Rumi- Visao de Osho
"Rumi diz: "Mova-se internamente, mas não se mova do jeito que o medo manda."
As palavras de Mevlana Rumi são extremamente significativas. Foram muito poucas as pessoas que se mostraram capazes de mover e transformar tantos corações quanto Jalaluddin Rumi.
No mundo dos sufis, Mevlana é o imperador. Suas palavras não têm sido recebidas como simples palavras, mas como fontes de profundos silêncios, ecos das canções mais interiorizadas. Ele é o maior dançarino que já houve no mundo. Mil e duzentos anos se passaram desde que viveu.
Sua dança é um tipo especial de dança. É uma espécie de turbilhão, do jeito que as crianças rodopiam; de pé no mesmo lugar, elas giram e giram sem parar. E talvez no mundo inteiro as criancinhas façam exatamente a mesma coisa, e os mais velhos tentam detê-las, dizendo: Você vai ficar tonto, vai cair, vai se machucar; ou então perguntam: Qual o sentido de fazer isso?
Jalaluddin Rumi transformava o rodopio em meditação. Aquele que medita fica rodopiando durante horas - enquanto o corpo permitir; não para por vontade própria. Rodopiando chega um momento em que se vê absolutamente quieto e silencioso, no centro do ciclone. Ao redor do centro, o corpo movimenta-se, mas há um espaço que se mantém parado; é este o seu ser.
O próprio Rumi rodopiava durante 36 horas sem parar a e caía, pois o corpo já não aguentava mais rodopiar. Mas, ao abrir os olhos, ele era um outro homem. Centenas de pessoas se haviam juntado para ver. Muitos achavam que ele era louco: Qual o sentido de rodopiar?
...Ninguém pode afirmar que é uma oração; ninguém pode dizer que é uma linda dança; ninguém poderia dizer que de alguma forma isso tem a ver com religião, espiritualidade...
Mas depois de 36 horas vendo Rumi tão luminoso, tão radiante, tão renovado, com tanto frescor - renascido, numa nova consciência - eles não acreditavam no que estavam vendo. Centenas de pessoas choravam de arrependimento, pois tinham pensado que ele estava louco. Na verdade, ele estava sadio e eles, loucos.
E ao longo desses doze séculos, o fluxo se tem mantido vivo. São muito poucos os movimentos de crescimento espiritual que se mantiveram vivos continuamente por tanto tempo. Ainda hoje, existem centenas de dervishes. Dervish é a palavra sufi que significa sannyas. Sem experimentar, ninguém poderia acreditar que é capaz de conhecer a si mesmo simplesmente rodopiando. Não é preciso austeridade, não é preciso se torturar, simplesmente uma experiência do seu ser mais íntimo, e você será transportado para um outro plano da existência, além do mortal e do imortal. A escuridão desaparece, e existe apenas a luz eterna.
Suas palavras devem ser muito bem entendidas, pois ele não falou muito - só alguns pequenos poemas. É linda esta sua afirmação: "Mova-se internamente, mas não se mova do jeito que o medo manda."
Não se mova do jeito que o medo mada.
Mova-se do jeito que manda o amor.
Mova-se do jeito que a alegria manda -
não por medo, pois todas as chamadas religiões baseiam-se no medo. (...)
A afirmação de Rumi é revolucionária: Não se mova por causa do medo.
Todas as religiões dizem às pessoas: Temei a Deus! (...)
Podemos temer a qualquer um, mas não há por que temer a Deus, pois só podemos nos aproximar de Deus através do amor. Deus não é uma pessoa, mas o batimento cardíaco universal. Se podemos cantar com amor e dançar com amor ... uma atividade banal como rodopiar por amor... A alegria e a celebração são o bastante para alcançar o santuário mais íntimo do ser e da vida.
Todos vocês têm vivido no medo.
Suas relações são determinadas pelo medo. O medo é tão avassalador - como uma nuvem escura cobrindo a sua vida - que você diz coisas que não quer dizer, mas o medo o leva a dizê-las. Um pouquinho de inteligência basta para ver.(...)
Rumi faz um afirmação extraordinária, revolucionária: Mova-se internamente, mas não se mova do jeito que o medo manda. Qual é então o jeito de se mover internamente? Por que não se mover ludicamente? Por que não fazer da sua religião uma atividade lúdica? Por que ser tão sério? Por que não se mover com risos? - simplesmente como criancinhas correndo alegremente atrás das borboletas, sem nenhum motivo.
A cada 24 horas, trade de encontrar alguns momentos livres de medo, o que significa que nesses momentos você não pede nada, não faz nenhum pedido, nenhuma recompensa nem está preocupado com alguma punição; simplesmente desfruta do turbilhão, do voltar-se para dentro.
Na verdade, no início pode parecer um pouco difícil. Ao mover-se um pouco para dentro, você automaticamente se torna alegre, lúdico, entra em estado de oração. Surge em você uma gratidão que nunca experimentou e se abre um espaço que é infinito, o seu céu interior. O seu céu interior não é menos rico que o céu exterior: tem suas próprias estrelas, sua lua própria, seus planetas e sua imensidão, é dotado de um universo tão vasto como o que você pode ver do lado de fora. Você está na confluência de dois universos; um deles do lado de fora, o outro no seu interior. O universo externo é feito de coisas, e o universo interno consiste em consciência, bem-aventurança, alegria.
