Era tão pesada a atmosfera que mal se podia respirar...
Fatigava-me o menor dos trabalhos - cansava-me o mais ligeiro esforço....
Conglobou-se então no firmamento, sinistro bulcão...
Fuzilaram coriscos, ribombaram trovões, uivaram vendavais...
Redemoinharam no espaço incinerado cadáveres de folhas dispersas...
Torrentes desceram em fios de cristal das nuvens noturnas...
Fragoroso dilúvio ameaçava afogar o planeta...
Depois...
Serenaram os espaços revoltos...
Morreram as serpentes de fogo...
Cessaram as águas, calaram-se os ventos...
Ah! quão leve e refrigerante é o ar!
Dilatam-se os pulmões, sorvendo o ozônio do espaço...
Suave carícia para os nervos e a pele, esse ambiente juvenil...
Vigoroso alimento para o sangue o oxigênio a flux...
Não estranhes, minh´alma, se tempestades cruéis te rasgarem a vida!
Se raios e trovões te acordarem de indolente tepidez!
Se veementes terremotos te abalarem o ser!
Se subitâneo vendaval arrebatar folhas secas de tua vida...
É necessário que se renove a atmosfera do espírito,
Que novas idéias fuzilem pelo espaço do teu universo...
Que forças cósmicas sacudam, de vez em quando, teu íntimo ser...
Que torrentes celestes te lavem da poeira da estrada...
Que elementos de mundos ignotos vitalizem o ar depauperado...
Que energias do além ozonizem o espaço asfixiante.
Sê fiel a ti mesma, minh´alma - e tempestade alguma te roubará o que é teu!
A adversidade será tua grande amiga e aliada - em demanda às alturas.
Só compreende a vida quem a vida viveu...
Só viveu a vida quem a vida sofreu...
Só é teu, minha´alma, o que, vivendo e sofrendo, compreendeste...
Não é teu o que viste e ouviste...
Não é teu o que pensaste e estudaste...
Só é teu o que submergiu nas profundezas do teu ser...
O que vibra nas pulsações do teu coração...
O que rejubila nas alegrias do teu espírito...
O que soluça nas tristezas de tua alma...
O que geme nas agonias da incompreensão...
Teu, intimamente teu,
é somente aquilo que feroz tempestade provou
- e não te roubou...
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