Mario Quintana



Pai

Por acaso, surpreendo-me no espelho:
    Quem é esse que me olha e é tão mais velho que eu? (...)
    Parece meu velho pai – que já morreu! (...)
    Nosso olhar duro interroga:
    "O que fizeste de mim?" Eu pai? Tu é que me invadiste.
    Lentamente, ruga a ruga... Que importa!
    Eu sou ainda aquele mesmo menino teimoso de sempre
    E os teus planos enfim lá se foram por terra,
    Mas sei que vi, um dia – a longa, a inútil guerra!
    Vi sorrir nesses cansados olhos um orgulho triste..."

      MARIO QUINTANA

O Milagre

Dias maravilhosos em que os jornais vêm cheios de poesia... e do lábio do amigo brotam palavras e eterno encanto... Dias mágicos... em que os burgueses espiam, através das vidraças dos escritórios, a graça gratuita das nuvens...

[Mário Quintana]



Quem disse que a poesia é apenas

agreste avena?
A poesia é eterna Tomada da Bastilha
o eterno quebra-quebra
o enforcar de judas, executivos e catedráticos em
[todas as esquinas
e,
a um ruflar poderoso de asas,
entre cortinas incendiadas,
os Anjos do Senhor estuprando as mais belas 
[dos mortais...

Deles, nascem os poetas.
Não todos...Os legítimos
espúrios:
um Rimbaud, um Poe, um Cruz e Souza...

(Rege-os, misteriosamente, o décimo terceiro signo do
[zodíaco.) 

Mario Quintana
In Esconderijo do Tempo

Canção do dia de sempre 


Tão bom viver dia a dia... 
A vida assim, jamais cansa...






Viver tão só de momentos 

Como estas nuvens no céu... 



E só ganhar, toda a vida, 

Inexperiência... esperança... 

E a rosa louca dos ventos 
Presa à copa do chapéu. 

Nunca dês um nome a um rio: 
Sempre é outro rio a passar. 

Nada jamais continua, 
Tudo vai recomeçar! 

E sem nenhuma lembrança 
Das outras vezes perdidas, 
Atiro a rosa do sonho 
Nas tuas mãos distraídas... 

( Mario Quintana )



"Na convivência, o tempo não importa




Se for um minuto, uma hora, uma vida.





O que importa é o que ficou deste minuto,


desta hora, desta vida... 


Lembra que o que importa


é tudo que semeares colherás.


Por isso, marca a tua passagem, 


deixa algo de ti, 


do teu minuto, 


da tua hora, 


do teu dia,


da tua vida."


(Mário Quintana)

EVOLUÇÃO

Todas as noites o sono nos atira da beira de um cais
e ficamos repousando no fundo do mar.
Onde tudo começa...
Onde tudo se refaz...
Até que, um dia, nós criaremos asas.
E andaremos no ar como se anda em terra.

Mario Quintana
In Esconderijo do Tempo



A coisa mais solitária do mundo é um solo de flauta
Em compensação a tua cabeça está cheia de borboletas estrídulas
Mas eu deixo tombar das minhas mãos o pandeiro de guizos
E, na verdade, o que eu tenho é uma alma de violoncelo
- grave, profunda e triste...

Mario Quintana
In Velório sem Defunto




I
Quando a idade dos reflexos, rápidos, inconscientes,
 cede lugar à idade das reflexões - terá sido a   
sabedoria que chegou? Não! Foi apenas a velhice.
II
Velhice é quando um dia as moças começam a nos
tratar com respeito e os rapazes sem respeito nenhum.
III
Ora, ora! não se preocupe com os anos que já faturou:
a idade é o menor sintoma de velhice.  
Mario Quintana
In A Vaca e o Hipogrifo


Mas há uma beleza interior, de entro para fora, a transluzir de certas avozinhas trêmulas, de certos velhos nodosos e graves como troncos. De que será ela feita, que nem notamos como a erosão dos anos os terá deformado. Deviam ser caricaturas mas não fazem rir, uns aleijões mas não causam pena. O mesmo não nos acontece ante o penoso espetáculo de um animal velho. Eu gostaria de acreditar que essa inexplicável beleza dos velhos talvez fosse uma prova da existência da alma.
Mario Quintana
In Na Volta da Esquina
arte Young Old by Julia Swartz

Naquele nevoeiro
Profundo profundo...
Amigo ou amiga,
Quem é que me espera?
Quem é que em espera,
Que ainda me ama,
Parado na beira
Do cais do Outro Mundo?
Que rosto esquecido...
Ou radiante face
Puro sorriso
De algum novo amor?!
Mario Quintana
In O Aprendiz de Feiticeiro


 No princípio era o verbo. O verbo Ser. Conjugava-se
apenas no infinitivo. Ser, e nada mais.
Intransitivo absoluto.
Isto foi no princípio. Depois transigiu, e muito.
Em vários modos, tempos e pessoas: eu, tu, ele, nós ,vós,
eles...
Principalmente eles!
E, ante essa dispersão lamentável, essa verdadeira explosão
do SER em seres, até hoje os anjos ingenuamente se
interrogam por que motivo as referidas pessoas chamam a
isso de CRIAÇÃO...
Mario Quintana
In Na Volta da Esquina

Esporte
"O único esporte que pratico é a luta livre com o meu Anjo da Guarda".
?
"Que artista teria inventado o nosso ponto de interrogação? Ele já tem a forma de uma orelha que  
  escuta."

