e inventava o meu mundo. Depois, ao olhar o chão, a madeira, analisava os veios e via florestas e lendas. Do mesmo jeito que via cores e florestas, depois olhei gente. Há quem pense que meu isolamento, meu modo de estar só (quem sabe se é porque descendo de gente da Ilha de São Miguel em que até se namora de uma ilha pra outra?), é distância quando, na realidade, é a minha maneira de me deslumbrar com as pessoas, analisar seus veios, suas florestas.”


Trago esta imagem para te dar:

és, sob um fio tênue, lanterna de papel que o vento balança.

A noite vem repentinamente escurecer as coisas. De dia o sol descobre tuas cores aparentes. Tem cuidado, para que, à noite, seja a tua presença reconhecida pela luz que conténs.

Bem vês que tudo isto é frágil. Que é um fio tênue, na mão do vento vertiginoso?
Que é uma prega de papel que depende de um fio?
Que é uma chama que oscila presa em paredes de papel?
Deixo esta imagem entre os meus olhos e o horizonte.
Bem vejo que o fogo, por transparência, converte-se em luz mais suave.
Meu coração, porém, todos os dias te exortará: “Incendeia-te!”
Despreza a ilusão colorida que te limita.
Quanto mais se alastrar pelo teu contorno a inquietação dos ornamentos,
mais a tua riqueza exterior abafará esse alento luminoso que é a única esperança da escuridão.
Incendeia-te! Ainda que dures menos, serás mais inesquecível.
Entre todas as coisas provisórias serás a única deslumbradora.
E os que assistirem à tua passagem poderão dizer:
“Nós vimos o seu destino: foi, como o fogo, livre e intocável. Ninguém lhe fixou imobilidades.
O vento conduzia-a, mas não a apagava. Com ela os dias ficavam mais acesos.
E as noite até hoje são menos escuras, pelo vestígio que ficou da sua aparição.”

ღ.¸¸.•´`»ღ


Cecília Meirelles

Cecília é carioca. Nasceu em novembro, dia de S. Florêncio (filha de Matilde e Carlos Alberto de Carvalho Meireles, funcionário do Banco do Brasil), em Haddock Lobo, na Rua São Luís. Seriam quatro irmãos, mas nunca chegaram a ser dois sequer, porque, mal nascia um, o outro já tinha morrido. Só ficou Cecília. Perdeu a mãe com três anos e meio, tendo sido criada pela avó, Jacinta Garcia Benevides, da Ilha de São Miguel, Açores, descendente de gente que andou do lado do Infante D. Henrique. A ela dedica Cecília:
Minha primeira lágrima caiu dentro dos teus olhos
Tive medo de a enxugar: para não saberes que havia caído...
No dia seguinte, estavas imóvel, na tua forma definitiva,
Modelada pela noite, pelas estrelas, pelas minhas mãos.
Cecília Meireles: Minha primeira escola foi a Estácio de Sá, que depois passou a Escola Normal, onde me formei. Olhando para trás me sinto uma criança extremamente poética. Em casa de meu padrinho, Louzada, onde brincava, sempre silenciosa e observando-a, via estátuas, pinturas, coleções de pequeninos, objetos e leques em vitrinas, coisas que me levaram a fazer o “Inventário Lírico”.
Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.
Cecília Meireles: Vovó era uma criatura extraordinária. Ex­tremamente religiosa, rezava todos os dias. E eu perguntava: “Por quem você está rezando?” “Por todas as pessoas que sofrem.” Era assim. Rezava mesmo pelos desconhecidos. A dignidade, a elevação espiritual de minha avó influíram muito na minha maneira de sentir os seres e a vida.
Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios, nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
Em que espelho ficou perdida a minha face?
Cecília Meireles: Uma das coisas que mais me encantavam em minha vida de infância era o eco que vivia em casa de minha avó. Eu vivia procurando o meu eco. Mas tinha vergonha de perguntar. Recolhida, tímida, deslumbrada, me debruçava no mistério das palavras e do mundo. Queria saber, mas tinha imenso pudor de confessar minha ignorância.
Nós merecemos a morte,
porque somos humanos
e a guerra é feita pelas nossas mãos,
pelo nossa cabeça embrulhada em séculos de sombra,
por nosso sangue estranho e instável, pelas ordens
que trazemos por dentro, e ficam sem explicação.
Cecília Meireles: Terminada a Escola Normal, fui lecionar o primário, ainda com um jeito de menina, num sobrado da Avenida Rio Branco. Ali, na mesma sala, havia duas turmas e duas professoras, a metade voltada para cada lado. Pois as crianças, vendo-me quase tão menina quanto elas, viraram quase todas para mim. Sempre gostei muito de ensinar. Trabalhei na Escola Deodoro, ali junto ao relógio da Glória. Fui professora de Literatura da Universidade do Distrito Federal. Criei a primeira biblioteca infantil, ali onde era o Pavilhão Mourisco. Criança que não tivesse onde ficar podia encontrar o livro que lhe faltava, coleção de selos, moedas, jogos de mesa, sonhos, histórias e as explicações de professoras prontas e atentas. Acabou, depois de quatro anos, mas frutificou em São Paulo onde hoje existe até biblioteca infantil para cegos. Também ensinei História do Teatro na Fundação Brasileira. O resto da minha atividade didática está nas conferências em que sempre procuro transmitir algo.

