Direiro ao Delírio - Eduardo Galeano


Direiro ao Delírio - Eduardo Galeano


“Ainda que não possamos adivinhar o futuro, sim, temos ao menos o direito de imaginar como queremos que seja. Em 1948 e em 1976, as Nações Unidas proclamaram extensas listas de direitos humanos; mas a imensa maioria da humanidade não tem mais do que o direito de ver, ouvir e calar. 
Que tal se começarmos a exercer o jamais proclamado direito de sonhar? 
Que tal se delirarmos, um pouquinho? 
Vamos a fixar os olhos mais além da infâmia, para adivinhar outro mundo possível.

- O ar das ruas limpo de todo o veneno que não venha dos medos e das paixões humanas;

- Os carros sendo esmagados pelos cães;

- As pessoas não mais dirigidas pelos carros, nem programadas pelo computador, nem compradas por supermercados, nem também assistidas pela TV;

- A TV deixará de ser o membro mais importante da família e será tratada como um ferro de passar ou máquina de lavar roupa;

- Será incorporado aos códigos penais o crime de estupidez para aqueles que cometem: viver para ter ou para ganhar ao invés de viver para viver simplesmente, assim como canta o pássaro sem saber que canta e como brinca a criança sem saber que brinca;

- Os historiadores não mais acreditarão que os países gostam de ser invadidos;

- Os políticos que os pobres adoram comer promessas;

- Ninguém viverá para trabalhar, mas todos trabalharão para viver;

- Os economistas não chamarão mais o nível de vida de nível de consumo e nem chamarão de qualidade de vida a quantidade de coisas acumuladas;

- Os cozinheiros não mais acreditarão que as lagostas amam ser fervidas vivas;

- A morte e o dinheiro perderão seus poderes mágicos e nem por falecimento e nem por fortuna um canalha se tornará um virtuoso cavalheiro;

- Ninguém levará a sério alguém que não seja capaz de tirar sarro de si mesmo;

- O mundo não estará em guerra contra os pobres, mas contra a pobreza e a indústria militar não terá escolha a não ser declarar falência;

- Nenhum país irá prender os rapazes que se recusarem a cumprir o serviço militar, mas aqueles que quiserem podem servi-lo;

- A comida não será uma mercadoria nem a comunicação um negócio porque a comida e a comunicação são direitos humanos;
- Ninguém morrerá de fome;

- As crianças de rua não serão mais tratadas como lixo, porque não haverá mais crianças de rua, as crianças ricas não serão tratadas como se fossem dinheiro, porque não haverá mais crianças ricas;

- A educação não será privilégio daqueles que podem pagá-la;

- A polícia não será a maldição de quem não possa comprá-la;

- A justiça e a liberdade, irmãs siamesas condenadas a viver separadas, serão novamente juntas de volta, bem grudadinhas, costas com costas;

- Na Argentina, as “Loucas de la Plaza de Mayo” serão um exemplo de saúde mental porque elas se negaram a esquecer nos tempos de amnésia obrigatória;

- A Santa Madre Igreja corrigirá algumas erratas das tábuas de Moisés, e o sexto mandamento mandará festejar o corpo, a igreja também ditará outro mandamento que Deus havia esquecido: “amaras a natureza da qual fazes parte”;

- Serão reflorestados os desertos do mundo e os desertos da alma;

- Os desesperados serão esperados e os perdidos serão encontrados, porque eles se desesperaram de tanto esperar e se perderam de tanto procurar;

- Seremos compatriotas e contemporâneos de todos os tenham vontade de beleza e vontade de justiça, tenham nascido onde tenham nascido e tenham vivido quando tenham vivido, sem se importarem nem um pouquinho com as fronteiras do mapa e ou do tempo,

- Seremos imperfeitos porque a perfeição continuará sendo um chato privilégio dos Deuses;

- Neste mundo trapalhão, seremos capazes de viver cada dia como se fosse o primeiro e cada noite como se fosse a última.”
*
Eduardo Galeano
*
A UTOPIA é como o horizonte.
Nós o vemos ao longe,
nunca o alcançaremos,
mas serve para que
continuemos a caminhar. 
(Fernando Berri)
*