Não olhe para os lados
"Seja um poema, uma tela, ou o que for, não procure ser diferente. O segredo está em ser indiferente"
Mario Quintana
In Porta Giratória

O poeta canta a si mesmo
porque nele é que os olhos das amadas
têm esse brilho a um tempo inocente e perverso...

O poeta canta a si mesmo
porque num único verso
pende - lúcida, amarga -
uma gota fugida a esse mar incessante do tempo...
Porque o seu coração é uma porta batendo
a todos os ventos do universo.

Porque além de si mesmo ele não sabe nada
ou que Deus por nascer está tentando agora
                                [ ansiosamente respirar
neste seu pobre ritmo disperso!

O poeta canta a si mesmo
porque de si mesmo é diverso.
Mario Quintana
In Esconderijos do Tempo
Antes, muito antes que o rádio houvesse conspurcado
os espaços, escrevi em Alegrete um poema de
que apenas recordo estes versos:
"entre a minha casa e a tua
  há uma ponte de estrelas"
Era uma ponte de silêncio...Quando muito, uma
nova Ponte de Suspiros.Agora Maria acaba de me
telefonar do Rio. Não era a voz dela.Havia algo de
mecânico e metálico, de inumano naquela voz,
como se fora a voz de uma maria-robô.Faltava-lhe
esse calor humano que só a presença animal de uma
pessoa nos pode transmitir...e que faz com que 
qualquer mentira tenha tanta verdade!

Mario Quintana
In Na Volta da Esquina
Quem  disse que a poesia é apenas

agreste avena?

A poesia é a eterna Tomada da Bastilha

o eterno quebra-quebra

o enfocar de Judas, executivos e catedrático sem todas

[as esquinas

e,
a um rufar poderoso de asas,
entre cortinas incendiadas ,
Os Anjos do Senhor estuprando as mais belas filhas
[ dos mortais...
Deles, nascem os poetas.
Não todos...Os legítimos
espúrios:
um Rimbaud, um Poe, um Cruz e Souza...



(Rege-os, misteriosamente, o décimo terceiro signo
[ do zodíaco.)



Mario Quintana
In Antologia Poética

Eu fiz um poema belo
e alto
como um girassol de Van Gogh
como um copo de chope sobre o mármore
de um bar
que um raio de sol atravessa
eu fiz um poema belo como um vitral
claro como um adro...
Agora
não sei que chuva o escorreu
suas palavras estão apagadas
Alheias um à outra como as palavras de um dicionário
Eu sou como um arqueólogo decifrando as cinzas de 
[ uma cidade morta.
O vulto de um velho arqueólogo curvado sobre a terra...
Em que estrela, amor, o teu riso estará cantando?

Mario Quintana
In Antologia Poética

 VENTO E A CANÇÃO

para Tania Franco Carvalho

Só o vento é que sabe versejar:
Tem um verso a fluir que é como um rio de ar.

E onde a qualquer momento podes embarcar:
O que ele está cantando é sempre o teu cantar.

Seu grito é o grito que querias dar,
É ele a dança que ias tu dançar.

E, se acaso quisesses te matar,
Te ensinava cantigas de esquecer

Te ensinava cantigas de embalar...
E só um segredo ele vem te dizer...

- é o que o voo do poema não pode parar.

Mario Quintana
In 80 Anos de Poesia



MONOTONIA

É segundo por segundo
Que vai o tempo medindo
Todas as coisas do mundo
Num só tic-tac, em suma,
Há tanta monotonia
Que até a felicidade,
Como goteira num balde,
Cansa, aborrece, enfastia...
E a própria dor - quem diria? -
A própria dor acostuma.
E vão se revezando, assim,
Dia e noite, sol e bruma...
E isto afinal não cansa?
Já não há gosto e desgosto
Quando é prevista a mudança.
Ai que vida!
Ainda bem que tudo acaba...
Ai que vida tão comprida...
Se não houvesse a morte,Maria,
Eu me matava!

Mario Quintana
EXTRA-TERRENA
(para Cecília Meireles)

Nós colhíamos flores de hastes muito longas
E cujos nomes nem ao menos conhecíamos...
E nem sequer, também, sabíamos os nossos nomes...
E para quê, se um para o outro éramos Tu, apenas...
Ou quem sabe se a Morte nos houvera bordado
numa tapeçaria
A que o vento emprestasse a vida por um momento?
E por isso os nossos gestos eram ondulantes como
as plantas marinhas
E as nossas palavras como asas suspensas 
no vento...