Minhas mãos ainda estão molhadas
do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre de meus dedos
colore as areias desertas.
Cecília Meireles: Você sabe que eu tenho muito medo da literatura que é só literatura e que não tenta comunicar?
Ando à procura de espaço
para o desenho da vida.
Em números me embaraço
e perco sempre a medida.
Se penso encontrar saída,
em vez de abrir um compasso,
protejo-me num abraço
e gero uma despedida.
Cecília Meireles: Vivo constantemente com fome de acertar. Sempre quase digo o que quero. Para transmitir, preciso saber. Não posso arrancar tudo de mim mesma sempre. Por isso leio, estudo. Cultura, para mim, é emoção sempre nova. Posso passar anos sem pisar num cinema, mas não posso deixar de ler, deixar de ouvir minha música (prefiro a medieval), deixar de estudar, hindi ou o hebraico, compreende?
Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
— mais nada.
Cecília Meireles: Casei com vinte anos. Tenho três filhas: Maria Elvira, Maria Matilde e Maria Fernanda. As três são bibliotecárias mas a minha biblioteca não está fechada. Maria Fernanda você conhece como atriz, não é mesmo? As três têm em comum uma bondade comovente mas são de temperamentos completamente diferentes. Tenho cinco netos. Viúva, casei em 1940 com Heitor Grilo, um homem admirável pela sua extraordinária fé no ser humano, em sua ânsia de tudo elevar. Basta dizer a você que, nesta primeira e única doença que tive e que me segurou cinco meses, ele não arredou pé, um momento de carinho, gesto e palavra prontos, apesar de suas inúmeras responsabilidades e ocupações. Conheci-o quando fui entrevistá-lo certa vez. Depois... nunca mais o entrevistei. Entendemo-nos até calados.

No fio da respiração,
rola a minha vida monótona,
rola o peso do meu coração.
Cecília Meireles: Estudei canto e violino. Abandonei. Era preciso ganhar a vida e poesia se pode criar até numa viagem de bonde. Mesmo nas reuniões em que muita gente discutia eu era capaz de me ausentar em meu mundo e construir. Aos poucos pude criar a minha Ilha de Nanja, a São Miguel transfigurada pelo sonho. Acho linda a continuidade humana através da poesia. Só viajo com a Bíblia. A Bíblia é uma biblioteca. Tem tudo: história, poesia, religião. Já disse que, se tivesse que escolher o meu livro para uma ilha deserta, levaria a Bíblia. Ou um dicionário.
Minha esperança perdeu seu nome...
Fechei meu sonho, para chamá-la.
A tristeza transfigurou-me
como o luar que entra numa sala.
Cecília Meireles: Mas comigo aconteceu uma coisa deliciosa, deixe-lhe contar. Neste Natal eu estava doente em São Paulo. Pois bem. Ao voltar para esta minha casa (Cecília vive ao lado do bondinho que sobe pro Corcovado) encontrei cartões de gente de todos os cantos do mundo que se lembrou de mim. De todas as raças e religiões. Todos unidos pelo Natal. E o mais curioso é que eu olhava um cartão e outro e dizia comigo mesma: “Fulano talvez não combine com Beltrano, mas eu servi de elo entre os dois. A mim eles escreveram!” Me fez um bem enorme aquele meu Natal atrasado!

Na quermesse da miséria,
fiz tudo o que não devia:
se os outros se riam, ficava séria;
se ficavam sérios, me ria.
Cecília Meireles: Se eu inventei palavras? Não. Isto nunca me preocupou. No inventar há um certa dose de vaidade. “In­ventei. É meu”. O que me fascina é a palavra que descubro, uma palavra antiga abandonada e que já pertenceu a tanta gente que a viveu e sofreu! No “Romanceiro do Rio de Ja­neiro”, que estou preparando para o IV Centenário, procuro usar, em cada capítulo, a linguagem da época.
Basta-me um pequeno gesto,
feito de longe e de leve,
para que venhas comigo
e eu para sempre te leve...
Cecília Meireles: Tenho amigos em toda parte. Mas sou feito o Drummond que é tão amigo quase sem a presença física. Esse meu jeito esquivo é porque eu acho que cada ser humano é sagrado, compreende? Eu sou uma criatura de longe. Não sei se me querem mas eu quero bem a tanta gente! Sou amiga até dos mortos. Amiga de muita gente que nem conheci. Você não imagina quanta gente eu levo ao meu lado. E fico emocionada quando penso como uma criatura só recebe tanto de tantos lados, de tantas pessoas, de tantas gerações!
Como tenho a testa sombria,
derrame luz na minha testa.
Deixe esta ruga, que me empresta
um certo ar de sabedoria.
Cecília Meireles: Tenho pena de ver uma palavra que morre. Me dá logo vontade de pô-la viva de novo. “Solombra”, meu novo livro, é uma palavra que encontrei por acaso e que é o nome antigo de sombra. Era o título que eu buscava e a palavra viveu de novo.
Que procuras? Tudo. Que desejas? — Nada.
Viajo sozinha com o meu coração.
Não ando perdida, mas desencontrada.
Levo o meu rumo na minha mão. 