Amit Goswami

Amit Goswami, 
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 Amit Goswami, considerado um importante cientista da atualidade, ele tem instigado os meios acadêmicos com sua busca de uma ponte entre a ciência e a espiritualidade. Ele vive nos EUA, é PhD em física quântica e professor titular da Universidade de Física de Oregon. Há mais de 15 anos está envolvido em estudos que buscam construir o ponto de união entre a física quântica e a espiritualidade. Já foi rotulado de místico pela comunidade científica, e acalmou os críticos através de várias publicações técnicas a respeito de suas idéias. Em seu livro "O Universo Auto-Consciente" ele procura demonstrar que o universo é matematicamente inconsistente, sem a existência de um conjunto superior, no caso Deus. E diz que se esses estudos se desenvolverem, logo no início do terceiro milênio, Deus será objeto da ciência e não mais da religião.

Roda Viva - TV Cultura






O físico quântico indiano Amit Goswami é referência mundial sobre a conciliação entre a "Ciência Dura", mais especificamente a Física Quântica, e a espiritualidade. A nova ciência que ele propõe, segundo o próprio, está ajudando a Psicologia a se desenvolver ao contribuir para a validação de conceitos usados internamente pela disciplina e que não têm lastro científico.



"Na Psicologia está uma das maiores aplicações dessa nova ciência", disse, em entrevista à Psique Ciência & Vida. "Pudemos desde o começo explicar a distinção entre consciência e inconsciência e isso deu um impulso para a Psicanálise, para as teorias de Jung, para a Psicologia de forma geral, e definitivamente para a Psicologia Ttranspessoal", explicou.



Na visão dele, que se tornou mundialmente conhecido ao participar e expor suas ideias no filme Quem Somos Nós?, de 2005, o Brasil é importante para o desenvolvimento do seu trabalho porque no País as emoções ainda são valorizadas, diferente de muitos países ocidentais, em que a racionalidade é superstimada e menospreza, tais quais as experiências pessoais e profundas como a intuição. Ssegundo Amit, o não reconhecimento da emoção é barreira, por exemplo, para se lidar com as emoções negativas.



"A economia montada no Ocidente, especialmente nos EUA, é um exemplo de como emoções negativas podem ser dispensáveis, como a ganância. Dessa maneira, fica claro que superestimar a racionalidade é um erro".



Formado em Física Quântica pela Universidade de Calcutá, Índia, Amit é professor emérito do Departamento de Física da Universidade de Oregon, EUA. No Brasil já publicou os seguintes livros pela editora Aleph: A Física da Alma, O universo Autoconsciente, Criatividade Quântica, Deus Não está morto, Evolução criativa das espécies, M édico Quântico e a Janela visionária. O físico esteve recentemente no Brasil divulgando mais um trabalho, O Ativista Quântico, em que ele volta a se apoiar em princípios desse ramo da Física para apontar o potencial da consciência e mostra como essa nova perspectiva pode influenciar a mudança de valores da sociedade e ajudar as pessoas a viverem melhor.


Marcelo Galli


Luz nas trevas da idade média - Hildegarda Von Bingen

  LUZ NAS TREVAS DA IDADE MEDIA


*a visionária Hildegard de Bingen (c.1098-1179) sim: antecipando Leonardo da Vinci em quatro séculos, para a monja, o homem ocupava – e legitimamente – o centro do mundo, no centro de uma série de círculos maravilhosos...

