Ricardo Gondim




Londres, Inglaterra, WestminsterRicardo Gondim

O mistério do Tempo sempre me intrigou. Aliás, desde que deparei, pela primeira vez, com o pensamento de Agostinho, em que o bispo africano separava o Tempo em duas dimensões, o eterno e o histórico, passei a pesquisar o tema.“O tempo é uma realidade encerrada no instante e suspensa entre dois nadas” Foi assim que Gaston Bachelard interpretou a frase do historiador francês Gaston Roupnel (1872-1946): “O tempo só tem uma realidade, a do Instante”.
Jorge Luis Borges, em Historia da Eternidade”, afirmou que “o tempo é um problema para nós, um terrível e exigente problema, talvez o mais vital da metafísica; a eternidade, um jogo ou uma fatigada esperança”. Borges referia-se ao Timeu de Platão para concluir que “o tempo é uma imagem móvel da eternidade; e isso é apenas um acorde que a ninguém distrai da convicção de ser a eternidade imagem feita de substância de tempo”.
Em diversas tradições religiosas e filosóficas o tempo foi cíclico, uma roda que se repete perpetuamente; uma inútil vaidade que transparece na tardia influência grega no Eclesiástes: “Gerações vêm, gerações vão, mas a terra permanece para sempre. O sol se levanta, o sol se põe, e depressa volta ao lugar de onde se levanta. O vento sopra para o sul e vira para o norte; dá voltas e voltas, seguindo sempre o seu curso. Todos os rios vão para o mar, contudo, o mar nunca se enche; ainda que sempre corram para lá, para lá voltam a correr. Todas as coisas trazem canseira…” (Eclesiastes 1.4-8).
O próprio Borges, sem se referir ao texto BIBLICO, previu que as “eternidades platônicas correm o risco de se tornarem insípidas”. Realmente, se tudo se repete num fluxo e refluxo monótono, o destino se torna inevitável. Se o tempo só fica no vai-e-vem, sobra o fatalismo – que é frio, insípido, chato.
O tempo grego, como uma engrenagem, também é trágico. E por trágico quero dizer, inexorável. Se a passagem do tempo não passa de uma roda dentada, encaixada noutras rodas, o futuro já é. E se o futuro já é uma realidade não há como escapar dele. Tragédia se popularizou pela antiguidade ocidental como um gênero literário porque lidava com o tempo como trilho de aço. Mulheres e homens podiam espernear contra sua sina, mas o mundo superior estava pronto, e, portanto, não permitia mudanças. Eis o motivo porque as forças impessoais que movem o cosmo, que regem a eternidade e que aguilhoam o tempo se tornaram inamovíveis para o mundo helênico. (O que será, será).
Mas, para o rabino britânico Jonathan Sacks, Tragédia não tem equivalente na literatura hebraica ou bíblica; no “judaísmo não há destino inevitável”. Na literatura semita o futuro estava sempre aberto para mudanças. Arrependimento, inclusive, passou a valer como um câmbio no comportamento que altera possíveis desdobramentos. Um tipo de futuro, de acordo com as decisões tomadas no presente, pode deixar de existir. Profetas saíam pelas ruas de Israel e Judá conclamando o povo a mudar o amanhã. Nada tinha que ser como se prenunciava. Profetizar era tarefa árdua pelo simples fato de convocar aquela geração a ver-se responsável pela seguinte.
Infelizmente o cristianismo perdeu de vista a cosmogonia semítica para adotar, acríticamente, a grega. Agostinho, que bebeu mais das águas filosóficas neoplatônicas do que das narrativas judaicas, desenvolveu sua teologia considerando passado e futuro, eternamente, como um “Agora” perene – um presente contínuo.
Para Agostinho, tudo foi providencialmente “escrito e determinado” por Deus e nada ou ninguém pode alterar o que já está pronto. Em seus pressupostos, Agostinho acreditava que toda a realidade já pode ser contemplada pelo Deus eterno como uma coisa só. Passado, presente e futuro acontecem num bloco de realidade. Passado, presente e futuro aos olhos de Deus são realidades simultâneas, portanto, fixas.