Cecília Meireles: Cada lugar aonde chego é uma surpresa e uma maneira diferente de ver os homens e coisas. Viajar para mim nunca foi turismo. Jamais tirei fotografia de país exótico. Viagem é alongamento de horizonte humano.  Na Índia foi onde me senti mais dentro de meu mundo interior. As canções de Tagora, que tanta gente canta como folclore, tudo na Índia me dá uma sensação de levitar. Note que não visitei ali nem templos nem faquires.  O impacto de Israel também foi muito forte. De um lado, aqueles homens construindo, com entusiasmo e vibração, um país em que brotam flores no deserto e cultura nas universidades. Por outro lado, aquela humanidade que vem à tona pelas escavações. Ver sair aqueles jarros, aqueles textos sagrados, o mundo dos profetas. Pisar onde pisou Isaías, andar onde andou Jeremias ... Visitar Nazaré, os lugares santos! A Holanda me faz desconfiar de que devo ter parentes antigos flamengos. Em Amsterdã, passei quinze dias sem dormir. Me dava a impressão de que não estava num mundo de gente. Parecia que eu vivia dentro de gravuras. Quanto a Portugal, basta dizer que minha avó falava como Camões. Foi ela quem me chamou a atenção para a Índia, o Oriente: “Cata, cata, que é viagem da Índia”, dizia ela, em linguagem náutica, creio, quando tinha pressa de algo, chá-da-Índia, narrativas, passado, tudo me levava, ao mesmo tempo à Índia e a Portugal.
Porque a vida, a vida, a vida,
a vida só é possível
reinventada.
Cecília Meireles: A babá Pedrina me contava a história do Palácio de Louça Vermelha. Eu achava que devia ser muito fresco viver num palácio assim e, em menina, já estava pronta a transformar um jarro imenso que havia em casa em palácio, quando, querendo escondê-lo de meus sonhos, de tanto procurarem lugar para ocultá-lo, o partiram em mil pedaços. 
Traze-me um pouco das sombras serenas
que as nuvens transportam por cima do dia!
Um pouco de sombra, apenas,
— vê que nem te peço alegria.
Cecília Meireles: Viagens, folclore e idiomas são uma espécie de constante em minha vida. Comprei livros e discos de hebraico. Estudei hindi, sânscrito. O desejo de ler Goethe no original me obrigou a estudar alemão. Não estudo idiomas para falar, mas para melhor penetrar a alma dos povos.

Cecília conhece uma meia dúzia de línguas mais.

Cecília Meireles: Meus amigos, é curioso, ou vivem longe ou estão distantes. Minha casa já é contramão.  Gosto de estudar o que me dá conhecimento melhor das pessoas, do mundo, da unidade. Por meio dos idiomas e do folclore, vejo até que ponto somos todos filhos de Deus. A passagem do mundo mágico para o mundo lógico me encanta.

Eu deixo aroma até nos meus espinhos
ao longe, o vento vai falando de mim.
E por perder-me é que vão me lembrando,
por desfolhar-me é que não tenho fim.

Cecília Meireles: Nunca esperei por momento algum na vida. Vou vivendo todos os momentos da melhor maneira que posso. Quero realizar coisas, não para ser a autora, mas para dar-me, para contribuir em benefício de alguém ou de alguma coisa. Quando adoeci e tinha que repousar uma hora depois do almoço, ficava calculando quanto poema deixava de escrever, quanta coisa linda deixava de ler e conhecer naquelas horas perdidas. Mas aprendi também a renunciar. Não tenho poema predileto. Ainda não o escrevi. A intenção é que é perfeita. Às vezes, um poema viaja comigo muito tempo sem ser escrito. Se não lhe dou muita importância, vai embora. Tenho muita pena dos poemas que não escrevo. E também muita dos que escrevo.
E minha alma, sem luz nem tenda,
passa errante, na noite má,
à procura de quem me entenda
e de quem me consolará...
Cecília Meireles: A juventude de hoje? Acho que são meninos que não têm tempo de crescer. Saltam do apartamento fechado para a calçada de mil solicitações, sem armadura, sem objetivo, sem a necessária religiosidade. A vida passa a ser uma coisa zoológica. Muitos crescem zoologicamente. Inventam modas, mas como não têm essência de verdade, as modas não pegam. As frustrações crescem. Felizmente muitos se realizam apesar de tudo. Cada geração acredita que traz uma nova voz e uma nova mensagem.
Permite que eu volte o meu rosto
para um céu maior que este mundo,
e aprenda a ser dócil no sonho
como as estrelas no seu rumo.
Cecília Meireles: A arte abstrata? Nós, pouco a pouco, vamos caminhando para o subentendido, não é? A arte abstrata é uma alusão. Você constrói dentro de si. Muita gente faz coisas com nomes concretos que geram um mundo abstrato e vice-versa.
Aquilo que ontem cantava
já não canta.
Morreu de uma flor na boca:
não do espinho na garganta.


Cecília Meireles: Tenho, nos lugares mais diferentes, amigos à minha espera. Você já reparou que, entre centenas, em cada país, nós temos sempre aquela pessoa, que, sem mesmo saber, espera por nós e, quando nos encontra, é para sempre? Por isso é que eu gosto tanto de viajar, visitar terras que ainda não vi e conhecer aquele amigo desconhecido que nem sabe que eu existo, mas que é meu irmão antes de o ser.
Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
— não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.