Mova-se internamente, mas não se mova do jeito que o medo manda, pois o medo não é capaz de mover-se no interior. E por quê? O medo não é capaz de ficar sozinho, e no interior você tem que ficar sozinho. O medo precisa de uma multidão, o medo precisa de companhia, de amigos, até inimigos servem.
Para ficar sozinho, contudo, para ir para o interior, você não pode levar ninguém; precisa ficar cada vez mais sozinho. Não só não pode levar ninguém, como tampouco pode levar coisa alguma. Sua saúde, seu pode, seu prestígio - não poderá levar nada. Nem mesmo suas roupas podem ser levadas para o interior! Você terá de ir nu e sozinho; de modo que o medo não pode mover-se para o interior, o medo se move para fora.
O medo se move para o dinheiro, o medo se move para o poder, o medo se move para Deus; o medo se move em todas as direções, menos para dentro. Para se mover para dentro, a primeira exigência é a ausência de medo. A pessoa não tem de fazer amizade com a escuridão, a morte ou o medo. Tem de livrar-se deles. Têm apenas de dizer adeus para sempre. É o seu apego; a amizade haverá de torná-lo ainda mais profundo.(...)
O medo precisa ser entendido - não é preciso fazer amizade com ele - e então desaparece.
De que você tem medo? Ao nascer você estava nu. Não trouxe consigo nenhum balanço bancário tampouco, mas não estava com medo. Nós chegamos ao mundo completamente nus, mas entramos como um imperador. Nem mesmo um imperador é capaz de entrar no mundo como uma criança. O mesmo se aplica ao movimento de interiorização; é um segundo nascimento; você se torna novamente uma criança - a mesma inocência e a mesma nudez e a mesma ausência de possessividade. Que motivos teria para sentir medo?
Na vida, não podemos ter medo do nascimento. Aconteceu, nada pode ser feito. Não podemos ter medo da vida - ela já está acontecendo, Não podemos ter medo da morte - seja como for - ela virá. Por que então, o medo?
Costumo ouvir sempre uma pergunta, feita inclusive por pessoas esclarecidas:Você nunca se preocupa com o que acontecerá depois da morte? E sempre fico pensando no fato de que são pessoas esclarecidas. E lhes pergunto: Um belo diz, eu não havia nascido - e não havia nenhuma preocupação. Nunca fiquei pensado, nem por um só momento, que tipo de ansiedade, que tipo de angústia, que tipo de problemas poderia ter de enfrentar quando ainda não havia nascido. Eu simplesmente não existia! E é o mesmo caso; quando morremos, morremos. (...)
O medo do que acontecerá quando morrermos é desnecessário. O que acontecer, acontecerá - e de qualquer maneira, nada poderemos fazer antecipadamente. Não sabemos, de modo que não faz sentido ficar fazendo o dever de casa, preparando-nos para as perguntas que terão de ser respondidas ou as pessoas que serão encontradas, aprendendo seus hábitos, sua linguagem... Não sabemos nada; não há por que nos preocupar. Não perca o seu tempo.[ continua...]
Osho em Encontros com pessoas notáveis.
Rumi - Na visao de Osho
"Os seguidores de Rumi não têm grandes escrituras, não têm rituais, exceto o turbilhão, além de alguns belos poemas de Jalaluddin Rumi, que ele costumava dizer depois de rodopiar e cair. Ele se levanta e está tão embriagado - e nessa embriaguez, entoa uma canção, e essas canções foram reunidas. É a única literatura de que dispõem os seguidores de Rumi.
Rumi diz: Nós somos o espelho - é o que tenho dito literalmente; que não somos aquele que faz, somos apenas o espelho. Não se identifique com os seus atos; seja sempre uma testemunha, apenas um observador. Mas as coisas mais essenciais da vida não nos são ensinadas; ensinam-nos as coisas mais estúpidas. O mais essencial é a arte da observação.
Rumi está certo; ele diz: Nós somos o espelho, assim como o rosto que nele se reflete. Somos o observador e o observado. Não existe separação entre nós e a vida. Somos parte de um todo, exatamente como minhas duas mãos fazem parte de uma unidade orgânica. Depende de mim que elas entrem em luta uma com a outra. E depende de mim que vivam amistosamente, amorosas e afetuosas uma com a outra. Posso golpear uma mão com a outra e feri-la.
Ao observar a árvore ou a lua, o rio, o oceano, você é o espelho e também o que é espelhado. É uma mesma existência; É esta conclusão básica de todos os místicos, de que toda a existência é uma única entidade, não existe dualidade. Bem lá no fundo, toda dualidade é unida numa única existência.
Nós somos o espelho, assim como o rosto que nele se reflete.
Estamos sentindo o gosto neste minuto de eternidade.