Por outro lado, o historiador das religiões Mircea Eliade, ao comparar, por exemplo, o cristianismo com o hinduísmo, afirmou que: “Para um hindu simpatizante do cristianismo, a inovação mais espetacular (se deixamos de lado a mensagem ou a divindade do Cristo) consiste na valorização do tempo, em última análise na salvação do tempo e da história”.
Para Eliade, o cristianismo renuncia a reversiblidade do tempo cíclico para impor um tempo irreversível. Eliade cria na irreversibilidade do tempo não no sentido de estar já pronto, mas por ser linear. O tempo é um devir, um linha que vai se alongando. O tempo, no cristianismo, segue adiante. Se o tempo segue, cada instante tem o valor de uma eternidade.
“Pois desta feita as hierofanias manifestadas pelo tempo não podem ser repetidas: o Cristo viveu, foi crucificado e ressuscitou uma única vez”. O evento crístico portanto significa uma cunha irrepetível na linha do tempo. Eliade, assim, aproxima o cristianismo do pensamento de Gaston Bachelard: “Daí vem uma plenitude do instante, a ontologização do tempo: o tempo consegue ser, o que quer dizer que ele para de tornar-se, que se transforma em eternidade”
Vinicius de Moraes também intuiu, acertadamente sobre marcar o instante como infinito na sua efêmera duração. Ele poetizou: “Eu possa dizer do meu amor (que tive): Que não seja imortal, posto que é chama. Mas que seja infinito enquanto dure”.
Para Eliade o evento distintivo que, por assim dizer, “eterniza” o instante seria o momento favorável. A experiência de vivenciar algo que, por tão caro, deveria se repetir, mas não se repete. “O instante transfigurado por uma revelação (quer chamemos ou não este “momento favorável” de Kairós).
Assim, se na poesia o amor confere ao instante um valor eterno, na fé cristã a manifestação de Deus na história, sua intenção salvadora (soteriológica) confere plenitude ao tempo. Há um evento que pode ser considerado o zênite, irrepetível, único, singular: a encarnação. “Como poderia ser inútil e vazio o Tempo que viu Jesus nascer, sofrer, morrer e ressuscitar? Como poderia ser reversível e repetir-se ad infinitum?” (Eliade).
A distinção que distinguirá o cristianismo do judaísmo, portanto, vem do acontecimento histórico que “revela o máximo de trans-historicidade: Deus não intervém apenas na história, como foi o caso do judaísmo; ele se encarna num ser histórico para sofrer a existência historicamente condicionada; aparentemente, Jesus de Nazaré não se diferencia em nada de seus contemporâneos da Palestina. Na aparência, o divino é totalmente oculto na história: nada deixa entrever na fisiologia, na psicologia ou na ‘cultura’ de Jesus, o Deus Pai em si; Jesus come, digere, sente sede ou calor como qualquer outro judeu da Palestina. Mas, na realidade ‘ esse acontecimento histórico’, que constitui a existência de Jesus é uma teofania total…” (Eliade).
Borges conclui, formidavelmente, em “Nova Refutação do Tempo” que não se pode imaginar ou experimentar o tempo como mera simultaneidade: “And yet, and yet… Negar a sucessão temporal, negar o eu, negar o universo astronômico são desesperos aparentes e consolos secretos. Nosso destino (ao contrário do inferno de Swedenborg e do inferno da mitologia tibetana) não é terrível por ser irreal, é terrível porque é irreversível e férreo. O tempo é a substância de que sou feito. O tempo é um rio que me arrebata, mas eu sou o rio; é um tigre que me despedaça, mas eu sou o tigre; é um fogo que me consome, mas eu sou o fogo. O mundo, infelizmente, é real; eu, infelizmente, sou Borges”.
Deus encarnou na história, se exilou no mundo, se esvaziou em seu Filho. No tempo, andou manso e humilde entre mulheres e homens para que se reconceituesse a percepção da história. No cristianismo não há fatalismo. Assumisse-se responsabilidade com o futuro (seremos complacentes ou transformadores?).
