O corpo físico não é tudo. Um corpo é formado por órgãos, cada órgão é composto de células, cada célula de moléculas e cada molécula de átomos. Se fracionamos qualquer átomo, liberamos energia. Os átomos compõem-se de subpartículas, que giram ao redor dos elétrons, de prótons, de nêutrons, etc, etc Tudo isto sabe a física nuclear. Em última instância, o corpo físico se resume em distintos tipos e subtipos de energia. E isto é interessantíssimo.
O próprio pensamento humano é energia. Do córtex cerebral saem determinadas ondas que podem ser sabiamente registradas. Já sabemos que os cientistas medem as ondas cerebrais com aparelhos muito precisos, registrando-as em microvolts.
Assim, em última instância, nosso organismo se resume em diversos tipos e subtipos de energia. A chamada “matéria” nada mais é que energia condensada. Assim disse Einstein: E = mc2 (energia é igual a massa multiplicada pela velocidade da luz ao quadrado).
Einstein também afirmou enfaticamente que a massa se transforma em energia e a energia se transforma em massa. Assim, em última síntese, a chamada matéria não é mais que energia condensada.
O corpo físico tem um fundo ou substrato vital orgânico. Quero referir-me enfaticamente ao Lingam-Sharira dos Teósofos, a condensação biotermoeletromagnética. Cada átomo do corpo vital penetra dentro de cada átomo do corpo físico e o faz
O duplo vital ou corpo vital é realmente uma espécie de duplo orgânico e, por exemplo, um braço desse vital sai do braço físico, sentimos que a mão “dorme”, que o braço “dorme”. Quando o braço vital volta a entrar no braço físico, a pessoa sente uma vibração como a que se sente quando um braço “dorme” e queremos “despertá-lo” – uma espécie de formigamento.
Se tirássemos definitivamente o corpo vital de uma pessoa física, e se não voltássemos a trazê-lo, a pessoa física morreria.
Assim, é bem interessante essa questão do corpo vital. Contudo, tal corpo nada mais é que a seção superior do corpo físico, é sua parte tetradimensional. Os vedantinos consideram o corpo vital e o corpo físico como um todo, uma unidade.
Um pouco além desse corpo físico, com sua base vital orgânica, encontramos o “Ego”. O Ego é uma soma de diversos elementos inumanos que carregamos em nosso interior. Tais elementos são denominados ira, cobiça, luxúria, inveja, orgulho, preguiça, gula, etc, etc, etc.
Nossos defeitos são tantos que, ainda que tivéssemos mil línguas para falar e um palato de aço, não acabaríamos de enumerá-los.
Assim, o Ego não é mais que isso. Muitas pessoas entronizam o Ego no coração, constroem-lhe um altar, adoram-no… São equivocados sinceros, supõem que o Ego é divino, e nisto estão completamente enganados. Há os que dividem o Eu em dois: “Eu superior” e “Eu inferior”, e querem que o “Eu superior” controle o “Eu inferior”. Não querem essas pessoas dar-se conta de que seção superior e seção inferior de uma mesma coisa são a própria coisa.
O Eu é tempo, é um livro de muitos volumes. No Eu estão todas as nossas aberrações, todos os nossos defeitos, aquilo que faz de nós verdadeiros animais intelectuais, no sentido mais completo da palavra.
Alguns dizem que o alter ego é divino, e o adoram. É outro tipo de escapatória para salvar o Eu, para minimizá-lo. O Eu é o Eu, e isso é tudo.
A morte é uma subtração de frações. Terminada a operação matemática, o que continua são os valores. Estes valores são positivos e negativos, bons e maus. A eternidade os traga, os devora. Na luz astral, estes valores se atraem e repelem de acordo com as leis da imantação universal.
Esses valores são os mesmos elementos inumanos que constituem o Ego. Estes elementos às vezes chocam-se entre si, ou simplesmente se atraem ou repelem.
A morte é o regresso ao ponto de partida original. Um homem é o que é sua vida. Se não trabalha sua vida, se não trata de modificá-la, é óbvio que está perdendo seu tempo miseravelmente. Um homem não é mais que isso, o que é sua vida. Nós devemos trabalhar nossa própria vida, para fazer dela uma obra-prima.