 Hildegard de Bingen (A consciência inspirada do século XII), de Régine Pernoud,  uma viagem no tempo, às trevas da Idade Média, período das cruzadas.
O viridissima virgaOh verdíssima rama (tradução livre)
O viridissima virga, ave
que in ventoso flabro sciscitationis
sanctorum prodisti.
Cum venit tempus
quod tu floruisti in ramis tuis,
ave, ave fuit tibi
quia calor solis in te sudavit
sicut odor balsami.
Nam in te floruit pulcher flos
qui odorem dedit omnibus
aromatibus que arida erant.
Et illa apparuerunt omnia
in viriditate plena.
Unde celi dederunt rorem
super gramen
et omnis terra leta facta est,
quoniam viscera ipsius
frumentum protulerunt
et quoniam volucres celi
nidos in ipsa habuerunt.
Deinde facta est esca hominibus
et gaudium magnum epulantium.
Unde, o suavis Virgo,
in te non deficit ullum gaudium.
Hec omnia Eva contempsit.
Nunc autem laus sit Altissimo.[90]
Oh verdíssima rama, salve!
tu que surgiste no sopro
do mistério sagrado.
Era o tempo chegado
de em teus próprios galhos floresceres,
sejas, assim, louvada!,
pois o sol em ti transuda, ardente,
um bálsamo cheiroso.
Deveras em ti abriu rara flor,
que para todos, áridos antes,
deu seu perfume.
E então tudo apareceu
em sua verdura plena.
E o céu derramou seu orvalho
sobre a relva
e toda terra exultou,
pois de seu ventre
brotaram os grãos,
e as aves do céu
nela fizeram seus ninhos.
Assim foi criado o alimento do homem
e a riqueza feliz dos banquetes.
Virgem suave, oh, em ti
nunca míngua a alegria.
Eva uma vez lamentou tudo isso,
mas agora, seja louvado o Altíssimo.
Estou extasiada com a maravilhosa bençao que Deus pos na terra orientando os homens
sobre a cura :PRIMEIRO A ALMA  PARA ENTAO CURAR O CORPO atraves das plantas 
de Hildegarda de Binger
“Assim, o homem 
é o fecho das maravilhas de Deus.”
                                    Iluminura do Scivias mostrando as hierarquias angélicas.
explicação dada pela voz que ouvia: "Então eu vi como se fosse uma imensa torre circular inteiramente construída de pedra branca, com três janelas no topo, de onde saía uma luz tão clara que até mesmo o teto cônico da torre parecia translúcido. As janelas eram decoradas com as mais belas esmeraldas. E esta torre estava colocada como que no dorso da imagem da mulher (a Igreja) que já citei, como uma torre que é construída na muralha de uma cidade, de forma que a imagem não poderia de forma alguma ser abalada por causa de sua solidez e força…" "Pois a razão pela qual viste uma grande torre redonda toda feita de pedra branca é porque a suavidade do Espírito Santo é imensa e engloba totalmente todas as criaturas em sua graça, de modo que nenhuma corrupção na integridade da plenitude da sua justiça a pode destruir; e, brilhando, indica o caminho e emana todos os rios de santidade na claridade de sua força, onde não se pode achar mácula alguma de insensatez. Portanto o Espírito Santo é um fogo cuja ardente serenidade, acendendo as virtudes ígneas, jamais será destruída e assim 