Eu não conseguiria fazer teologia sem dialogar com tais conceitos. Creio na linearidade histórica, plena de contingências existenciais; na liberdade de um mundo que Deus soberanamente organizou, pleno de surpresas e quanticamente aleatório.
Soli Deo Gloria

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Bibliografia:

Eliade, Mircea – Imagens e Símbolos – Martins Fontes, São Paulo, 2002.
Borges, Jorge Luis – Obras Completas, Tomos I e II, Editora
Ricardo Gondim



Milhões vivem com algemas invisíveis. Sem delito que os condenem, não conseguem enfrentar inimigos inexistentes. Tornaram-se prisioneiros de seus próprios corações. Vivem dentro de cerca que eles próprios ergueram. Aceitam o grito imaginário de um general que nunca nasceu, apavoram-se com o rugir de leões empalhados. Temem o veneno de cobras mortas.
Um estado de espírito negativo tornou-se-lhes uma realidade mais cruel que a crueldade da vida. Um pessimismo mental que determina a priori, que o futuro permanecerá nebuloso. Eles pensam na inevitabilidade do impossível, na improbabilidade do que é difícil e na inviabilidade de seus sonhos, e assim é a vida pra eles.
Coragem é não se aquietar; timidez é aceitar domesticar-se. Agora estou convicto de que o mundo pertence àqueles que aceitam acrriscar sua própria existência para atingirem o que desejam. Esses formam a grande comunidade da qual o mundo não é digno.
Extraído do livro Não desperdice sua vida
Ricardo Gondim
Ricardo Gondim
Tolstói iniciou Anna Karenina com uma das mais espetaculares afirmações da literatura: ”Todas as famílias felizes se parecem umas com as outras, cada família infeliz é infeliz à sua maneira”. A felicidade é indistinta, mas a tristeza carrega particularidades específicas. Ao longe, os cenários são belos; próximos, expõem detritos horrorosos. De perto, o lixo fede. Narrativas universalizantes foram incapazes de retratar dramas pessoais –vivenciados na dura realidade cotidiana.
Filosofia e teologia se especializaram em grandes narrativas para lidar com o sofrimento. Esqueceram as pequenas realidades. No microcosmo, gente com nome,história e laços de amor geme. Oprimidos em inúmeros cativeiros, os judeus cantavam: “Quem são homens e mulheres para que Te lembre deles? Onde Te escondeste, ó Senhor?”.
Voltaire afirmou que se há vida em outros mundos, a terra é o manicômio do universo. Segundo a ONU, dois milhões morrem de fome a cada dia– eu disse: cada dia. Estima-se que só na Europa, 500 mil mulheres sejam traficadas a cada ano – a maioria para exploração sexual. (as brasileiras engrossam as estatísticas no Velho Continente e somam 75 mil, o equivalente a 15% das vítimas). O que fazer com a cólera no Haiti, a malária na África, a guerra civil no Sudão, a perseguição religiosa no Afeganistão, o consumismo e a indiferença na Europa e os homicídios do México ao Brasil?
O palácio dos horrores baixou a ponte. Cavaleiros do Apocalipse entram em cena a galope. De tão barata a vida, milhões e milhões de famílias, à sua maneira, experimentam o inferno.
A prece mais religiosa para esta geração deve ser: “Deus, por que não invades logo o monturo que se transformou este planeta? Por que o Senhor não acaba com o ato desse teatro macabro? A peça já se arrasta além do necessário. O preço que cobras por teres nos criado imperfeitos não está alto demais?”.
Que volte o hino do negro spiritual: “Não se te dá que morramos? Como podes assim dormir?”.
Se existe outro mundo possível, onde se esconde? Por que os mínimos sinais de um reino alternativo sempre foram imprecisos? Por que o bem se perdeu em instituições adoecidas? Nada explica a ganância ser maior que a fome de justiça.