A vida é como um filme; quando termina, o levamos para a eternidade. Na eternidade revivemos nossa própria vida que acaba de passar. Durante os primeiros dias, o desencarnado, o defunto, costuma ir para a casa onde morreu, e até mora nela. Se morreu, por exemplo, aos 80 anos, continuará vendo seus netos, sentando-se à mesa; isto é, o Ego está perfeitamente convencido de que ainda está vivo e não há nada que possa convencê-lo do contrário.
Para o Ego nada mudou, desgraçadamente. Ele vê a vida como sempre. Se sentará à mesa, pedirá a comida de sempre. Obviamente, seus familiares não o verão mas, no subconsciente, responderão. Em seu subconsciente, porão na mesa a comida, não a comida física, mas formas mentais, semelhantes aos alimentos que o defunto costumava consumir.
O desencarnado pode ver um velório, mas jamais suportaria que esse velório tivesse alguma coisa a ver com ele. Pensa que o velório corresponde a alguém que morreu, a outra pessoa. Nunca pensaria que é o seu, pois sente-se tão vivo que nem suspeita de sua defunção.
Sai às ruas e vê tudo tão exatamente igual que nada poderia fazê-lo pensar que algo aconteceu. Se vai a uma igreja, verá o padre rezando a missa, assistrá ao rito e sairá da igreja perfeitamente convencido de que está vivo. Nada poderia fazê-lo pensar que morreu. Se alguém fizesse tal afirmação, ele sorriria cético, incrédulo, não aceitaria.
O defunto tem que reviver no mundo astral toda a existência que acaba de passar, mas a revive de uma forma muito natural e através do tempo. Identificado com sua existência, na verdade saboreia cada uma das idades da vida que terminou.
Se morreu aos 80, por exemplo, por algum tempo estará acariciando seus netos, sentando-se à mesa e deitando-se na cama. Mas, à medida que vai passando o tempo, ele irá adaptando-se a outras circunstâncias de sua própria existência; vai vivendo a idade dos 79 anos, dos 77, dos 60, etc, etc. Se viveu em outra casa na idade de 60 anos, irá àquela outra casa, e até assumirá o mesmo aspecto psicológico que tinha aos 60 anos. E se aos 50 anos viveu em outra cidade, nesta idade se verá na outra cidade, e assim sucessivamente, ao mesmo tempo que seu aspecto psicológico e sua fisionomia vão se transformando de acordo com a realidade que tenha que reviver.
Aos 20 anos, terá exatamente a fisionomia que tinha àquela idade, aos 10 anos será um menino, até que termine de revisar sua vida passada. Toda a sua vida ficará reduzida a somas e subtrações matemáticas. Isto é muito útil para a consciência.
Nestas condições, o defunto terá que apresentar-se ante os tribunais da Justiça Objetiva, ou justiça celestial. Estes tribunais são completamente diferentes dos da justiça subjetiva ou terrena. Nos tribunais da justiça objetiva reinam apenas a lei e a misericórdia, porque é óbvio que ao lado da justiça, sempre está a misericórdia.
Três caminhos se abrem ante o defunto:
1. umas férias nos mundos superiores, para quem o merece;
2. retornar, de forma mediata ou imediata, a uma nova matriz;
3. descer aos mundos-infernos, até a segunda morte de que falam o Apocalipse de São João e o Evangelho do Cristo.
É óbvio que os que conseguem subir aos mundos superiores passam por uma temporada de grande felicidade.
Normalmente a alma, ou consciência , se encontra “engarrafada” dentro do Eu da psicologia experimental, dentro do Ego que, como já disse a vocês, é uma soma de diversos elementos.
Mas aqueles que sobem aos mundos superiores abandonam o Ego temporariamente. Nestes casos a Alma, ou Consciência, ou Essência, sai desse calabouço horrível que é o Ego, o Eu, para ascender ao famoso Devakán, do qual nos falaram os hindus; uma região de felicidade inefável, no mundo da mente superior do Universo. Ali se goza da autêntica felicidade. Ali o desencarnado se encontra com seus familiares que abandonou no tempo. Encontra-se com o que é, diríamos, a “alma” deles.
Posteriormente, a consciência ou Essência abandona também o mundo da mente, para entrar no mundo das causas naturais.