"Eu sou a suprema e incandescente força que acendeu todas as centelhas vivas, e eu não criei coisa alguma morta… e eu sou a vida ígnea da essência de Deus: Eu ardo acima da beleza dos campos, eu brilho nas águas, eu queimo no sol, na lua e nas estrelas… Sou também a Razão. É meu o trovão da sonora Palavra pela qual toda criação veio à existência, e eu animei todas as coisas com meu alento de modo que nenhuma é mortal em seu gênero, pois eu sou a Vida".
Boa parte do livro está concentrada na descrição da constituição e forma do ser humano, compreendendo seu corpo físico e sua alma, correlacionando a forma humana com vários aspectos do microcosmo e do macrocosmo, como ilustração de um extenso comentário aos 14 primeiros versículos do Evangelho de São João e ao livro do Gênesis. Todas as partes do corpo são carregadas de simbolismo] Um exemplo:
"A esfera do crânio indica o poder dominante da humanidade… Deus revela através de nossos olhos o conhecimento pelo qual Deus prevê e conhece tudo de antemão… Deus se nos revela através de nossa habilidade de ouvir todos os sons da glória sobre os mistérios ocultos… pelo nosso nariz Deus mostra a sabedoria que reside como um oloroso senso de ordem em todas as obras de arte… por nossa boca Deus indica a Palavra divina, a Palavra pela qual Deus criou todas as coisas…".
A forma humana é vista, pois, como o modelo divino da Encarnação, de acordo com o conceito básico apresentado no Gênesis, e é louvada como uma manifestação da vitalidade, amor e beleza de Deus. Corpo e alma são concebidos como uma unidade integral, onde as forças da natureza e do espírito interagem em harmonia, e servem como um espelho e objetivo para toda a obra da Criação."Deus inscreveu toda sua obra na forma humana", escreveu. Assim a criação do universo estava ligada indissoluvelmente à criação da forma humana, e mais do que isso, aquela estava quase que subordinada a esta, já que para Hildegarda a Encarnação do Verbo divino estava prevista desde antes do Tempo e a forma humana serviria como o instrumento privilegiado para a reunião da criatura com o Criador após o longo trajeto desde a origem do universo até sua redenção.
Ao mesmo tempo, dizia que a vida que animava o homem era a mesma que animava todo o universo, e que o universo criado era a luz do homem, significando que o trabalho da Redenção estava na dependência do entendimento do mundo, e por consequência, do entendimento da vontade divina. Nesse sentido, até mesmo as paixões humanas, tantas vezes condenadas por outros escritores cristãos de sua época, eram vistas como parte integral do plano divino. Entretanto, ela não foi muito além do reconhecimento e aceitação puros e simples do estado de coisas da humanidade, pois numa perspectiva ideal ainda pensava que o ser humano devia aspirar à reconquista da inocência edênica, o que necessariamente excluía toda a sexualidade. Tendo de administrar ideal e real, concebeu uma teoria da sexualidade muito sutil e ambígua, e de certa forma precária. Comparando o desejo humano à fertilidade da terra, reconhecia que ele dava à luz uma pletora de riquezas, e também que o sexo era fonte de prazer, mas via o corpo como um instrumento da alma que devia ser disciplinado para que se formasse uma cooperação entre ambos, potencialmente confortável e prazerosa, e para que o objetivo primeiro da salvação da alma pudesse ser alcançado. Escreveu:
"E assim a alma diz depois de sua vitória: Oh minha carne, e vós, meus membros, onde fiz minha morada! Quanto me regozijo de ter sido enviada a vós, e de ver que estais em acordo comigo, e que com isso me encaminheis para minha recompensa eterna!"
Liber divinorum termina com uma seção dedicada à escatologia, pintando o Juízo Final em cores escuras, provavelmente estando Hildegarda abalada com o cisma de 1159. Embora em suas cartas ela se recusasse a comentar o assunto, alegando ter sido proibida por Deus de fazê-lo, alusões a um cisma, ainda que inespecífico, são claras no final do livro, colocando a imagem da Justiça a invectivá-lo sonoramente. Também o clero não aparece sob uma luz favorável, sendo acusado de muitos vícios e de submersão nos assuntos mundanos. O tom do livro é bem mais pesado que o do Scivias, mas a estrutura do cosmos que dele emerge é muito mais poderosamente organizada.




O corpo, com efeito, é vestimenta da alma que tem uma voz viva, e é por isso que é conveniente que o corpo cante com a alma, pela voz dela, os louvores a Deus. Do que resulta que o espírito profético ordene expressamente que Deus seja louvado pela alegria dos címbalos e por outros instrumentos de música que sábios e estudiosos inventaram, pois todas as artes úteis e indispensáveis aos homens provêm desse sopro de espírito que Deus insuflou no corpo do homem; e é por isso que é justo que todo o tempo eles louvem a Deus. E, posto que o homem ao ouvir certos cantos às vezes suspira e freqüentemente geme, recordando a natureza da harmonia celeste em sua alma, o profeta, considerando e conhecendo a natureza do espírito – posto que a alma é de natureza sinfônica -, exorta-nosno slado que cantamos com a cítara e salmodiamos com o desacordo.” 

Não foi apenas na música e na teologia que a abadessa Hildegard von Bingen se destacou. Escreveu dois trabalhos sobre medicina, mostrando um vasto conhecimento sobre plantas medicinais. Os livros que escreveu são os mais conhecidos tratados sobre medicina no ocidente durante o século XII. Uma de suas grandes preocupações clínicas era a cura da melancolia que perigosamente solapava a “viridez”.