Simplesmente observe bem, neste minuto. Neste silencio, você sente o gosto de algo que está além do tempo. Estamos sentindo o gosto deste minuto de eternidade. Nós somos dor e o que cura a dor, ambas as coisas. Somos agonia e somos êxtase; Somos céu e somos inferno, pois não existe contradição na vida. Está tudo junto. Somos a deliciosa água fresca e o jarro que a verte.
Muitas contradições podem ser encontradas na vida. E também se pode ver que elas são complementares. É uma coisa muito estranha, o fato de que todos os místicos, tenham nascido há milhares de anos ou estejam ainda vivos hoje em dia, concordam essencialmente quando aos pontos essenciais do crescimento e da realização espirituais.
Por exemplo: o silêncio, neste minuto, não lhe fornecem uma explicação - mas lhe fornece uma experiência; dançar e cantar faz com que fiquemos tão tomados, que não fica nada para trás. E entramos no templo de Deus, onde somos o espelho e o rosto que nele se reflete; onde somos aquele que busca e somos buscadores; onde somos o devoto e somos o Deus a cujos pés nos ofertamos.(...)
Conta-se que algumas pessoas foram caçar e encontraram o campo de Jalaluddin Rumi. Por simples curiosidade, olharam para dentro das portas. Era um jardim murado, e ali perto cem discípulos rodopiavam com Jalaluddin Rumi. Essas pessoas pensaram : São todos loucos! Quem foi que disse que rodopiando é possível alcançar a verdade? Em qual escritura, em qual religião está escrito isso? Não existe nenhum registro a respeito. Esse homem é um louco, e está enlouquecendo muitos jovens.
E seguiram em frente. Caçar era muito mais importante. Com toda evidência, era algo muito mais equilibrado que dançar com Jalaluddin Rumi.
Depois da caça, eles retornaram. Por simples curiosidade pelo que acontecera aos homens-turbilhão, voltaram a dar uma espiada. E foram surpreendidos: aquelas cem pessoas estavam sentadas em silêncio debaixo das árvores, com olhos fechados, como se não houvesse ninguém - silêncio absoluto; dava para ouvir o vento soprando entre as árvores.
E os caçadores disseram: Pobres coitados...acabou. É o que acontece rodopiando : a energia se vai toda embora; agora estão ali sentados como se estivessem mortos; talvez alguns deles já estejam mesmo mortos.
Você pensa que eles começaram a discutir se aquelas pessoas haviam alcançado a verdade? Se ficar sentado daquele jeito com os olhos fechados... Qual a necessidade de rodopiar? Bastava sentar logo no início. E foram embora.
No mês seguinte, voltaram todos para nova caçada. Mais uma vez, por simples curiosidade... Que terá acontecido àquelas pessoas? Será que morreram realmente, ou ainda estão sentadas lá, ou se foram? Que terá acontecido?
E deram uma espiada. Não havia ninguém, só Jalaluddin Rumi lá estava sentado. Eles acharam graça. Disseram: Todo mundo fugiu; devem ter entendido que esse homem é um louco, Ele quase os estava matando, com toda essa dança e esse rodopio. Parece que ele entende mesmo do riscado, 36 horas sem parar... qualquer um estaria morto a essa altura! Nada de intervalo para o café, o chá, simplesmente ficar rodopiando sem parar...
Resolveram então entrar e perguntaram a Jalaluddin Rumi: O que aconteceu a seus discípulos? Passamos aqui a um mês atrás e havia um grupo de pelo menos cem pessoas!
Jalaluddin Rumi respondeu: Eles dançaram, encontraram , absorveram e se espalharam pelo mundo para disseminar a mensagem.
E o que está fazendo? perguntaram.
Ele respondeu: Estou esperando a segunda leva. Minha gente se foi, mas voltará pra trazê-la."
Osho em Encontros com pessoas notáveis.
"Os sufis dizem que se um homem não tem consciência, nada pode ser ensinado.
Sufi significa consciência na vida, consciência num plano mais elevado do qual normalmente vivemos.
Um mestre não reajusta a sua mente, ele o ajuda a dissolvê-la livre de
condicionamentos, leis, sociedade. Ele lhe dá liberdade.
Quando a pessoa começa a se peguntar o que é a religião verdadeira, o
que é o verdadeiro Deus, ela se transforma em um buscador sufi.
Não há nenhum significado existindo na vida, alguém tem de criá-lo
A verdade religiosa não é uma coisa. É um significado e um sentido.
Cada pessoa deve ir atrás dela para descobri-la e explorá-la.
O conhecimento é uma teoria, o conhecer uma experiência: conhecer quer dizer que você abre os olhos e você vê.
Conhecimento significa que quem abriu os olhos viu e fala sobre isso e continua a acumular informações.
Os sufis dizem que se uma pessoa quer renunciar a algo, deve renunciar ao conhecimento que acumulou na memória. Essa é a verdadeira barreira para se tornar como crianças, um inocente.
Toda existência é de cada pessoa, Ela deve explorá-la sem nenhum preconceito e filosofia, mantendo a mente aberta, e assim ficará surpresa por descobrir que
Deus existe."
Osho em A sabedoria das Areias