O Mundo Causal é grandioso. Nele ressoam todas as harmonias do Universo. Ali se sentem de verdade as melodias do infinito. É que cada planeta tem múltiplos sons, os quais, somados entre si, dão uma nota-síntese, que é a nota chave do planeta. O conjunto de notas-chave de cada mundo ressoa maravilhosamente no coral imenso do espaço estrelado, e isto produz um gozo inefável na consciência de todos aqueles que desfrutam a felicidade do Mundo Causal.
No mundo das causas naturais também encontramos os Senhores da Lei, que castigam ou premiam os povos e os homens.
Ali encontramos também os Homens verdadeiros, os homens causais. Ali os encontramos, trabalhando pela humanidade.
No mundo das causas naturais encontramos ainda os Principados, os príncipes dos elementos, do fogo, do ar, das águas e da terra.
A vida palpita intensamente nesse mundo. O mundo causal é precioso… Um azul profundo, como o de uma noite cheia de estrelas, iluminada pela Lua, resplandece sempre no mundo das causas naturais. Não quero dizer que não existam outras cores, mas a cor básica é um azul intenso, de uma noite luminosa, estrelada.
Os que vivem nesta região são felizes, no sentido mais transcendental da palavra.
Mas todo prêmio, toda recompensa, a longo prazo se esgota, tem um limite. Chega o instante em que a alma que entrou no mundo causal tem que regressar, retornar e descerá inevitavelmente para meter-se novamente dentro do Ego, dentro do Eu da psicologia experimental.
Posteriormente essas almas vêm a impregnar o ovo fecundado, para formar um novo corpo físico – se incorporam em um novo corpo físico, voltam ao mundo.
Outro é o caminho que aguarda os que descem aos mundos-infernos. Trata-se de gente que já cumpriu seu tempo, seu ciclo de manifestações, ou que foi demasiado perversa. Tais pessoas involuem dentro das entranhas da terra.
Dante Allighieri nos fala, em sua Divina Comédia, dos nove círculos infernais; ele vê esses nove círculos no interior da terra.
Nossos antepassados de Anahuac, na grande Tenochtitlán, falam claramente do Mixtlán, a região infernal, que eles também situam no interior de nosso globo terrestre.
De forma diferente de algumas outras seitas e religiões, para nossos antepassados de Anahuac, como vimos em seus códices, a passagem pelo Mixtlán é obrigatória e o consideram simplesmente como um lugar de provação, onde as almas são provadas; se conseguem passar pelos nove círculos, inquestionavelmente ingressarão no Éden, no paraíso terrestre.
Para os Sufis maometanos, o inferno não é tampouco um lugar de castigo, mas de instrução para a consciência e de purificação. Para o Cristianismo, em todos os lugares do mundo, o inferno é um lugar de castigo e de penas eternas. Contudo, o círculo secreto do Cristianismo, a parte oculta da religião cristã, é diferente.
Na parte oculta de qualquer movimento cristão se encontra a Gnose.
O Gnosticismo Universal vê o inferno não como um lugar de penas eternas e sem fim, mas como um lugar de expiação, de provação e de instrução para a consciência.
É óbvio que tem que haver dor nos mundos-infernos, pois a vida é terrivelmente densa no interior da terra, sobretudo neste nono círculo, onde está esse núcleo concreto de matéria terrivelmente dura; aí se sofre o indizível. Em todo o caso, os que ingressam na involução submersa do reino mineral devem passar, cedo ou tarde, por isso que se chama, no Evangelho Crístico, a Segunda Morte.
Ao estudar essa questão do inferno Dantesco, o Gnosticismo Universal nunca considera que o castigo não tenha um limite.
Consideramos que Deus, sendo eternamente justo, não poderia cobrar de ninguém mais do que aquilo que deve, pois toda culpa, por mais grave que seja, tem um preço e uma vez pago o preço, nos pareceria absurdo continuar pagando.
Aqui mesmo, em nossa justiça terrena, justiça totalmente subjetiva, vemos que se alguém vai para a prisão por qualquer delito, uma vez pago o delito é posto em liberdade. Nem as autoridades terrenas aceitariam que um preso continuasse na prisão depois de haver pago sua pena. Há casos de presos que se acomodam tanto na prisão que, chegado o dia de sair, têm que ser tirados à força.
Assim, toda falta, por mais grave que seja, tem seu preço. Se os juízes sabem disso, quanto mais a Justiça Divina. Se não fosse assim, Deus seria um tirano e bem sabemos que, ao lado da Justiça Divina, nunca falta a misericórdia. Não poderíamos de maneira alguma, qualificar a Deus como tirano; isto equivaleria a blasfemar, e não gostamos da blasfêmia.