Cecília Meireles: Educação, para mim; é botar, dentro do indivíduo, além do esqueleto de ossos que já possui, uma estrutura de sentimentos, um esqueleto emocional. O entendimento na base do amor.
Em prosa Cecília dá lições de grandeza. Vejam como descreve o barquinho Elenita: “parece uma nuvenzinha a correr por um espelho”. E o “Anjo da Noite”: “À noite o mundo é bonito, como se não houvesse desacordos, aflições, ameaças. Há muitos sonhos em cada casa. O gato volta apressado, com certo ar de culpa”. “Chuva com Lembranças”: “Começaram a cair uns pingos de chuva. Tão leves e raros que nem as borboletas ainda perceberam”. Outro: “Com estas florestas de arranha-céus que vão crescendo, muita gente pensa que passarinho é coisa de jardim zoológico”.

Cecília Meireles: Houve um tempo em que a minha janela se abria para um chalé. Na ponta do chalé brilhava um grande ovo de louça azul onde costumava pousar um pombo branco. Nos dias límpidos o pombo parecia pousado no ar. Eu era criança, achava essa ilusão maravilhosa e me sentia completamente feliz.

Mas houve épocas em que a janela abria para um canal em que oscilava um barco carregado de flores. Outras em que se abria para um terreiro, sobre uma cidade de giz, para um jardim que parecia morto. Outras vezes abre a janela e encontra um jasmineiro em flor, nuvens espessas ou crianças que vão para a escola, pardais que pulam pelo muro, gatos, borboletas, marimbondos, um galo que canta, um avião que passa. E Cecília se sente completamente feliz. E conclui:  “Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas, que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem, outros que só existem diante das minhas janelas, e outros, finalmente, que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim”.

Olho para Cecília encolhida em sua poltrona, iluminando a penumbra do canto da sala. Vejo-a tão menina olhando o solo e descobrindo na madeira floresta e lendas, deslumbrada de azul! Uma ilha cercada de pontes por todos os lados. Pontes para a ternura, pontes para a poesia, pontes para a alma de cada um. E olhando-a assim, poesia ela mesma, tão alta e tão pura, percebo porque continua a ser a garotinha à procura do eco, correndo por todos os cantos e por todos os deslumbramentos, sem poder recolher o eco da própria voz: nós somos o seu eco, cantamos o seu canto, sem que ela perceba; somos todos um pouco habitantes de sua Ilha de Nanja “onde as crianças brincam com pedrinhas, areia, formigas”. “Solombra”, a última obra de Cecília, quer dizer só sombra. Cecília, para nós. é só luz.
Nota: Entrevista publicada na revista “Manchete”, edição nº 630, em 16 de maio de 1964. E posteriormente no livro “Pedro Bloch Entrevista”, Bloch Editores, em 1989.
fonte: revista bula - por Carlos Willian Leite - 

Feliz e Próspero Ano Novo



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   Conexão  com o criador
   "Que Seja Abençoado 
   ANO NOVO"
 O novo ano é como uma água fresca e pura e, se quiserdes que ela mantenha a sua frescura e a sua pureza, deveis preocupar-vos com o estado dos recipientes nos quais ides recebê-la. Não é o que fazeis todos os dias na vossa cozinha? Quando é colocada água limpa numa panela, primeiro é verificado o estado em que está essa panela e, se ela estiver suja, procura-se limpá-la. Pois bem, quando se trata de receber nos recipientes que são a vossa alma, a vossa cabeça, o vosso coração, as águas puras do novo ano, deveis aplicar as mesmas regras que na vossa cozinha, ou seja, empreender um trabalho de limpeza interior.
Como é que o ano novo pode ser realmente novo se os humanos que o acolhem continuam a estagnar nos mesmos pensamentos, nos mesmos sentimentos, nos mesmos hábitos deploráveis?
OMRAAM MIKHAEL AIVANHOV - 
MEU MAIOR DESEJO NESTE ANO NOVO:
Neste Ano Novo, meu maior desejo e minhas preces são para que você abandone os maus hábitos de pensar e agir. Não os carregue para o Ano Novo. Você não precisa levá-los consigo. A qualquer momento você poderá ter que largar o seu invólucro carnal e esses hábitos desaparecerão. Tampouco eles lhe pertencem agora. Não os aceite! Deixe para trás todos os pensamentos inúteis, tristezas passadas e maus hábitos. Comece a vida neste Ano Novo de uma nova maneira!Fonte: Diário Espiritual.PARAMAHANSA YOGANANDA -
FELIZ ANO ANO:
Eu te desejo um feliz e próspero Ano Novo!!!
Necessitam-se trezentos e sessenta e cinco dias de mudanças para produzir o ano novo.
Contudo as circunstâncias desta vida mudam no bater de cada segundo.
A única coisa que é constante e verdadeira está guardada dentro do coração.
Saboreie não as mudanças, mas a graça e os presentes que são constantemente despejados sobre nós. Assim, se fazem gratas tanto a nossa perspectiva quanto o resultado desta vida.
As coisas nesta vida podem ser ambíguas, mas a vida em si não é ambígua nunca.
Tenha afeição para o inalterável, assim todas as mudanças serão sem importância.
É fácil desejar alegria na vida, no entanto o mais difícil é reproduzi-la.
Cada um de nós tem que se voltar para dentro e encontrar a verdadeira alegria, a verdadeira consistência e o presente real que sempre residiu e residirá dentro de nós.
Reconheça a graça e a bondade que têm sido derramadas com tanta abundância sobre ti.
Isso, em si mesmo, tem o poder de trazer primavera ao mais árido dos desertos.
Com amor e bênçãos,
Prem Rawat.
Quem anda com fé e confia, no fim sempre alcança.
  Necessitamos lembrar a sabedoria do rei Salomão
 que nos deixou essa preciosa mensagem: 
"Todas as coisas têm seu tempo debaixo dos céus."
CADA ANO NOVO É UM PEDAÇO DE CHÃO: Senhor dos meus dias, dos meus anos, me deste muito tempo. Parte deste tempo já passou e ainda está na minha frente. O tempo era meu e era teu, eu o recebi de ti. Te agradeço por cada momento, por cada manhã em que posso despertar. Não te peço, para dar-me mais tempo. Mas te peço por muita sobriedade de preencher bem cada hora. Eu te peço, que um pouco deste tempo seja livre de compromissos e obrigações, para usá-lo no silêncio, um pouco brincando, e um pouco para os outros aqueles nas margens da vida que de mim precisam como consolador. Te peço que eu capriche para não matar o meu tempo, não desgastá-lo, nem estragá-lo. Cada ano novo é um pedaço de chão quero abrir este chão, jogar amor nesta terra nova, pelos meus pensamentos e conversas para que possam nascer frutos. Abençoa-me , Senhor neste novo ano.
Jörg Zink.
Meu Deus, eu te peço durante a passagem dos anos
Mais compreensão, mais amor entre os seres humanos
Que haja em cada coração, mais harmonia e união
Pra gente poder merecer, seu olhar soberano.
Meu Deus, ensina aos homens de boa vontade
Formar a corrente num elo de fraternidade
Pra gente poder enxergar sua luz 
Não vê mais seu filho pregado na cruz 
E ver nosso mundo repleto de felicidade.
Vamos todos fazer nosso sonho se realizar
Ninguém deve passar pela vida sem acontecer
O sol nasce pra todos, ninguém vai ficar sem brilhar
É por essas e outras que a gente tem que agradecer.
Obrigado por sua presença em nosso caminho
Já sabemos que a vida não morre, que nada é em vão
Nós já temos certeza, de que não estamos sozinhos
Obrigado por ter-nos guardado em seu coração.
Meu Deus, nós queremos o mundo sem violência
Põe na cabeça dos homens mais consciência
Que haja mais respeito pela vida e paz no coração
Meu Deus, ilumina o caminho da nossa existência.
Meu Deus, segura bem forte nas mãos das crianças
São elas a voz do futuro, a nossa esperança
A gente acredita num mundo melhor
Com sua presença a nossa volta
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Somos Sonhos