Hildegard denunciava a corrupção da Igreja, os falsos padres, a luxúria, os surgimento de novas seitas no cristianismo que enfatizavam o dualismo e o maniqueísmo, a riqueza ostensiva do clero. Suas palavras despertaram paixões e polêmicas por toda a Europa, com sua concepção inovadora da relação do homem com o cosmo e do papel da mulher com plena participação na vida do Espírito


 A abadessa e teve a vida marcada por visões, ouvia a voz divina , desenhava mandalas com as imagens: um homem no centro do globo (mundo), espelhos, asas, muros... As mensagens que a visionária recebia não eram guardadas no claustro, Hildegard as escrevia em livros e fazia pregações e sermões públicos. A última visão do livro Scivias, escrita como peça teatral ou ópera, inspirou a obra musical Ordo Virtutum, onde as virtudes são personificadas e sofrem ataques dos demônios. Os últimos anos de sua vida foram marcados por um incidente trágico. O enterro de um revolucinário que havia sido excomungado gerou a interdição do mosteiro Rupertsberg e a proibição de celebrar os cânticos de louvor divino. O arcebispado de Mayence impôs que o defunto fosse desenterrado, mas a abadessa Hildegarda Von Bingen, após ter uma visão, recusou-se a cumprir a ordem, pois afirmava que o morto estava em plena comunhão com Deus quando faleceu e que havia recebido todos os sacramentos.
consciência inspirada do século XII), de Régine Pernoud,.....




*Para a visionária Hildegard de Bingen (c.1098-1179) sim: antecipando Leonardo da Vinci em quatro séculos, para a monja, o homem ocupava – e legitimamente – o centro do mundo, no centro de uma série de círculos maravilhosos:
No centro do peito da figura que eu havia contemplado no seio dos espaços aéreos do Sul, eis que surgiu um roda de maravilhosa aparência. Continha os signos que a reaproximavam dessa visão em forma de ovo, que eu tive há dezoito anos e que descrevi na terceira visão do meu livro Scivias (...)

na parte superior aparecia um círculo de fogo claro que dominava outro, de fogo negro (...) em seguida vinha um círculo que era como que de ar carregado de umidade (...) sob este círculo de ar úmido aparecia um de ar branco, denso (...) esses dois círculos estavam igualmente ligados entre si (...)

Enfim, sob esse ar branco e firme apresentava-se uma segunda camada aérea, tênue, que parecia estender-se sobre todo o círculo, provocando nuvens, ora claras, ora baixas e sombrias. Esses seis círculos estavam ligados entre si, sem espaço intermediário (...) A figura do homem ocupava o centro dessa roda-gigante... (HILDEGARD DE BINGEN. O Livro das Obras Divinas. Citado em PERNOUD, 1996: 72-73)
Imagem 2

O homem-microcosmo de Hildegarda de Bingen A tríplice figura abraça o universo inteiro; um círculo de fogo claro, um outro de "fogo negro", um círculo de ar úmido, um outro de ar branco, uma segunda camada aérea - traçados com a precisão que caracteriza o texto de Hildegard. Uma figura humana erguida no centro recebe os sopros enviados dos quatro cantos, das cabeças de animais - leopardo, leão, lobo, urso, caranguejo, cervo, serpente, cordeiro - enquanto os planetas irradiam em direção às cabeças de animais e à figura do homem (PERNOUD, 1996). Repare que Hildegarda está sentada à esquerda, abaixo, contemplando o homem-microcosmo e redigindo sua visão.
São imagens fantásticas essas da visionária beneditina, imagens compartilhadas pela teoria geral do microcosmo vigente então (LOPEZ, 1965: 364). Juntamente com a concepção medieval do espaço, elas merecem um aprofundamento. Assim com seus livros homeopáticos


Mulher - Ser

                                              
      touchn2btouched:

at some point you are going to have to realize that he really just doesn’t care, and maybe you are missing out on someone who does.
   