A Segunda Morte é, pois, o limite do castigo, no inferno Dantesco. Se o inferno foi chamado de Tartarus na Grécia, ou Averno em Roma, ou Avitch na Índia, ou Mixtlán, na antiga Tenochtitlán, pouco importa. Cada país, cada religião, cada cultura, soube da existência do inferno e o qualificou com algum nome.
Para os habitantes da grande Hespéria (ou país das Hespérides), como lemos na divina Eneida, de Virgílio, o poeta de Mântua, o inferno é a morada de Plutão, aquela região cavernosa onde Enéas, o troiano, encontrou Dido, aquela rainha que se matou por amor, enamorada dele mesmo, após haver jurado lealdade às cinzas de Siqueu.
A Segunda Morte costuma ser muito dolorosa. O Eu sente que se faz em pedaços, caem seus braços e pernas, e sofre um desmaio tremendo. Momentos depois a Essência, ou o que há de alma metida no Ego, fica livre, pois o Ego foi destruído.
A Essência emancipada, liberada, assume então a figura de uma criança belíssima. Os Devas da Natureza examinam a Essência liberada para certificar-se que não existe nela mais nenhum elemento subjetivo do Ego, e, em seguida, outorgam à alma a carta de liberação.
Nestes instantes felizes, a alma do falecido penetra por certas portas atômicas, que lhe permitem sair novamente à luz do sol. E então, sobre a epiderme de nosso mundo, a Essência livre, como elemental da natureza, reinicia uma nova evolução.
Os elementais da natureza são de vários tipos. Como autoridade nesta matéria, temos Franz Hartmann, com seu livro “Os Elementais”. Temos ainda Paracelso, o grande médico, Felipe Teofrastus Bombastus de Hohenheim, Aureola Paracelso.
Em todo o caso, os elementais são a consciência dos elementos, pois sabemos que o fogo, o ar, a água, e a terra não são meramente físicos, como supõem os “ignorantes ilustrados”. São, mais exatamente, veículos de consciências simples, diríamos primigênias, no sentido mais transcendental da palavra. Assim, os elementais são os princípios de consciência dos elementos, no sentido transcendental ou essencial da palavra.
É óbvio que os que passaram pela Segunda Morte saem à superfície do mundo, reiniciam novos processos evolutivos.
Deverão começar pelo mineral, a pedra; prosseguirão pelo vegetal, o animal e por último, terão acesso à vida humana, ou seja, será reconquistado o estado humanóide outrora perdido.
É interessantíssimo ver esses gnomos ou pigmeus, entre as rochas, anõezinhos pequenos com sua longa barba branca. É óbvio que isto que dizemos, em pleno século XX, parece muito estranho… É porque as pessoas se tornaram agora tão complicadas, a mente se desviou tanto das simples verdades da natureza, que dificilmente não poderiam aceitar de bom grado estas coisas.
Este tipo de conhecimento é mais bem aceito pelas pessoas simples, que não têm tantas complicações no intelecto.
Em todo o caso, quero dizer-lhes que é interessantíssimo o ingresso dos elementais minerais na evolução vegetal. Cada planta é o corpo físico de um elemental vegetal. Estes elementais das plantas têm consciência, são inteligentes, e há grandes esoteristas que sabem manipulá-los ou manejá-los à vontade. Quem os conhece pode, por meio deles, atuar sobre os elementos da natureza.
Um pouco além dos elementais vegetais, temos os elementais do reino animal. Indubitavelmente, só os elementais vegetais avançados têm direito a ingressar em organismos animais. No reino animal, a evolução sempre começa por organismos simples.
Vai-se evoluindo e vai-se também complicando a vida. E chega o momento em que o elemental animal pode assumir organismos muito complexos.
Posteriormente, reconquista o estado humano que outrora havia perdido. Ao chegar a este estágio, a Essência, a Consciência ou Alma, recebe novamente 108 vidas, para sua auto-realização íntima. Se durante essas 108 vidas não se consegue a Auto-realização Íntima do Ser, a Roda da Vida prossegue girando. Então se desce novamente às entranhas da reino mineral, com o propósito de eliminar da Essência todos os elementos indesejáveis que de uma ou outra forma aderiram à psique. E repete-se o mesmo processo. Conclusão: a roda gira 3 mil vezes.