Somos as únicas criaturas na face da terra capazes de mudar nossa biologia pelo que pensamos e sentimos!
Nossas células estão constantemente bisbilhotando nossos pensamentos e sendo modificados por eles.
Um surto de depressão pode arrasar seu sistema imunológico; apaixonar-se, ao contrário, pode fortificá-lo tremendamente.
A alegria e a realização nos mantém saudáveis e prolongam a vida.
A recordação de uma situação estressante, que não passa de um fio de pensamento, libera o mesmo fluxo de hormônios destrutivos que o estresse.
Quem está deprimido por causa da perda de um emprego projeta tristeza por toda parte no corpo – a produção de neurotransmissores por parte do cérebro reduz-se, o nível de hormônios baixa, o ciclo de sono é interrompido, os receptores neuropeptiídicos na superfície externa das células da pele tornam-se distorcidos, as plaquetas sanguíneas ficam mais viscosas e mais propensas a formar grumos e até suas lágrimas contêm traços químicos diferentes das lagrimas de alegria.
Todo este perfil bioquímico será drasticamente alterado quando a pessoa encontra uma nova posição.
Isto reforça a grande necessidade de usar nossa consciência para criar os corpos que realmente desejamos.

Shakespeare não estava sendo metafórico
 quando Próspero disse: 
“Nós somos feitos da mesma matéria dos sonhos.”                        







O processo de envelhecimento,
 contudo, tem que ser combatido a cada dia.
A ansiedade por causa de um exame acaba passando.
Assim como a depressão por causa de um emprego perdido.
Você quer saber como esta seu corpo hoje? Lembre-se do que pensou ontem
Quer saber como estará seu corpo amanhã? Olhe seus pensamentos hoje!
Ou você abre seu coração, ou algum cardiologista o fará por você!
Deepak Chopra



porque somos



sem tamanho 



somos o que sonhamos



somos e sonhamos o que não vemos



mas a alma nos diz...



NANGBA



Nadja Feitosa

Em tibetano usa-se a palavra

NANGBA, que quer dizer

"pessoa de dentro".

É uma forma de descrever

aqueles que procuram
dentro de si
aquilo que buscam.