Mario Quintana
In Preparativos de Viagem

QUEM BATE?

Cecília.Cecília que chega de um pátio da infância...
Traz ainda sereno nas tranças, seus sapatinhos andaram
pulando na grama...Depois assenta-se nos degraus da
torre, e canta...
Mas o chaveiro do sonho pegou-lhe as tranças, teceu
cordoalhas para o seu navio.Mas o chaveiro do sonho
pegou-lhe a canção...E fez um vento longo e triste.
E eu pensava que toda a minha tristeza vinha apenas
do vento, da solidão do mar, da incerteza daquela
viagem num navio perdido. 

Mario Quintana
In Sapato Florido

A NOITE GRANDE

Sem o coaxar dos sapos ou o cricri dos grilos

como é que poderíamos dormir tranquilos
a nossa eternidade? Imagina
uma noite sem o palpitar das estrelas
sem o fluir misterioso das águas.
Não digo que a gente saiba que são águas
estrelas
grilos...
- morrer é simplesmente esquecer as palavras.
E conhecermos Deus, talvez,
sem o terror da palavra DEUS!

Mario Quintana

In Esconderijos do Tempo

A CANÇÃO DO MAR

Esse embalo das ondas

Das ondas do mar
Não é um embalo
Para te ninar...

O mar é embalado

Pelos afogados!

O canto do vento

Do vento no mar
Não é um canto
Para te ninar...

São eles que tentam

Que tentam falar!

Tiveram um nome

Tiveram um corpo
Agora são vozes
Do fundo do mar...

Um dia viremos

Vestidos de algas

Os olhos mais verdes

Que as ondas amargas

Um dia viremos

Com barcos e remos

Um dia...


Dorme filhinha...

São vozes, são vento, são nada...

Mario Quintana

In Esconderijos do Tempo
QUINTANARES

"Não esquecer que as nuvens estão improvisando

sempre, mas a culpa é do vento."

"Mas para que interpretarem um poema? Um poema

já é uma interpretação."

"O ruim dos filmes de Far West é que os tiroteiros 

acordam a gente no melhor do sono."

"Nós não perdemos os mortos, os mortos é que nos

perdem."

"Buscas a perfeição? Não sejas vulgar. A autenticidade

é muito mais difícil."

"Se não fosse Van Gogh, o que seria do amarelo?"


"Ser poeta não é dizer grandes coisas; mas ter uma 


voz reconhecível dentre todas as outras."

by Caderno H

Mario Quintana nasceu em 30 de julho de 1906...


ALMA ERRADA

Há coisas que a minha alma, já mortificada não admite:
assistir novelas de TV
ouvir música Pop
um filme apenas de corridas de automóvel
uma corrida de automóvel num filme
um livro de páginas ligadas
porque, sendo bom, a gente abre sofregamente a dedo:
espátulas não há… e quem é que hoje faz questão de virgindades…
E quando minha alma estraçalhada a todo instante pelos telefones
fugir desesperada
me deixará aqui,
ouvindo o que todos ouvem, bebendo o que todos bebem,
comendo o que todos comem.
A estes, a falta de alma não incomoda. (Desconfio até
que minha pobre alma fora destinada ao habitante de outro mundo).
E ligarei o rádio a todo o volume,
gritarei como um possesso nas partidas de futebol,
seguirei, irresistivelmente, o desfilar das grandes paradas do Exército.
E apenas sentirei, uma vez que outra,
a vaga nostalgia de não sei que mundo perdido…

Mário Quintana


O Milagre

Dias maravilhosos em que os jornais vêm cheios de poesia... e do lábio do amigo brotam palavras e eterno encanto... Dias mágicos... em que os burgueses espiam, através das vidraças dos escritórios, a graça gratuita das nuvens...

[Mário Quintana]


Um dia...Pronto!...Me acabo.
Pois seja o que tem de ser.
Morrer: Que me importa?
O diabo é deixar de viver.

[Mário Quintana]


J. Krishnamurti I

Sobre o Amor - Krishnamurti


"Sabemos pouco do amor, da sua extraordinária ternura e poder. 


Muito facilmente usamos a palavra "amor"; o militar usa-a, o carniceiro usa-a, o homem rico usa-a, assim como o rapaz e a moça. 
Mas sabemos pouco do amor, da sua vastidão, da sua imortalidade, 
da sua profundidade. 



Amar é ter consciência da eternidade.



O relacionamento é uma coisa estranha; muito facilmente caímos na habituação a um relacionamento particular, onde as coisas são tomadas como garantidas, com a situação aceite, não se tolerando qualquer variação; não se considera nenhum movimento em direção à incerteza, mesmo por um segundo. 