     
    
Ser sensível requer muita coragem ..
“Ser sensível nesse mundo requer muita coragem. Muita. Todo dia.
Esse jeito de ver além dos olhos, de ouvir além dos ouvidos,
de sentir a textura do sentimento alheio, tão clara, no próprio coração.
Essa sensação, às vezes, de ser estrangeiro e não saber falar o idioma local, de ser meio ET, uma espécie de sobrevivente de uma civilização extinta.
Essa intensidade toda em tempo de ternura minguada.
Esse amor tão vívido em terra em que a maioria parece se assustar mais com o afeto do que com a indelicadeza.
Esse cuidado espontâneo com os outros.
Essa vontade tão pura de que ninguém sofra por nada.
Esse melindre de ferir por saber, com nitidez, como dói ser ferido
Ser sensível nesse mundo requer muita coragem.Muita. Todo dia.
Essa saudade, que ás vezes faz a alma marejar, de um lugar que não se sabe onde é, mas que existe, é claro que existe.
Essa possibilidade de se experimentar a dor, quando a dor chega, com a mesma verdade
com que se experimenta a alegria.
Essa incapacidade de não se admirar com o encanto grandioso que também mora na sutileza.
Essa vontade de espalhar buquês de sorrisos por aí, porque os sensíveis , por mais que chorem de vez em quando, não deixam adormecer a idéia de um mundo que possa acordar sorrindo.
Pra toda gente. Pra todo ser. Pra toda vida.
Eu até já tentei ser diferente, por medo de doer, mas não tem jeito: só consigo ser igual a mim."


-Ana Jácomo



Mulheres....

Certo dia parei para observar as mulheres e só pude concluir uma coisa:

elas não são humanas. São espiãs. Espiãs de Deus, disfarçadas entre nós.

Pare para refletir sobre o sexto sentido.

Alguém duvida de que ele exista?

E como explicar que ela saiba exatamente qual mulher, entre as presentes, em uma reunião, seja aquela que dá em cima de você?

E quando ela antecipa que alguém tem algo contra você, que alguém está ficando doente ou que você quer terminar o relacionamento?

E quando ela diz que vai fazer frio e manda você levar um casaco? Rio de Janeiro, 40 graus, você vai pegar um avião pra São Paulo. Só meia hora de voo. Ela fala pra você levar um casaco, porque “vai fazer frio”. Você não leva. O que acontece?

O avião fica preso no tráfego, em terra, por quase duas horas, depois que você já entrou, antes de decolar. O ar condicionado chega a pingar gelo de tanto frio que faz lá dentro!

“Leve um sapato extra na mala, querido. Vai que você pisa numa poça…” Se você não levar o “sapato extra”, meu amigo, leve dinheiro extra para comprar outro. Pois o seu estará, sem dúvida, molhado…

O sexto sentido não faz sentido! É a comunicação direta com Deus! Assim é muito fácil…

As mulheres são mães! E preparam, literalmente, gente dentro de si.

Será que Deus confiaria tamanha responsabilidade a um reles mortal?

E não satisfeitas em ensinar a vida elas insistem em ensinar a vivê-la, de forma íntegra, oferecendo amor incondicional e disponibilidade integral. Fala-se em “praga de mãe”, “amor de mãe”, “coração de mãe”…

Tudo isso é meio mágico…

Talvez Ele tenha instalado o dispositivo “coração de mãe” nos “anjos da guarda” de Seus filhos (que, aliás, foram criados à Sua imagem e semelhança).

As mulheres choram. Ou vazam? Ou extravazam? Homens também choram, mas é um choro diferente. As lágrimas das mulheres têm um não sei quê que não quer chorar, um não sei quê de fragilidade, um não sei quê de amor, um não sei quê de tempero divino, que tem um efeito devastador sobre os homens… É choro feminino. É choro de mulher…

Já viram como as mulheres conversam com os olhos? Elas conseguem pedir uma à outra para mudar de assunto com apenas um olhar. Elas fazem um comentário sarcástico com outro olhar. E apontam uma terceira pessoa com outro olhar. Quantos tipos de olhar existem? Elas conhecem todos…

Parece que frequentam escolas diferentes das que frequentam os homens!

E é com um desses milhões de olhares que elas enfeitiçam os homens.

EN-FEI-TI-ÇAM !

E tem mais! No tocante às profissões, por que se concentram nas áreas de Humanas?

Para estudar os homens, é claro! Embora algumas disfarcem e estudem Exatas…

Nem mesmo Freud se arriscou a adentrar nessa seara. Ele, que estudou, como poucos, o comportamento humano, disse que a mulher era “um continente obscuro”. Quer evidência maior do que essa? Qualquer um que ama se aproxima de Deus. E com as mulheres também é assim. O amor as leva para perto dele, já que Ele é o próprio amor. Por isso dizem “estar nas nuvens”, quando apaixonadas.