"Pessoas de dentro"

Sendo assim devemos cultivar a virtude da paciencia que ao longo do tempo nos levar a concretizar os sonhos idealizados

A paciência tem sido explorada pelas pessoas. 
Há séculos temos a pobreza, e os povos foram aconselhados a apenas serem pacientes – “É um teste de sua confiança em Deus”.
A eles foi apenas dito que fossem pacientes, que “é apenas uma questão de alguns anos e então vocês adentrarão o paraíso”.
A paciência tem sido usada como parte da exploração de povos em todas as áreas, mas ela é uma linda qualidade.
Ser paciente, para mim, significa confiança – confiança na natureza, na existência, em você mesmo.
As coisas estão melhores a cada dia; o que quer que aconteça, a sua paciência encontra algo melhor para você. É uma alquimia muito grandiosa; transforma sofrimento em bênção.
É um grande instrumento em suas mãos; você apenas precisa entender que o instrumento deve ser usado por você, e não pelos outros sobre você.
Há mudanças constantes na vida – a vida é um fluxo.
Heráclito diz: “você não pode pisar duas vezes no mesmo rio”. Eu digo a você: “você não pode pisar nem mesmo uma vez no mesmo rio”. O rio está continuamente se movendo. Há altos, há baixos, há dias e há noites.
A paciência consiste em ver as coisas de forma que tudo se torne uma alegria para você.
Por exemplo, você pode pensar que todos os dias foram encapsulados entre duas noites escuras. Isto lhe trará miséria e tristeza: “oh, que vida, apenas um pequeno dia, e duas grandes noites escuras”. Um homem de entendimento verá cada noite como tão pequena entre dois lindos dias ensolarados.
A vida é a mesma – é a sua perspectiva que muda.
Há pessoas que não olharão para as rosas, e sim para os espinhos. Elas sentirão profundo desespero pelo fato de a existência não produzir rosas sem espinhos, mas estarão prestando mais atenção aos espinhos do que às rosas. Um homem de entendimento amará a rosa, e enxergará o espinho como a proteção da flor.
A mesma roseira está fornecendo seiva a ambos – à rosa e ao espinho. O espinho deve ter alguma função natural. Sua função é proteger a rosa – é um soldado, um guardião.
Uma vez que você veja a vida de um ângulo diferente, seu coração começa a pulsar de um jeito diferente.
Tudo pode ser visto com olhos negativos, e há pessoas que pensarão em tudo desta forma. Elas se tornarão bons críticos, mas serão grandes fiascos na vida. Mas há uma maneira de se ver a vida com olhos positivos.
Eu estava visitando um palácio em Jaipur, na Índia. Jaipur é uma das cidades mais lindas do mundo; o homem que a estava criando, Maharaja Jai Singh, queria superar a beleza de Paris, mas morreu antes de completar o projeto. Então, Jaipur se tornou uma cidade incompleta, mas possuidora de tremenda beleza.
Nenhuma outra cidade indiana possui esta sua qualidade.
No palácio, o neto de Maharaja, que agora tomou o lugar do avô, disse-me: “por favor, não repare se você vir alguma coisa incompleta no palácio”.
Eu disse: “qual o problema”?
Ele disse: “Meu avô tinha uma certa visão de que nada deveria ser feito completo, porque se fosse, teria um certo ar de morte. As coisas deveriam permanecer incompletas, pois assim têm a possibilidade de crescimento. E por coincidência, ele não pôde completar Jaipur; ele morreu.
Esta foi a filosofia de toda a sua vida: ele nunca fez nada completo. Alguma coisa sempre estará faltando, e as pessoas que enxergam com olhos negativos imediatamente notam a coisa que está faltando. O palácio como um todo é tão lindo, mas toda a preocupação destas pessoas se concentra na pequena pedra que está faltando, e elas ficam frustradas.
Talvez Maharaja Jai Singh tinha algum entendimento da vida.
Na vida nada é perfeito, tudo tem alguma imperfeição. Imperfeição significa que a vida ainda está se desenvolvendo, que a evolução ainda está acontecendo.
O dia em que tudo estiver completo será o pior dia da existência, pois neste dia tudo se tornará morto. Não haverá crescimento, não haverá necessidade de evolução; tudo estará confinado. Não olhe para as imperfeições; olhe para a tremenda beleza que circunda as pequenas imperfeições.
É uma mudança de perspectiva que traz paciência a você. Então você entende que tudo é bom, e que tudo será ainda melhor, pois há séculos vem se tornado melhor e melhor.
Não há necessidade de se preocupar com o amanhã; amanhã será melhor. A existência toda está engajada em melhorar a si mesma. Você apenas tem de ser um pouco paciente; você não deve ter pressa.
Você não deve pedir que tudo lhe seja dado agora.
Tudo vem no tempo certo.
Tudo vem quando você está maduro.
Tudo vem quando você merece. Esta é a minha experiência.
Nos últimos trinta anos eu não senti, nem mesmo por um único momento, nenhuma impaciência, e testemunhei que tudo segue se tornando melhor e melhor.
A própria existência está envolvida neste processo; somos parte dela, não há motivos para se preocupar. Mesmo algo que parece escuro hoje pode se revelar apenas o começo de uma nova aurora.
A noite é mais escura logo antes do amanhecer.
Apenas observe a vida. Tente entender a vida, e a paciência virá até você por conta própria.
Osho


Oceano Vital - Huberto Rohden





OCEANO VITAL.

Todos nós conhecemos alguns efeitos da eletricidade, como sejam, luz, calor, força. Mas que é a eletricidade em si mesma? É o pólo positivo ou anódico (+) ? É o polo negativo ou catódico   (-) ? É a reunião desses dois pólos na síntese de luz, calor ou força (+ -)?
Não! Ela é a Tese do Neutro, do pré-positivo e do pré-negativo, o Universal, que, para a nossa percepção é o Nada, precisamente por ser o Todo. Os dois pólos elétricos, são apenas duas manifestações conhecidas de algo desconhecido e imanifesto. Seria absurdo admitir que, antes de o gerador na usina entrar em movimento, não houvesse eletricidade e que o gerador produzisse a eletricidade do puro nada. Na realidade, o gerador produz apenas os dois pólos, positivo-e-negativo do seio imenso do Neutro ou Universal. O que o gerador da usina faz não é criar no nada os dois pólos elétricos, mas sim transformar, separar, dissociar, para a direita e para a esquerda (anodo e catodo) dois elementos que, desde sempre, se achavam contidos no misterioso seio daquele Imanifesto.