Tudo é de tal modo regulado, tornado «seguro», bem amarrado, que não há qualquer hipótese de frescura, de um respirar revivificador. 



A isto, e a muito mais, se chama relacionamento. Se observarmos de muito perto, verificamos que o verdadeiro relacionamento é muito mais subtil, mais rápido que um relâmpago, mais vasto do que a Terra, pois ele é vida. A vida é conflito.



Queremos fazer do relacionamento uma coisa grosseira, rígida, manipulável. Deste modo, ele perde a sua fragrância, a sua beleza. 
Isto surge porque não amamos, e o amor é certamente a maior das coisas, pois nele acontece o completo abandono de nós mesmos.(...) 



É preciso grande inteligência para um homem e uma mulher se esquecerem de si mesmos, para poderem viver juntos, não se rendendo um ao outro ou não sendo dominados um pelo outro. 
O relacionamento é a coisa mais difícil da vida.(...)



Não sei, mas o amor incendeia-me. É uma chama inextinguível. Tenho tanto disso, que quero dá-lo a todos, e dou. 



É como um grande rio, que alimenta e rega cada vila e aldeia; ele vai sendo poluído, deságua nele a porcaria do ser humano, mas depressa as águas se purificam a si próprias, e rapidamente segue em frente. 
Nada pode estragar o amor, pois todas as coisas se dissolvem nele - o bom e o mau, o feio e o belo. 



O amor é algo que é a sua própria eternidade.



O amor é um coisa "perigosa", só ele traz a única revolução que proporciona felicidade.São poucos os que são capazes de amar, e tão poucos os que realmente querem o amor.



Amamos segundo as nossas próprias condições, fazendo do amor um coisa de mercado. Temos mentalidade mercantil, mas o amor não é comercializável nem é um negócio de troca.



O amor é um estado de ser, no qual todos os problemas humanos se resolvem. Vamos ao poço com um dedal e assim a vida torna-se uma coisa sem qualidade, insignificante e limitada."
J. Krishnamurti em Cartas a uma jovem amiga


A Pérola


Krishnamurti e a VERDADE:
“Eu afirmo que a Verdade é uma terra sem caminhos, e vocês não podem alcançá-la por nenhum caminho, qualquer que seja, por nenhuma religião, por nenhuma seita. Este é o meu ponto de vista, e eu o confirmo absoluta e incondicionalmente. A Verdade, sendo ilimitada, incondicionada, inacessível por qualquer caminho que seja, não pode ser organizada; nem pode qualquer organização ser constituída para conduzir ou coagir pessoas para qualquer senda particular. Se vocês logo compreenderem isso, verão o quanto é impossível organizar uma crença. Uma crença é algo puramente individual, e vocês não podem e não devem organizá-la. Se o fizerem, ela se torna morta, cristalizada; torna-se um credo, uma seita, uma religião a ser imposta aos outros. Isto é o que todos estão tentando fazer mundo afora. A Verdade é restringida e usada como joguete por aqueles que são fracos, por aqueles que estão apenas momentaneamente desgostosos. A Verdade não pode ser rebaixada, mas, em vez disso, deve o indivíduo fazer esforço para ascender até ela. Vocês não podem trazer o topo da montanha para o vale. Se querem atingir o cume da montanha, vocês devem atravessar o vale e escalar as escarpas sem medo dos perigosos precipícios”.
  1. Cristo disse através de Jesus: “Há muitos que estão à porta, mas são os solitários que entrarão nos aposentos nupciais.” 
  1. O Reino do Pai é semelhante a um comerciante que tinha mercadorias em consignação e encontrou uma pérola. Esse comerciante era sensato; vendeu as mercadorias e comprou só a pérola para si. Vós, também, procurai esse infalível e duradouro tesouro, onde nenhuma traça vem para comer, nem nenhum verme destrói.” 
  1. Cristo disse: “Sou eu que sou a luz que está acima de todos eles. Sou eu que sou o Todo. De mim saiu o Todo e até mim chegou o Todo. Rachai um pedaço de madeira, e eu estou lá. Levantai uma pedra e aí me encontrareis.” 
  1. “Por que saístes para o deserto? Para ver um caniço agitado pelo vento? E para ver um homem vestido com roupas finas, como os vossos reis e os vossos grandes homens? Cobrem-nos roupas finas, mas são incapazes de perceber a verdade.”  –  Evangelho Apócrifo de Tomé