Além da indiferença do universo, anônimos sofrem com a burocracia estatal – burocracia fria. Oligarquias se reinventam para manter o poder nas mãos dos mesmos. Estruturas se satanizam. Instituições legitimam processos de alienação. O mal se multiplica com facilidade. O bem consome a vida dos poucos que se atrevem concretizá-lo.
A história segue. Ruma ao grande abismo. T. S. Eliot perguntou: “Onde está a vida que perdemos vivendo?
Onde está a sabedoria que perdemos no conhecimento?
Onde está o conhecimento que perdemos na informação?”. Insana, a humanidade se debate sem sequer buscar antídoto para o veneno que a destrói.
Quantos se dispõem quebrar o sistema que abandona crianças à miséria? Mulheres violentadas e idosos abandonados continuarão sem terem quem os vingue? A coerência que justifica o mal será desfeita quando?
Milhões se entorpecem. Tateiam em busca de respostas nos lugares errados. Consumismo junto com as indústrias do esportismo e do “celebrismo” servem para perpetuar a ilusão de que no fim tudo vai dar certo. Estupidez. Quinquilharias tecnológicas salvam e alienam. Erudição ilustra e ilude. Enquanto a mão esquerda escreve poesia, a destra declara guerra.
Vaidosa, a atual geração se considera pouco menor do que os anjos. Só não vê a própria cara desfigurada – monstro de iniquidade.
Os caminhos humanos não apontam para um progresso inexorável; não desembocam, necessariamente, em estrada alguma. Nada garante que o rio da história alcance o oceano do sentido.
O planeta terra parou de brilhar; há muito não embeleza o universo. A eternidade não guardará registro do tempo fugaz dos humanos por aqui. As perguntas que a racionalidade fez foram insuficientes para chegar à verdade. A pouca solidariedade partilhada malogrou em redimir o ódio. Livros da história produziram melancolia por um passado de ouro, apenas. A clemência da geração que sucedeu ao holocausto se revelou impotente para evitar outros genocídios. A ciência não conseguiu reverter o inconsciente coletivo, que ainda viabilizará novas chacinas.
O Nazareno acertou: em todos os dias cabe um mal próprio. Sendo assim, séculos não aliviarão a tragédia da geração atual. Não por acaso os pobres, conscientes de seu sofrimento, devem voltar a clamar: “Maranata – não te demores, Senhor”.



Soli Deo Gloria
Ricardo Gondim
“Bem aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra”


Palavras morrem, deixam de comunicar, perdem o sentido. Certas virtudes têm a mesma sorte. Caem em desuso. O passar dos anos as joga no ostracismo. Reviravoltas culturais,economicas, ideológicas fazem com que certos valores, outrora considerados nobres, pareçam irrelevantes. Falar de mansidão, por exemplo, soa piegas hoje em dia. Em algum mosteiro talvez um futuro candidato à beatificação ainda considere o projeto de ser manso. Quem mais, no mundo, ambiciona o anonimato? Humildade lembra demagogia. Ser simples? Uma fraqueza!
Em “Humano, demasiado humano”, Nietzsche conta a história de um homem medroso e covarde. Faltava-lhe a intrepidez de contradizer os companheiros de partido. “Tinha mais medo da opinião de seus camaradas que da morte. Era um lamentável espírito fraco”. Seus camaradas perceberam então que a covardia dele seria útil. Primeiro o trataram como herói e por fim, mártir. Mas ele permanecia um fraco. Interiormente dizia não enquanto repetia o que os outros desejavam. Mesmo no cadafalso, a instantes de morrer, não deixou de repetir o sim dos pusilânimes. “Ao lado dele, estava um dos seus velhos camaradas, que o tiranizava tanto pela palavra e o olhar, que ele sofreu a morte de maneira mais decente e, desde então, é homenageado como mártir e grande personalidade”. Uma possível lição dessa história é que quem pensa com liberdade, mas adequa o discurso por conveniência, não é humilde, apenas um coitado. Até o absurdo do martírio legitima falsos conceitos de humildade.