Se em 3.000 ciclos de 108 vidas a Essência não se auto-realiza, todas as portas se fecham e a Essência, convertida em um elemental inocente, submerge no seio da Grande Realidade, no grande Alaya do Universo, no Espírito Universal da Vida, ou Parabrahaman, como o denominam os hindus, a Grande Realidade.
Esta é então a vida dos que descem ao interior da terra. Vemos então que, depois da desencarnação, uns sobem aos mundos superiores para umas férias, outros descem às entranhas da terra e outros retornam, de maneira mediata ou imediata, voltam, se reincorporaram para repetir sua existência aqui neste mundo.
Enquanto alguém tenha que retornar, ou regressar, tem que repetir sua própria vida.
Já dissemos que a morte é o regresso ao ponto de partida original. Já lhes expliquei também que depois da morte, na eternidade, na luz astral, temos que reviver a vida que acaba de passar.
Agora direi que ao voltar, ao regressar, temos que repetir toda a nossa vida sobre o tapete da existência.
No primeiro caso, mencionei unicamente a Lei da Transmigração das Almas; que aqueles que completam o ciclo de 108 existências, devem descer às entranhas do mundo. Posteriormente, depois que o Ego esteja morto (pela Segunda Morte), voltam a evoluir desde o mineral até o homem; esta é a Doutrina da Transmigração.
Agora, estou falando da Doutrina do Eterno Retorno de todas as coisas, junto com essa outra lei, a Doutrina de Recorrência.
Se alguém, em vez de descer às entranhas da terra, retorna de forma mediata ou imediata aqui ao mundo, é óbvio que terá que repetir sua vida, a vida que terminou.
Vocês dirão que isto é muito chato, todos estamos aqui repetindo o que fizemos na existência passada, no passado retorno. Mas é mesmo tremendamente chato, mas os culpados somos nós mesmos porque, como já lhes disse, um homem é o que é sua vida. Se nós não modificarmos nossa vida, temos então de repeti-la incessantemente.
Desencarnamos e voltamos a tomar corpo. Para quê? Para repetir o mesmo. Voltamos a desencarnar e a tomar corpo, para repetir o mesmo, até que chega o dia em que temos que ir com nossa “música” para outra parte; teremos que descer às entranhas do mundo, até a Segunda Morte.
Mas pode-se evitar essa repetição. Tal repetição é o que se conhece como Lei de Recorrência. Tudo volta a ocorrer tal como sucedeu. Mas por quê – dirão vocês – porque tem-se que repetir o mesmo? Bem, isto merece uma explicação.
Antes de mais nada, quero que saibam que o Eu não é algo autônomo, auto-consciente ou individual. Certamente, o Eu é uma soma de “eus”, no plural. A psicologia comum e corrente, a psicologia oficial, pensa no Eu como uma totalidade. Nós pensamos no Eu como uma soma de “eus”.
Porque um é o Eu da ira, outro é o Eu da cobiça, outro o Eu da luxúria, outro o da inveja, outro o da preguiça, outro o da gula, são diversos Eus; não há um só Eu, mas vários, dentro de nosso organismo.
É óbvio que a pluralidade do Eu serve de fundamento à Doutrina dos Muitos, tal como é ensinada no Tibet Oriental. Em apoio à Doutrina dos Muitos está o Grande Kabir Jesus. Dizem que Ele tirou do corpo de Maria Madalena sete demônios. Não há dúvida de que se trata dos sete pecados capitais: Ira, Cobiça, Luxúria, Inveja, Orgulho, Preguiça, Gula. Cada um desses sete é “cabeça de legião” e como já lhes disse, ainda que tivéssemos mil línguas para falar e um palato de aço, não conseguiríamos enumerar todos os nossos defeitos cabalmente.
Cada defeito é um Eu. Assim, temos muitos Eus-defeitos. Se qualificarmos tais Eus-defeitos de demônios, não estaremos equivocados. No Evangelho Crístico, pergunta-se ao possesso qual é seu nome verdadeiro, e ele responde: “Sou legião. Meu verdadeiro nome é Legião”.
Assim, cada um de nós no fundo é uma legião, e cada Eu-demônio da legião quer controlar o cérebro, quer controlar os sete centros principais da máquina orgânica, quer destacar-se, “subir”, “chegar ao topo da escada “, fazer-se sentir, etc.