É sabido que as mulheres confundem sexo e amor. E isso seria uma falha, se não obrigasse os homens a uma atitude mais sensível e respeitosa com a própria vida. Pena que eles nunca verão as mulheres anjos que têm ao lado. Com todo esse amor de mãe, esposa e amiga, elas ainda são mulheres a maior parte do tempo.

Mas elas são anjos depois do sexo amor. É nessa hora que elas se sentem o próprio amor encarnado e voltam a ser anjos. E levitam. Algumas até voam. Mas os homens não sabem disso. E nem poderiam. Porque são tomados por um encantamento que os faz dormir nessa hora.”

Luís Fernando Veríssimo


Luz e Sombra




Além da Luz e da Sombra


"No coração da sombra existe a luz. E no coração da luz existe a sombra. 

A experiência do ser é a experiência do círculo que mantém os dois juntos.
O momento de repouso que fazemos é semelhante à nossa respiração. 
O inspirar e o expirar é uma não-dualidade.
 Se só inspiramos, sufocamos, se só expiramos, morremos. 

 O sopro contem a inspiração e a expiração e 
o que é verdadeiro em nossa vida fisiológica

 é também verdadeiro em nossa vida psicológica.

Tornar-se adulto é passar da idade dos contrários para a idade do complementar, para um outro modo de olhar as coisas. Se alguém diz algo contrário ao que penso e sou capaz de entender esse contrário como complementar, vou crescer em consciência e em compreensão. Se em vez de rejeitar ou negar alguns elementos de minha vida obscura, sou capaz de acolhê-los, torna-me-ei mais inteiro.

A sombra é o que dá relevo à luz. 

Quando amamos alguém,
um dos sinais de amor verdadeiro
é que amamos os seus defeitos.
É fácil amar os defeitos de nossos filhos.
É difícil amar os defeitos dos adultos ou de nossos cônjuges. 


Esse amor de que falamos não significa complacência,

não é dizer ao outro que me agrada o que ele tem de desagradável, 
pois isso seria mentira e hipocrisia. 


O amor de que falamos é dar ao outro o direito de ser diferente.

É dar a ele o direito de experimentar sua liberdade. 
De experimentar em mim mesmo esta capacidade de amar o que é amável,
e de amar, também, o que não é amável. 

Dessa maneira passaremos, de uma vida submissa para uma vida escolhida. 


Nossa vida vale pelo olhar que é posto nela.
Os olhares de juiz nos enchem de culpa.


Há olhares benevolentes, misericordiosos e ao mesmo tempo, justos. Precisamos desses olhares porque todos nós temos necessidade de verdade e de sermos amados. Por vezes, os olhares que encontramos são muito amorosos, muito doces, mas falta a eles a exigência desta verdade. 

Outras vezes, os olhares que se colocam sobre nós são plenos de verdade e justiça, 

mas falta a eles a misericórdia e o amor.
Há um olhar integral do qual temos necessidade a fim de nos vermos tal e qual somos. Porque a verdade sem amor é inquisição e o amor sem verdade é permissividade.

Estas são reflexões gerais e cada um pode entrar em particularidades que 
lhes são próprias, sentindo se existe em sua vida alguém que pode suportar
sua sombra sem julgá-la, apesar de não se mostrar complacente com ela
Creio que todos nós temos a necessidade, pelo menos uma vez em nossas vidas, 

de um tal olhar pousado sobre nós. 

Nesse momento não teremos mais necessidade de mentir, de nos iludirmos, 

de usarmos máscaras. 
Podemos mostrar nossa verdadeira face, nosso verdadeiro corpo,

com seus desejos e seus medos. 
Podemos mostrar nossa verdadeira inteligência com seus conhecimentos


e suas ignorâncias. 

Mostrar-se com o coração verdadeiro, capaz de muita ternura e também

capaz de dureza e indiferença. Mostrar-se como não-perfeito, mas aperfeiçoável. 
Sob este olhar nossa vida pode crescer. Porque o olhar que nos julga e nos 
aprisiona em uma imagem faz-nos ficar parados, enquanto que o outro olhar

nos impulsiona a dar um passo adiante desta imagem que os outros
têm de nós."