A verdade esta dentro de cada um, por Krishnamurti

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Jiddu Krishnamurti (Madanapalle, 11 de maio de 1895 — Ojai, 17 de fevereiro de 1986)
Krishnamurti foi um mestre, filósofo, escritor, e educador indiano. Proferiu discursos que envolveram temas como revolução psicológica, meditação, conhecimento, liberdade, relações humanas, a natureza da mente, a origem do pensamento e a realização de mudanças positivas na sociedade global. Constantemente ressaltou a necessidade de uma revolução na psique de cada ser humano e enfatizou que tal revolução não poderia ser levada a cabo por nenhuma entidade externa ao próprio indivíduo, seja religiosa, política ou social. Uma revolução que só poderia ocorrer através do autoconhecimento; bem como da prática correta da meditação ao homem liberto de toda e qualquer forma de autoridade psicológica.
Com a idade de treze anos, passou a ser educado pela Sociedade Teosófica, que o considerava um dos grandes Mestres do mundo. Em Adyar, Krishnamurti, foi”descoberto” por Charles W. Leadbeater, famoso membro da Sociedade Teosófica (ST), em abril de 1909, que, após diversos encontros com o menino, viu que ele estava talhado para se tornar o ‘Instrutor do Mundo’, acontecimento que vinha sendo aguardado pelos teosofistas. Após dois anos, em 1911 foi fundada a Ordem Internacional da Estrela do Oriente, com Krishnamurti como chefe, que tinha como objetivo reunir aqueles que acreditavam nesse acontecimento e preparar a opinião pública para o seu aparecimento, com a doação de diversas propriedades e somas em dinheiro.
A Ordem da Estrela no Oriente foi fundada em 1911 para proclamar o advento do Instrutor do Mundo (o novo Maitreya). Krishnamurti fora nomeado o Dirigente da Ordem. Em 3 de agosto de 1929, dia da abertura do Acampamento Anual da Estrela, em Ommen, Holanda, para espanto dos participantes do encontro, Krishnamurti dissolveu a Ordem diante de cerca de 3.000 membros. A seguir está o texto completo da palestra que ele deu naquela ocasião:
“Vamos discutir nesta manhã a dissolução da Ordem da Estrela. Muitas pessoas ficarão encantadas, enquanto outras ficarão um tanto tristes. Não é uma questão nem para júbilo nem para tristeza, porque é inevitável, como eu vou explicar. “É possível que vocês se lembrem da história de como o diabo e um amigo dele estavam descendo a rua quando viram à sua frente um homem se agachar e pegar algo do chão, dar uma olhada e colocar no bolso. O amigo perguntou ao diabo: “Que foi que o homem pegou?” “Ele pegou um pedaço da verdade”, respondeu o diabo. “Isso é um negócio muito ruim pra você, então”, disse o amigo dele. “Oh, de modo algum”, retrucou o diabo, “Vou deixar que ele a organize”.
Eu afirmo que a Verdade é uma terra sem caminhos, e vocês não podem alcançá-la por nenhum caminho, qualquer que seja, por nenhuma religião, por nenhuma seita. Este é o meu ponto de vista, e eu o confirmo absoluta e incondicionalmente. A Verdade, sendo ilimitada, incondicionada, inacessível por qualquer caminho que seja, não pode ser organizada; nem pode qualquer organização ser constituída para conduzir ou coagir pessoas para qualquer senda particular. Se vocês logo compreendem isso, verão o quanto é impossível organizar uma crença. Uma crença é algo puramente individual, e vocês não podem e não devem organizá-la.
Se o fizerem, ela se torna morta, cristalizada; torna-se um credo, uma seita, uma religião a ser imposta aos outros. Isto é o que todos estão tentando fazer mundo afora. A Verdade é restringida e usada como joguete por aqueles que são fracos, por aqueles que estão apenas momentaneamente desgostosos. A Verdade não pode ser rebaixada, mas, em vez disso, deve o indivíduo fazer esforço para ascender até ela. Vocês não podem trazer o topo da montanha para o vale. Se querem atingir o cume da montanha, vocês devem atravessar o vale e escalar as escarpas sem medo dos perigosos precipícios.
Portanto, esta é a primeira razão, do meu ponto de vista, pela qual a Ordem da Estrela deva ser dissolvida. Não obstante, vocês provavelmente formarão novas Ordens, continuarão a pertencer a outras organizações em busca da Verdade. Eu não quero pertencer a nenhuma organização do gênero espiritual, por favor, compreendam isto. Eu faria uso de qualquer organização que me levasse a Londres, por exemplo; isso é um tipo bastante diferente de organização, meramente mecânica, como o correio e o telégrafo. Eu usaria um automóvel ou um navio para viajar, esses são apenas mecanismos físicos, os quais nada têm a ver com espiritualidade. Novamente, eu sustento que nenhuma organização pode conduzir o homem à espiritualidade (e a descoberta de SI MESMO).