Cada Eu-demônio é como uma pessoa dentro de nosso corpo. Se dissermos que dentro de nossa Personalidade vivem muitas pessoas, não estaremos equivocados; em verdade , assim é.
Assim, a repetição mecânica dos diversos eventos de nossa existência passada se deve, certamente, à multiplicidade do Eu.
Vamos citar casos concretos. Suponhamos que na existência passada, na idade de 30 anos, tivemos uma briga com outro sujeito em um bar. Caso comum da vida….
É óbvio que o Eu da ira foi personagem principal da cena. Depois da morte, esse Eu-defeito continua na eternidade e, na nova existência, continua no fundo de nosso subconsciente, aguardando que chegue à idade dos 30 anos para voltar a um bar; em seu interior há ressentimento, e deseja encontrar outra vez o sujeito daquele acontecimento.
Por sua vez, o outro sujeito que tomou parte naquele evento trágico no bar também tem seu Eu, o Eu que quer vingar-se e que permanece no fundo do subconsciente aguardando o instante de entrar em atividade.
Assim, ao chegar à idade de 30 anos, o sujeito, ou melhor, o Eu do sujeito, o Eu da ira, o Eu que tomou parte naquele evento trágico, no subconsciente diz: “Tenho que encontrar-me com fulano….”; por sua vez, o outro diz: “Tenho que encontrar-me com o tal…” E, telepaticamente se falam, se põem de acordo e marcam um encontro em algum bar…. Encontram-se fisicamente, pessoalmente, na nova existência, e repetem a cena tal como aconteceu na passada existência.
Isso tudo é feito fora das vistas do nosso intelecto, por baixo do nosso raciocínio, simplesmente somos arrastados a uma tragédia, somos levados inconscientemente a repetir a mesma coisa.
Agora, vejamos o caso de alguém que, à idade de 30 anos, em sua existência passada, teve uma aventura amorosa, um homem com uma mulher.
Aquele Eu da aventura, depois da morte, continua vivo na eternidade. Ao regressar, ao se reincorporar em outro organismo, aquele Eu da aventura continua vivo, aguarda no fundo do subconsciente, nos transfundos inconsciente da vida, da psique, o momento de entrar novamente em atividade.
Chegando à idade da aventura passada, aos 30 anos, diz: “Bem, este é o momento. Agora vou procurar a mulher dos meus sonhos…” Por sua vez, o Eu da mulher dos seus sonhos, o da aventura, diz o mesmo: “Chegou a minha hora, vou procurar aquele homem…” E por baixo (da consciência), os dois Eus se comunicam telepaticamente, marcam um encontro, e cada um arrasta a Personalidade, às costas da nossa inteligência, às costas do “ministério da intelectualidade”. Vem o encontro, e se repete a aventura.
Assim, e ainda que pareça incrível, nós não fazemos nada, tudo nos acontece como quando chove ou como quando troveja.
Se alguém teve em uma passada existência uma disputa por bens materiais, uma casa por exemplo, o Eu daquela disputa continua vivo, e assim também na nova existência, escondido entre as dobras da mente, aguardando o momento de entrar em atividade.
Se o pleito foi aos 50 anos, ele aguarda que chegue aos 50 anos, e então diz: “chegou minha hora”.
Certamente que aquele com quem teve o litígio também diz o mesmo, nesse mesmo instante, e se reencontram para outro litígio, repetem a cena.
Então, na verdade, nem sequer temos livre-arbítrio, tudo nos acontece, tudo nos acontece como quando chove ou quando troveja…
Há uma pequena margem de livre-arbítrio, muito pouco. Imaginem um violino dentro de seu estojo. Há uma margem mínima de movimentos para esse violino. Assim também é nosso livre-arbítrio; é quase nulo. Há essa pequena margem, imperceptível, se soubermos aproveitá-la, pode acontecer que então nos transformemos radicalmente e nos liberemos da Lei de Recorrência.
Temos que saber aproveitar isso, mas como?
É que na vida prática temos que nos tornar um pouquinho mais auto-observadores. Quando a pessoa aceita que tem uma psicologia própria, começa a observar-se a si mesma, e quando alguém começa a observar-se a si mesmo começa também a tornar-se diferente de todo o mundo.