De modo análogo, a Realidade do Imanifesto do TODO se revela aos nossos sentidos e à nossa mente na forma de Algos manifestos, espírito e matéria.

No mundo dos seres orgânicos deparase-nos os fenômenos bi-polar do vivo (positivo, anodo) e do morto (negativo, catodo); mas anterior aos indivíduos vivos e indivíduos mortos há a Vida Universal. A Vida Universal, Cósmica, é anterior a qualquer indivíduo vivo ou morto; vivo ou morto são dois derivados da Vida inderivada.

Quando matamos um indivíduo vivo, destruímos um veículo que veiculava uma parcela da Vida Universal, a qual, por isso, deixa de se manifestar através desse canal; mas não destruímos a Vida, que é absolutamente indestrutível. A Vida é a própria realidade.

O nascer e o morrer dos indivíduos assemelha-se ao subir e ao descer das ondas na superfície do oceano; o oceano corresponde à Vida Universal, que não aumenta com o nascimento de um indivíduo vivo, nem diminui com a morte de um indivíduo morto. O Oceano Vital é absoluto, eterno, infinito, imutável - apenas as suas ondas, pequenas ou grandes, os indivíduos - é que surgem e descem, nascem e morrem, entram na zona visível do manifesto, e saem dessa zona submergindo no Invisível e Imanifesto.


Setas Para o Infinito - Huberto Rohden







“Pobre pelo espírito” é aquele que se libertou interiormente de todo o apego a qualquer objeto externo.
“Puro de coração” é aquele que se libertou, não só dos objetos externos, mas, também, do sujeito interno, isto é, daquilo que ele idolatrava como sendo o seu sujeito, o seu eu, embora fosse apenas o seu pseudo-eu, o seu pequeno ego físico-mental.
Quem se libertou dos bens materiais fora dele possui o “reino dos céus”, porque o seu reino já não é deste mundo; rejeitou a oferta do ego luciférico “eu te darei todos os reinos do mundo e sua glória” – mas quem se libertou, também, do maior pseudo bem dentro dele, o seu idolatrado ego personal, esse tem a certeza de “ver a Deus”, verá o verdadeiro Deus, porque olha para além do seu falso eu.
De maneira que ser puro de coração é ainda mais glorioso do que ser pobre pelo espírito; ser interiormente livre da obsessão do ego vivo é mais do que ser livre da escravidão da matéria morta. Aliás, ninguém pode ser realmente livre da matéria morta dos bens externos sem ser livre da ilusão do ego vivo, porque tudo que eu chamo “meu” é apenas um reflexo e uma consequência do meu falso “eu”, o ego físico -mental; se o meu falso eu se tivesse integrado no verdadeiro Eu, que é o Universo em mim, não teria eu necessidade alguma de me apegar àquilo que chamo “meu”, os bens individuais. Enquanto o pequeno eu não tiver em si suficiente segurança interna, necessita de buscar seguranças em fatores externos; mas a segurança interna torna supérflua as seguranças externas; o pequeno eu fez tantos ‘seguros de vida” porque não possui segurança. Age sob o impulso da lei da compensação.
A definitiva integração do pequeno ego físico -mental no grande Eu racional-espiritual é que é pureza de coração, que garante uma visão clara de Deus. Ninguém pode ver claramente o Deus transcendente do universo de fora antes de ver nitidamente o Deus imanente do universo de dentro.
Nas letras sacras — como também nos escritos de Mahatma Gandhi — “impureza” quer dizer egoísmo, e “pureza” significa o oposto, que é o amor universal a solidariedade cósmica. Os demônios, no Evangelho, são constantemente chamados ‘espíritos impuros”, porque são egoístas, tanto assim que procuram apoderar-se de corpos humanos, desequilibrando -os física e mentalmente, só para gozarem de certo conforto pessoal que essa obsessão lhes dá. Esse egoísmo é que é chamado “impureza”.
Gandhi, quando não conseguia fazer prevalecer os seus ideais entre os patrícios renitentes, recorria a um período de “self -purification”, mediante a oração e o jejum, porque atribuía essa falta de força espiritual ao seu egoísmo; para ele, egoísmo era impureza e fraqueza, ao passo que amor era pureza e força.
Certa teologia cristã, quando fala em impureza, entende apenas o abuso dos prazeres sexuais. Estes, certamente, também fazem parte do egoísmo humano, são o egoísmo da carne; mas não são a única nem mesmo a principal zona do egoísmo ou da impureza; todo e qualquer egoísmo é impureza. Os demônios de que o Evangelho nos fala, eram “espíritos impuros”, embora não estivessem sujeitos à impureza sexual. Eram impuros por egoísmo.
O egoísta impuro não pode ver a Deus, que é amor puríssimo. O egoísmo, portanto, a egolatria, equivale a uma cegueira mental. Entre o Deus -amor e o homem egoísta se ergue, por assim dizer uma muralha opaca que intercepta a luz divina. Enquanto o homem não ultrapassar as estreitas barreiras do seu ego personal, está com o s olhos vendados, separados de Deus por uma camada impermeável à luz, que é a impureza do coração. Por mais que um ególatra ouça falar em Deus, nada compreende, porque compreender supõe ser. Ninguém pode compreender senão aquilo que ele vive ou é no seu íntimo ser. Entender é um ato mental, mas compreender é uma atitude vital; entender mentalmente é uma função parcial, unilateral do nosso ego humano — compreender é uma vivência total, unilateral, do nosso Eu divino. Quem não é divino não pode saber o que é Deus. O egoísta é antidivino, e por isso não pode compreender o que é divino, não pode ver a Deus”, antes de adquirir “pureza de coração”.
“Ver a Deus” “ver o reino de Deus”, são expressões típicas que Jesus usa para designar a experiência direta da Realidade eterna, o contato íntimo com ela. Outros creem em Deus — mas só o puro de coração vê a Deus. O simples crer, embora necessário como estágio preliminar, não é suficiente para a definitiva redenção do homem, que consiste na vidência ou visão de Deus. “Bem-aventurados os puros de coração, porque eles verão a Deus”…
Huberto Rohden – o Sermão da montanha