Se uma organização for criada com esse propósito, ela se transforma numa muleta, um ponto fraco, uma dependência, incapacita o indivíduo, e impede-o de crescer, de estabelecer sua singularidade, que reside na descoberta que ele deve fazer – por si mesmo – daquela Verdade absoluta, não condicionada. Esta é, portanto, outra razão pela qual eu decidi, uma vez que aconteceu de ser eu o Dirigente da Ordem da Estrela, dissolvê-la. Ninguém persuadiu-me a tomar esta decisão. Isto não é nenhuma grande façanha, porque eu não quero seguidores, deixo isso claro. No momento em que vocês seguem alguém, deixam de seguir a Verdade.
Não estou preocupado em saber se vocês prestam atenção ao que eu digo ou não. Eu quero fazer determinada coisa no mundo e eu vou fazê-la com resoluta concentração. Estou interessado somente numa coisa essencial: libertar o ser humano. Eu desejo libertá-lo de todas as prisões, de todos os temores, e não fundar religiões, novas seitas, nem estabelecer novas teorias e novas filosofias. Então vocês naturalmente me perguntam por que eu sigo mundo afora, falando continuamente. Eu lhes direi por que razão eu faço isso: não porque eu deseje seguidores, não porque eu queira um grupo especial de discípulos especiais. (Como os homens gostam de ser diferentes de seus semelhantes, por ridículas, absurdas e banais que suas distinções possam ser, inclusive o uso de vestimentas e adereços especiais! Eu não quero encorajar esse disparate).
Não tenho discípulos ou apóstolos, quer na terra quer no reino da espiritualidade. “Não é a sedução do dinheiro nem o desejo de viver uma vida confortável o que me atrai. Se eu quisesse uma vida confortável eu não teria vindo a um acampamento ou a viver num país úmido. Estou falando francamente porque quero isso estabelecido de uma vez por todas. Não quero essas discussões pueris ano após ano.
Um jornalista que me entrevistou considerou uma façanha o ato de dissolver uma organização na qual havia milhares e milhares de membros. Para ele isso foi um grande feito, porque ele disse: “O que você fará doravante, como você viverá? Você não terá nenhum séquito, as pessoas não mais o ouvirão”. Se houver apenas cinco pessoas que ouçam, que tenham suas faces voltadas para a eternidade, isso será suficiente. De que serve ter milhares de pessoas que não compreendem, que estão totalmente imersas em preconceitos, que não querem o novo, mas que até mesmo traduziriam o novo para satisfazerem seus próprios eus estéreis e estagnados?
Se eu falo de forma contundente, por favor, não me entendam mal, não é por falta de compaixão. Se voces vão a um cirurgião para uma operação, não seria bondade da parte dele operar mesmo que lhes cause dor? Da mesma forma, se eu falo de maneira direta, não é por falta de afeto verdadeiro – pelo contrário. Tal como disse, tenho um só propósito: tornar o homem livre, impulsioná-lo para a liberdade, auxiliá-lo a romper com todas as limitações, por que somente isso lhe trará felicidade eterna, lhe dará a incondicionada realização do ser. Porque eu sou livre, incondicionado, completo, não a parte – não a relativa mas a Verdade inteira que é eterna – eu desejo que aqueles que buscam compreender-me sejam livres: não que me sigam, não que façam de mim uma prisão que se transforme em religião, uma seita. 

Ao contrário, eles deveriam estar livres de todos os medos, do medo da religião, do medo da salvação, do medo da espiritualidade, do medo do amor, do medo da morte, do medo da própria vida. Assim como um artista pinta um quadro porque se deleita com essa pintura, porque ela é sua autoexpressão, sua glória, seu bem-estar, assim faço isso, e não porque eu queira algo de alguém. “Vocês estão acostumados com a autoridade, ou com a atmosfera de autoridade, a qual vocês acham que os conduzirá à espiritualidade. Vocês pensam e esperam que alguém possa, por meio de seus extraordinários poderes – um milagre – transportá-los a esse reino de eterna liberdade que é a Felicidade. Toda sua concepção de vida está baseada nessa autoridade.
Vocês têm-me ouvido por três anos, sem que qualquer mudança tenha ocorrido, exceto em uns poucos. Analisem agora o que eu estou dizendo, sejam críticos, de forma que vocês entendam radicalmente, fundamentalmente. Quando vocês procuram uma autoridade que os conduza à espiritualidade, vocês são automaticamente instados a construir uma organização em torno daquela autoridade. Pela simples criação de tal organização, a qual, vocês pensam, auxiliará essa autoridade a conduzi-los à espiritualidade, vocês estão encerrados numa prisão.
Se falo com franqueza, por favor, lembrem-se de que assim o faço não por aspereza, não por crueldade, não por entusiasmo do meu propósito, mas porque eu quero que vocês entendam o que eu estou dizendo. Esta é a razão porque vocês estão aqui, e seria uma perda de tempo se eu não explicasse claramente, decisivamente, meu ponto de vista. “Por dezoito anos vocês vêm-se preparando para este evento, para a Vinda do Instrutor do Mundo. Durante dezoito anos vocês se organizaram, procuraram alguém que desse um novo deleite para seus corações e mentes, que transformasse toda a sua vida, que lhes desse uma nova compreensão; por alguém que os alçasse a um novo plano de vida, que lhes desse um novo alento, que os libertasse – mas agora, vejam o que está acontecendo!
Reconsiderem, ponderem consigo mesmos, e descubram de que maneira essa crença os tornou diferentes – não com a diferença superficial de usar de um crachá, que é banal, absurda. De que maneira tal crença lhes varreu da vida todas as coisas inessenciais? Essa é a única maneira de ponderar: de que modo vocês estão mais livres, mais nobres, mais perigosos para qualquer Sociedade que seja baseada no falso e no inessencial? De que maneira os membros desta organização da Estrela tornaram-se diferentes? Como eu disse, vocês vêm-se preparando para mim durante dezoito anos. Não me importa se vocês acreditam que eu sou o Instrutor do Mundo ou não. Isto tem muito pouca importância. Desde que vocês pertencem à organização da Ordem da Estrela, vocês têm dado seu apoio, sua energia, reconhecendo que Krishnamurti é o Instrutor do Mundo – parcial ou inteiramente: totalmente, por aqueles que estão realmente buscando, apenas parcialmente por aqueles que estão satisfeitos com suas próprias meias verdades.