É na rua, em casa, no trabalho, que nossos defeitos, esses defeitos que levamos escondidos, afloram espontaneamente. E se estamos alertas e vigilantes como a sentinela em tempo de guerra, então os vemos.
Defeito descoberto deve ser julgado, através da análise, da reflexão e da meditação íntima do Ser, com o objetivo de compreendê-lo. Quando alguém compreende tal ou qual Eu-defeito, então está devidamente preparado para desintegrá-lo atomicamente.
E é possível desintegrá-lo? Sim, é possível. Mas necessitamos de um poder que seja superior à mente. Porque a mente por si mesma não pode alterar fundamentalmente qualquer defeito psicológico. Pode passá-lo de um nível mental a outro, pode ocultá-lo ou condená-lo, etc., mas jamais alterá-lo radicalmente.
Necessitamos de um poder que seja superior à mente, um poder que possa desintegrar qualquer Eu-defeito. Esse poder está latente no fundo de nossa Psique; é só questão de conhecê-lo para aprender a usá-lo. Tal poder é denominado no Oriente, na Índia, Devi Kundalini, a serpente ígnea de nossos mágicos poderes. Na grande Tenochtitlán, era denominado Tonantzin. Entre os alquimistas da Idade Média, recebe o nome de Stella Maris, a Virgem do Mar. Entre os hebreus, tal poder recebia o nome de Adonia; entre os cretences era conhecido com o nome de Cibeles. Entre os cristãos é Maria, Maya, isto é Deus-Mãe.
Nós muitas vezes pensamos em Deus como Pai; bem vale a pena pensar em Deus como Mãe, como Amor, como misericórdia. Deus-Mãe habita no fundo de nossa Psique, isto é, está no Ser, mas derivada.
Façamos a distinção entre o Ser e o Eu. O Ser e o Eu são incompatíveis, são como a água e o azeite, que não podem misturar-se.
“O Ser é o Ser, e a razão de ser do Ser é o próprio Ser”.
O Ser é o que é, o que sempre foi e o que sempre será. É a vida que palpita em cada átomo, como palpita em cada sol.
Assim, Deus-Mãe é uma variante de nosso próprio Ser. É nosso próprio Ser. Mas, derivado. Isto significa que cada qual tem sua Mãe Divina particular, íntima, Kundalini, como dizem os hindus. Estou de acordo com esse termo e considero que cada um de nós pode invocar a Divina Mãe Kundalini, em meditação profunda, e então suplicar-lhe que desintegre aquele Eu-defeito que tenha compreendido perfeitamente através da meditação.
A Divina Mãe o desintegrará, o reduzirá a poeira cósmica. Ao desintegrar-se o defeito, libera-se a essência anímica. Dentro de cada Eu-defeito, há certa porcentagem de essência anímica engarrafada.
Se desintegramos um defeito, liberamos essência anímica, se desintegramos dois defeitos, liberamos mais essência anímica; e se desintegramos todos os defeitos psicológicos que temos em nosso interior, então liberamos totalmente a Consciência.
Uma Consciência liberada é uma consciência que desperta, uma consciência desperta. É uma consciência que poderá ver, ouvir, tocar os grandes mistérios da vida e da morte. É uma consciência que poderá experimentar, por si mesma e de forma direta, Isso que é o Real. Isso que é a Verdade. Isso que está além do corpo, das emoções e da mente.
Quando se perguntou ao Grande Kabir Jesus “o que é a Verdade”, Ele guardou silêncio. E quando fizeram a mesma pergunta ao Buda Gautama Sakyamuni, o príncipe Siddharta, deu as costas e se retirou.
A verdade é o desconhecido de momento a momento, de instante em instante. Só com a morte do Ego vem a nós Isso que é a verdade. A verdade tem que ser experimentada, como quando alguém põe o dedo no fogo e se queima.
Uma teoria em relação à verdade, por bela que seja, não é a verdade. Uma opinião sobre a verdade, por muito venerável e respeitável que seja, tampouco é a verdade. Qualquer idéia que tenhamos sobre a verdade não é a verdade, ainda que seja bem luminosa. Qualquer tese que possamos formular com relação à verdade tampouco é a verdade.
A verdade tem que ser experimentada, repito, como alguém põe o dedo no fogo e se queima. Está além do corpo, das emoções e da mente. A verdade só pode ser experimentada em ausência do Eu psicológico. Sem haver dissolvido o Eu, não é possível a experiência do Real.