Mansidão é, entre as virtudes brandas, uma das mais aviltadas. Fraudada, chancela subserviência. Todo vassalo adora passar por manso. Tomado pelo espírito de rebanho, prefere andar de cabeça baixa. Cai-lhe bem merecer pena. Detalhe: sua voz branda esconde um ego gigantesco. Ele só pensa em preserva-se. Cordato, repete frases testadas, pois precisa dar-se bem com os donos do poder. Na candura, encarna o pacato dissimulado. Que “não inventa nada, não cria, não empurra, não rompe, não engendra; mas em contrapartida, custodia zelosamente a armadura de automatismos, pré-juízos e dogmas acumulados durante séculos…” (José Ingenieros).
O falso humilde consegue ser modesto. Para quem usa a humildade como degrau, pudor se torna imprescindível. Alguns sossegados metem medo. Quem se acostumou às águas serenas nunca vai propor tese alguma que balance a jangada. Assim, munido de semblante plácido, ele deixa o ambiente pronto para obviedades. Melhor desfrutar das opiniões alheias – quanto mais antigas melhores – do que condenar-se ao tumulto que assola os inquietos. Supostos humildes nunca desaprovam o poder político nem ousam denunciar qualquer blasfêmia social.
Nietzsche afirmou em “Gaia Ciência:
Existe, frequentemente, em suma, uma espécie de humildade receosa, que, quando nos aflige, nos torna para sempre impróprios para as disciplinas do conhecimento. Porque, no momento em que o homem que a transporta descobre uma coisa que o choca, dá meia volta, seja como for, e diz consigo: “Enganaste-te! Onde é que tinhas a cabeça? Isso não pode ser verdade!” De forma que em vez de examinar mais de perto e de ouvir com mais atenção, desata a fugir completamente aterrado, evita encontrar aquilo que o choca e procura esquecê-lo o mais depressa possível. Porque eis o que diz a sua lei: “Não quero dizer nada que contradiga a opinião corrente. Serei eu feito para descobrir novas verdades? Já há demasiadas antigas”.
A verdadeira simplicidade é, antes de tudo, corajosa; destemida, embora não considere nunca as armas do violento. O simples sabe a força que se esconde na singeleza. Quem se vale de armas malignas para impor a vontade se torna igual ao maligno que as empunha. A espiral da barbárie acontece quando mansos passam a recitar a cartilha que ensina combater violência com mais violência.
As maiores ameaças à humanidade nascem da sedução do poder. Poder, – Atenção: anjos, senhoras e senhores – é sempre uma ameaça. Nele está o veneno da arrogância. Guerras e injustiça se universalizaram porque o mundo enfiou o pé na lógica de que a sobrevivência da espécie depende da subjugação do outro pela força.
Selvageria difere do amor. No centro do universo não predomina a barbárie. Deus é amor. O ato criador primeiro, o fiat lux, só pode ser concebido na gratuidade. E quem cria (ou procria) renuncia à potência. Simone Weil afirmou: “Se Deus almejasse afirmar-se a partir da potência, nada existiria senão ele próprio”. Deus precisou abrir espaço para o imperfeito, “se retirar”, como escreveu a filosofa francesa. Em seu passo para trás, na kenosis, o Pai possibilita a história – os processos de humanização.
Fragilidade vem de Deus. Ela suscita docilidade, docilidade cria diálogo e diálogo faz amigos. Deus quer amigos, apenas. Toda altivez é solitária. Só a humildade escancara os salões da convivência. Empáfia, insensível, míope e surda, não passa de eufemismo para inferno.
O simples pede: “me ensine, eu quero crescer”; já o soberbo retruca: “Nada me resta para aprender”. O manso se mostra flexível porque se reconhece limitado. A rigidez do poderoso o infantiliza; ensimesmado, ele embrutece, enquanto o singelo se habilita para a vida.
Simplicidade e contentamento vivem sob o mesmo teto. O simples não se encanta com o assobio da opulência, ele só quer navegar, despretensiosamente, vida a fora. Não liga se não conseguir assento entre os altivos. Indiferente a cetros, coroas e castelos, sabe valorizar o instante.
 E assim, disposto a perder a vida, herda a terra.






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