Vocês vêm-se preparando por dezoito anos, e vejam quantas dificuldades há no processo de sua compreensão, quantas complicações, quantas coisas vulgares. Seus preconceitos, seus temores, suas autoridades, suas igrejas, novas e antigas, tudo isso, afirmo, são uma barreira para a compreensão. Não consigo fazer-me mais claro do que isso. Não quero que concordem comigo, não quero que me sigam, quero que entendam o que eu estou dizendo. “Essa compreensão é necessária porque sua crença não os transformou, mas apenas os complicou, e porque vocês não estão dispostos a enfrentar as coisas como elas são.
Vocês querem ter seus próprios deuses, – novos deuses em vez dos antigos, novas religiões no lugar das antigas, novas fórmulas no lugar das antigas, todos igualmente sem valor, todos barreiras, todos limitações, todos muletas. No lugar de velhas preferências espirituais vocês têm novas preferências espirituais, em vez de antigas adorações vocês têm novas adorações. Todos vocês dependem, para sua espiritualidade, para sua felicidade, para sua iluminação, de outra pessoa; e nada obstante vocês estejam se preparando para mim por dezoito anos, quando eu digo que essas coisas são inúteis, quando eu digo que vocês devem jogá-las fora e olhar para dentro de vocês próprios para a iluminação, para a glória, para a purificação, e para a incorruptibilidade do ser, nenhum de vocês está disposto a fazê-lo. Pode haver uns poucos, mas muito, muito poucos. Então, por que se ter uma organização?
Por que ter pessoas falsas, hipócritas me seguindo, a personificação da Verdade? Por favor, lembrem-se de que não estou dizendo algo cruel ou indelicado, mas chegamos a uma situação em que vocês têm que enfrentar as coisas como elas são. Eu disse no ano passado que não transigiria. Muito poucos me ouviram, então. Este ano eu tornei isso absolutamente claro. Eu não sei como milhares de pessoas mundo afora – membros da Ordem – têm-se preparado para mim durante dezoito anos, e ainda agora não querem escutar incondicionalmente, inteiramente o que eu digo.
Tal como disse antes, meu propósito é tornar o ser humano incondicionalmente livre, daí eu reafirmo que a única espiritualidade é a incorruptibilidade do eu que é eterno, é a harmonia entre razão e amor. Esta é a absoluta, incondicionada Verdade que é a própria Vida. Quero, por isso, libertar o ser humano, exultante como o pássaro no céu claro, aliviado, independente, extático nessa liberdade. E eu, para quem vocês estão se preparando por dezoito anos, digo agora que vocês devem estar livres de todas essas coisas, livres de suas complicações, suas confusões. Para isto vocês precisam não possuir uma organização baseada em crença espiritual. Por que ter uma organização para cinco ou dez pessoas no mundo que compreendem, que estão batalhando, que puseram de lado todas as coisas banais?
E para as pessoas frágeis não pode haver organização nenhuma que as ajude a encontrar a Verdade, porque a verdade está dentro de todos; ela não está longe nem perto; está eternamente aí, DENTRO DE CADA UM. Organizações não podem torná-los livres. Nenhum homem de fora pode torná-los livres; nem o pode o culto organizado, nem a imolação de vocês mesmos por uma causa os torna livres; nem enfileirando-se em uma organização, nem lançando-se em trabalhos, os torna livres. Vocês usam uma máquina de escrever para escrever cartas, mas vocês não a colocam em um altar e a adoram. Mas é isto que vocês estão fazendo quando as organizações tornam-se seu principal interesse.
“Quantos membros ela tem?” Esta é a primeira pergunta que me fazem os jornalistas. “Quantos seguidores você tem? Pelo número deles julgaremos se o que você diz é verdadeiro ou falso”. Não sei quantos eles são. Não estou preocupado com isso. Como disse, se houvesse mesmo um que se tenha tornado livre, isso seria suficiente. De novo, vocês têm a ideia de que somente determinadas pessoas possuem a chave do Reino da Felicidade. Ninguém a possui. Ninguém tem a autoridade para possuir tal chave. Essa chave é seu próprio eu, e no desenvolvimento e na purificação e na incorruptibilidade desse eu particular está o Reino da Eternidade.