O que é indissolúvel? O indissolúvel não sou eu nem você, é o terceiro   que está entre nós. Enfatizamos isso porque nosso amor não depende só de nós,   não depende só de nossos humores, de nossa inteligência, da nossa afeição. O   nosso amor deve acolher como uma realidade o que está entre nós, mas que não   nos pertence. Aqui encontramos uma experiência do numinoso, além da dualidade   e que a física contemporânea chama de “o terceiro incluído”. Este terceiro é   o que nos permite estar ao mesmo tempo juntos e diferentes. O amor é o que   nos unifica e o que nos diferencia…”
Jean Yves Leloup em Além da Luz e da Sombra



O que é Eterno sempre foi chamado de simplesmente luz. A escuridão vem a vai. Ela é uma ausência temporária da luz. Mas a luz permanece. Escuridão é apenas ausência de luz.

Muitos de nós ainda estamos fora do foco principal da espiritualidade. Sofremos e alimentamos nossos problemas, porque simplesmente não sabemos viver sem eles. Mantemos o foco no mundo relativo do sofrimento, no mundo passageiro, e não olhamos com atenção e carinho para Aquilo que sempre permanece, todo o instante, e é a fonte de tudo que há.



Se escuridão é falta de luz, o que você precisa? Simplesmente aprender uma coisa muito bela e muito simples: aprender a focar o Eterno, exatamente no momento presente, exatamente aqui.

Aprender a focar a fonte da luz é o que mestres e professores espirituais tem chamado de meditação. E esta luz está disponível onde Deus está. Onde Deus estaria senão aqui-agora o tempo inteiro? Mas, então, porque nos sentimos tão separados de Deus e da vida? Porque todos os conceitos de Deus que nós aprendemos na sociedade nos fizeram separar-se Dele, e não aproximar-se Dele.

Nós aprendemos que Deus está distante, em algum lugar, depois da morte, julgando nossos atos bons e maus. Que infantilidade! Nós simplesmente criamos um Deus humano com apegos e aversões, e então vivemos com medo de nós mesmos. Criamos um Deus a partir de nossas neuroses. É por isso que Niesztche disse: “Deus está morto”. É claro que ele estava se referindo ao Deus criado pelo homem, fabricado pela mente humana e sua sede de poder e controle. Sim, temos de enterrar aquele Deus castigador, aquele Deus vingativo ao qual temos de temer. Este Deus não pode ser o Deus real, porque o Deus real não pode ser entendido pelo pensamento. O Deus real é Amor. Pelo pensamento apenas coisas mundanas e culturais podem ser entendidas. Deus não precisa ser entendido, apenas vivido. Você não precisa entender o amor, não precisa escrever tratados sobre o amor. Você tem de viver o amor. Deus é o mistério da sua natureza. Ele não está distante de você, porque em última instância, ele é a única coisa que existe. Os universos vêm e vão, os corpos vêm e vão, a mente vêm e vai, mas aquilo que deu origem a tudo isso permanece. Meu corpo, pensamentos e sentimentos estão sempre mudando. Mas há algo que posso verificar agora que não está mudando e nunca mudará: esse algo é Consciência Pura, ou o Eterno em mim. Reconhecer isto é estar em paz.

Naseeb é terapeuta, professor de meditação, e palestrante.
Swami Sambodh Naseeb

A ciência moderna analisou o mundo exterior; suas penetrações no Universo objetivo são profundas; isso será sua honra e sua glória; mas nada sabe ainda do universo invisível e do mundo interior. 

É esse o império ilimitado que lhe resta conquistar. Saber por que laços o homem se liga ao conjunto, descer às sinuosidades misteriosas do ser, onde a sombra e a luz se misturam, como na caverna de Plutão, percorrer-lhe os labirintos, os redutos secretos, auscultar o eu normal e o eu profundo, a consciência e a subconsciência; não há estudo mais necessário. 

Enquanto as Escolas e as Academias não o tiverem introduzido em seus programas, nada terão feito pela educação definitiva da Humanidade.


Leon Denis

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