O intelecto, por brilhante que seja, por mais teorias que possua, não é a verdade. Como disse Goethe, em seu Fausto, “Toda teoria é cinza; só é verde a árvore de dourados frutos que é a vida”.
Assim, nós necessitamos desintegrar o Ego da psicologia. Só assim poderemos experimentar a Verdade. Jesus, o Cristo, disse: “conhecei a Verdade, e ela vos fará livres”. Nós necessitamos experimentá-la diretamente.
Quando alguém realmente consegue destruir o Ego, libera-se da Lei de Recorrência, faz de sua vida uma obra-prima, converte-se em um gênio, em um iluminado, no sentido mais completo da palavra.
Quando alguém libera sua Essência, é óbvio que consegue a verdade. A Essência deve ser liberada. E não é possível liberá-la se não dissolvemos o Eu da psicologia. Os que louvam o Eu são ególatras por natureza. O Eu é adorado pelos mitômamos, porque são mitônamos. O Eu é adorado pelos paranóicos, porque são paranóicos. Pelos ególatras, porque são ególatras.
A vida sobre a face da Terra seria diferente se nós dissolvêssemos o Ego, o Eu. Então a Consciência de cada um de nós, desperta e iluminada, irradiaria Amor e haveria paz sobre a Terra. A paz não é questão de propaganda, nem de apaziguamentos, nem de exércitos nem de O.E.A., nem de O.N.U., ou nada semelhante. A paz é uma substância que emana do Ser, que vem das próprias entranhas do Absoluto.
Não pode haver paz no mundo, não pode haver verdadeira tranquilidade em todos os rincões da Terra, enquanto os fatores que produzem guerras existam em nosso interior.
É claro que, enquanto dentro de cada um de nós haja discórdia, no mundo haverá discórdia. A massa não é mais que uma extensão do indivíduo; o que é o indivíduo, é a massa, e o que é a massa é o governo, é o mundo. Se o indivíduo se transforma, se o indivíduo elimina de si mesmo os elementos do ódio, da violência, da discórdia, etc, se consegue destruir o Ego, para que sua Consciência fique livre, só haverá nele Isso que se chama Amor.
Se cada indivíduo dissolvesse o Ego, as massas seriam massas de Amor. Não haveria guerras, não haveria ódio. Mas, em verdade, não poderá haver paz no mundo enquanto exista o Ego.
Alguns afirmam que, do ano 2.001 ou 2.007 em diante, virá uma era de fraternidade, de Amor. Mas eu, pensando aqui em voz alta, pergunto a mim mesmo e pergunto a vocês: de onde vamos tirar essa era de fraternidade, de paz entre os homens de boa vontade?
Vocês crêem que o Ego da psicologia, com seus ódios, com seus rancores, com suas invejas, com suas ambições, com sua luxúria, pode criar uma Idade de Amor, de felicidade, etc, etc?
É óbvio que não. Para que reine de verdade a paz neste mundo, temos que morrer em nós mesmos, destruir o que temos de inumano em nós; o ódio que carregamos, as invejas, os ciúmes espantosos, essa ira que nos faz tão abomináveis, essa fornicação que nos faz bestiais, etc, etc.
Enquanto tais fatores continuarem existindo dentro de nossa Psique, o mundo não poderá ser diferente. Ao contrário, se tornará pior, porque através do tempo o Ego irá se tornando cada vez mais poderoso, mais forte e conforme o Ego se manifeste com mais violência, o mundo irá se tornando mais tenebroso.
Do jeito que vamos, se não trabalharmos sobre nós mesmos, chegará o dia em que nem sequer poderemos existir, porque nos destruiremos violentamente uns aos outros.
Se se continuasse robustecendo indefinidamente o Ego, assim como vamos, chegaria o momento em que ninguém poderia ter segurança de sua vida, ou seu lar. Um mundo onde a violência terá chegado ao máximo, e onde ninguém poderá ter segurança de sua existência.
Assim, creio firmemente que a solução de todos os problemas do mundo está precisamente na dissolução do Eu.
(Samael Aun Weor, Os Mistérios da Vida e da Morte)
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Que dos céus caiam chuvas de bençãos sobre ti,
que possas senti-las nas palmas da mão e conserva-las no
coração.
Grata por sua visita!
Nadja Feitosa