Então vocês verão como é absurda toda a estrutura que vocês construíram, procurando ajuda externa, dependendo de outros para o seu consolo, sua felicidade, para sua força. Estes somente podem ser encontrados dentro de vocês mesmos. Vocês estão acostumados a que lhes digam o quanto vocês avançaram, qual é sua posição espiritual. Quanta infantilidade! Quem além de você mesmo pode dizer se você está bonito ou feio por dentro? Quem além de você mesmo pode dizer se você é incorruptível? Vocês não são sérios nessas coisas.
Mas aqueles que realmente desejam compreender, aqueles que estão tentando encontrar o que é eterno, sem começo e sem fim, caminharão juntos com uma intensidade maior, serão um perigo para tudo que não seja essencial, para fantasias, para obscuridades. E eles se concentrarão, eles se tornarão luz, porque compreendem. Tal união nós devemos criar, e este é o meu propósito. Por causa dessa real compreensão, haverá verdadeira solidariedade. Por causa dessa verdadeira solidariedade – que vocês não parecem conhecer – haverá verdadeira cooperação da parte de cada um. E isto não devido à autoridade, não por causa da salvação, não devido à imolação por uma causa, mas porque vocês realmente compreendem, e então são capazes de viver no eterno. Isso é uma coisa mais elevada que qualquer prazer, que qualquer sacrifício.
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Essas são, portanto, algumas das razões porque, após cuidadosa consideração durante dois anos, eu tomei esta decisão. Não foi um impulso momentâneo. Não fui persuadido a isso por ninguém. Não me persuadem em tais coisas. Durante dois anos tenho pensado sobre isto, morosamente, cuidadosamente, pacientemente, e agora decidi dissolver a Ordem, uma vez que aconteceu ser eu seu Dirigente. Vocês podem formar outras organizações e esperar por outra pessoa. Não estou preocupado com isso, nem com a criação de novas prisões, novas ornamentações para esses cárceres. Meu único interesse é tornar o ser humano absoluta e incondicionalmente livre”.
A educação foi sempre uma da preocupações de Krishnamurti. Ele fundou várias escolas em diferentes partes do mundo onde crianças, jovens e adultos pudessem aprender juntos a viver um quotidiano de compreensão da sua relação com o mundo e com os outros seres humanos, de descondicionamento e de florescimento interior. Durante sua vida, viajou por todo o mundo falando às pessoas, tendo falecido em 1986, com a idade de noventa anos. As suas palestras e diálogos, diários e outros escritos estão reunidos em mais de sessenta livros.
Reconhecendo a importância dos seus ensinamentos, amigos do filósofo estabeleceram fundações, na Europa, nos Estados Unidos, na América Latina e na Índia, assim como Centros de Informação, em muitos países do mundo, onde se podem colher informações sobre Krishnamurti e a sua obra. As fundações têm carácter exclusivamente administrativo e destinam-se não só a difundir a sua obra mas também a ajudar a financiar as escolas experimentais por ele fundadas.
Durante a sua existência, Krishnamurti foi rejeitando insistentemente o estatuto deguia espiritual que alguns tentaram lhe atribuir. Continuou a atrair grandes audiências por todo o mundo, mas recusando qualquer autoridade, não aceitando discípulos e falando sempre como se fosse de pessoa a pessoa.
O cerne do seu ensinamento consiste na afirmação de que a necessária e urgente mudança fundamental da sociedade só pode acontecer através da transformação da consciência individual.
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A necessidade do autoconhecimento e da compreensão das influências restritivas e separativas das religiões organizadas, dos nacionalismos e de outros condicionamentos, foram por ele constantemente realçadas. Chamou sempre a atenção para a necessidade urgente de um aprofundamento da consciência, para esse “vasto espaço que existe na mente humana onde há inimaginável energia”. Essa energia parece ter sido a origem da sua própria criatividade e também a chave para o seu impacto catalítico numa tão grande e variada quantidade de pessoas em todo o mundo. Publicado em Julho 2015.
Fonte:http://thoth3126.com.br/a-verdade-esta-dentro-de-cada-um-por-krishnamurti/                  .................Edição:  Thoth3126@protonmail.ch