Espiritualidade é um encontro ,
a partir de uma experiencia própria 
uma descoberta pessoal de Deus
que tem como base 
o amor, a fé e a aceitação,
é fonte de inspiração e transformação .


Nunca homem algum curou outro homem.
Nunca remédio algum curou alguém.
Nunca nenhum canal forneceu água para outro canal.



Somente a Fonte do Uno pode fornecer água, SEM ou ATRAVÉS de canais do Verso. Vida e Saúde são atributos exclusivos do Cosmos, do Uno, do Infinito. Se há falta de vida ou saúde no homem, a falta não é do cosmos, mas do homem. O cosmos é imparcial, não falha jamais, não tem preferências nem favoritismos para com ninguém. O médico, o psiquiatra, o curador não podem remover o obstáculo creado pelo doente; mas pode servir de seta indicadora na encruzilhada; podem funcionar como CATALISADORES. Catalisador, na química, é uma substância cuja simples presença fa com que o fator catalisante se modifique a si mesmo. O catalisador é algo parecido com o GURU, o mestre espiritual, cuja simples presença dinâmica beneficia o discípulo. Aura, fluído, graça — palavras usadas por Paul Brunton, por Mouni Sadhu e por muitos outros, para designar a atuação misteriosa que um verdadeiro mestre irradia sobre certos discípulos quando devidamente sintonizados. Dissipam-se as dúvidas, amainam as tempestades, serenam as angústias, em face do poderoso catalisador. 

Esta presença catalisante, porém, deve ser uma presença qualitativa, e não simples presença física do mestre. Deve ser uma presença cosmo-dinâmica, cristo-dinâmica, que se origina por uma cosmo-consciência de alta voltagem, do tipo "eu e o Pai somos um, o Pai está em mim, e eu estou no Pai". O catalisador não age pelo que DIZ, FAZ, PENSA ou QUER conscientemente, em ato, mas, sim, pelo que ele É extraconscientemente, em atitude. A sua atuação catalítica provém do seu íntimo SER, e não do seu externo FAZER. Esse intimo ser revela-se como AURA, FLUÍDO, VIBRAÇÃO, GRAÇA, vibrações não acessíveis aos sentidos nem ao intelecto do homem profano. Estas vibrações — "a graça do mestre" — atuam poderosamente sobre as pessoas que possuam a necessária IDONEIDADE RECEPTIVA. 

"Quando o discípulo está pronto, então o mestre aparece". 

Huberto Rohden - Cosmoterapia: a cura dos males humanos pela Consciência Cósmica


Penso com horror nas minhas preces de outrora,
Quando eu pedia alguma coisa
Vida, saúde, prosperidade e outros ídolos
Como se algo houvesse de real,
Fora de ti, meu Deus,
Realidade única, total, absoluta!

Como se em ti não estivessem contidas
Todas as coisas do universo!...

Como se todos esses pequenos "realizados"
Não fossem reflexos de ti, o grande "Real"!...

Tamanha era a minha ilusão dualista,
Que eu julgava poder possuir algum efeito individual
Sem possuir a Causa Universal!...

Hoje morreu em mim toda essa idolatria,
Esse ilusório dualismo objetivo.

Redimido pela verdade libertadora,
Sinto, hoje, nas profundezas do meu Ser,
O grande monismo do Universo.

Hoje, o alvo das minhas orações
És tu, Senhor, unicamente tu.

Hoje, sei e sinto que, possuindo a ti,
Possuo em ti todas as coisas
Que de ti emanaram,
E em ti ficaram.
..




Todas as coisas que, por mais distintas de ti,
São todas iminentes em ti.

Porque tu és a eterna Essência
De todas essas Existências temporárias.

Hoje não quero mais nada
Senão a ti somente, Senhor,
Porque em ti está tudo
Que, fora de ti, parece existir.

E, porque assim te amo, Senhor,
Amo também tudo que é teu,
Tudo que, disperso pelo cenário cósmico,
Veio de ti,
Está em ti,
Voltará a ti.

Revestiu-se de mística sacralidade
O meu antigo amor profano,
Desde que vejo o Deus do mundo
Em todas as coisas do mundo de Deus.

E o pecado das minhas orações de outrora
Foi remido pela verdade da minha prece de hoje.
(Huberto Rohden)